Seminário de Desenvolvimento Econômico: soft skills são consideradas o petróleo da próxima década, afirma especialista

por Tatiane Souza última modificação 18/11/2019 14h32
13/11/2019 – As competências comportamentais e sociais são as características que definirão os profissionais de sucesso em curto prazo. Responsável pela oficina Soft Skills, o professor de pós-graduação da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) Fábio Catarino Serrano trouxe mais detalhes sobre essas habilidades durante a realização do 2º Seminário de Desenvolvimento Econômico de Novo Hamburgo, na manhã desta quarta-feira, 13, no Plenário da Câmara.
Seminário de Desenvolvimento Econômico: soft skills são consideradas o petróleo da próxima década, afirma especialista

Foto: Daniele Souza/CMNH

Ele começou explicando a diferença entre soft e hard skills. “Soft é macio, leve, flexível. É aquilo que a gente tem e que não pode ser medido com certificação, prova ou coisas tangíveis, porque são habilidades humanas. É o que vai fazer a diferença. Já as hard são as nossas habilidades técnicas, mais fáceis de medir, pesar e controlar”, diferenciou. 

Ele fez uma provocação aos presentes ao informar que 2 bilhões de empregos vão deixar de existir até 2030. E 2 bilhões de pessoas vão migrar para outros empregos ou para um novo emprego que ainda será criado. Serrano destacou também, no início do painel, que outra mudança importante que ocorreu na sociedade é que as pessoas deixaram o patamar de apenas consumidores para também produtores de informação. “Isso era inimaginável há cerca de 20 anos. A tecnologia foi se popularizando, barateando e mais pessoas foram tendo acesso a computadores e celulares. Junto, veio a popularização da internet”, apontou. Ele também destacou a força que as redes sociais assumiram atualmente.

Automação 

Segundo o painelista, 51% das tarefas podem ser automatizadas em algum nível hoje em dia. Mas menos de 5% delas poderiam ser totalmente substituídas por máquinas. Isso quer dizer, explica Serrano, que o número de empregos não diminuiu com a automatização, mas provoca uma mudança na forma como as atividades são desenvolvidas. 

Os bots, diminutivo de robôs, estão por todos os lugares. Apps realizarão tarefas que demandam interação, porque entendem contextos e estão agindo como humanos agiriam. A Amazon usa 30 mil robôs nos seus depósitos globais para substituir o trabalho humano em lugares insalubres, e isso proporciona uma economia de 2,5 bilhões de dólares. Mas todo bot é pensado e desenvolvido por engenheiros e outras pessoas que estudaram para isso”, exemplificou, ao explicar que o trabalho humano não é descartado, mas otimizado para processos mais complexos. Ele também trouxe o exemplo da machine learning. Usando dados e informações de pacientes, a máquina, que processa tudo muito rápido, é capaz de emitir diagnósticos como câncer ou detectar probabilidade de uma pessoa ter ou não um ataque cardíaco. “A máquina não aprende sozinha, há médicos, pesquisadores e estudiosos que ensinam ela a pensar”, reiterou. 

Embora todas as mudanças que já estão acontecendo e que ainda estão por vir no mercado de trabalho, Serrano questiona como as empresas estão pensando as pessoas. E enfatiza que alguns empregos serão irrelevantes, mas que a bagagem que a pessoa tem não deveria ser descartada, mas reaproveitada de outra forma, inclusive melhor. 

Profissões que podem sumir:

- Motoristas, substituídos por carros autônomos;
- Fazendeiros, substituídos por máquinas automáticas e drones de alta precisão para a pulverização das plantações;
- Caixas de banco, substituídos por home banking, aplicativos e caixas eletrônicos;
- Carteiros;
- Agentes de viagem;
- Despachantes e cartorários;
- Trabalhadores de fast food, substituídos por robôs e impressoras 3D;
- Telemarketing, substituídos por robôs;
- Contadores, substituídos por sistemas contábeis com grande poder computacional que permitam, por exemplo, fazer a contabilidade de uma empresa.

Isso é um problema? Serrano destaca que tudo depende da maneira como a pessoa vê a situação e da capacidade que ela tem de se adaptar às mudanças. “Mesmo a partir da década de 1950, quando as mulheres entraram no mercado, não faltou trabalho. Mas, agora, o que as empresas de automação do Vale do Sinos têm feito com a pessoa que está sendo substituída pela máquina?”, questionou aos presentes, ao ressaltar que automatizar uma parte da rotina humana traz diversos benefícios. “Automatizar talvez tire uma parte do trabalho, mas, com certeza, gera muitos outros”, considerou.

Trabalho de casa 

O painelista avalia que 75% dos millennials, pessoas nascidas a partir da década de 1980, gostariam de trabalhar de casa ou de outro lugar onde se sentissem mais produtivos. “Mas continuamos vendo empresas obrigando as pessoas a baterem cartão-ponto, saírem para o almoço, e algumas fazem até cronograma para ir ao banheiro e controle do café e do acesso à internet. Assumem um molde de gestão humana igual aos anos 1960, em vez de colocarem recompensa por metas, por exemplo”, criticou Serrano. O trabalho informal, conhecido como freelas, também estão crescendo. Com uma realizada não muito diferente do Brasil, espera-se que nos Estados Unidos, até 2020, 43% da força de trabalho não tenha vínculo formal. E 10% das maiores empresas no país serão virtuais até 2030.

A nova geração

Sobre a força de trabalho do futuro, o professor da IENH destacou que 65% das crianças que hoje estão na educação básica trabalharão em coisas que não existem. Em contrapartida, “estamos educando para que trabalhem em coisas que existem, empregos encaixados. Estamos ensinando habilidades técnicas e não soft skills". 

Em relação aos millennials, destacou que 75% aceitaram um corte salarial para trabalhar em uma empresa social e ambientalmente responsável. “Já é comprovado que trabalhadores que mais inovam são os que não precisam ficar presos ao ambiente de trabalho, que têm mais flexibilidade em escolher onde e como trabalhar”, defendeu. 

A importância das soft skills 

Serrano explicou que as soft skills são, atualmente, a principal causa de contratação ou demissão das empresas. E de desempate em uma entrevista de emprego. Há muitas pessoas tecnicamente perfeitas, segundo ele, mas sem condições de atuar em um ambiente de trabalho porque não têm soft skills. “O que preciso fazer? É preciso desenvolver a capacidade de comunicação, ter sentimento de empatia com os demais. Quem vai fazer diferença para o mundo serão as pessoas com soft skills. O robô não sabe fazer isso. O computador faz sempre a mesma coisa. Não tem criatividade. Não é persuasivo, não tem a capacidade de se comunicar, de trazer argumentos”, salientou o painelista. 

Outra característica importante do profissional do futuro é saber gerir seu tempo. “Há uma série de formas de se fazer isso, como organizar melhor a rotina de trabalho para realizar mais coisas em menos tempo. As pessoas estão se distraindo mais com coisas que no passado não existiam, como o celular. A inteligência emocional, a comunicação não violenta e a capacidade de reagir a acontecimentos inesperados também são levados em conta”, disse.

12 profissões em alta até 2022:

- Analista de dados;
- Cientista de dados.
- Desenvolvedor de sistemas;
- Desenvolvedor de aplicativos;
- Especialista em e-commerce;
- Especialista em redes sociais; 

Entre essas, são dependentes de habilidades sociais:

- Atendimento ao cliente;
- Vendas e marketing;
- Treinamento e desenvolvimento;
- Pessoas e cultura;
- Desenvolvimento organizacional;
- Inovação.

Aberto o painel a questionamento dos presentes, Serrano foi indagado se ainda há espaço no mercado para pessoas com mentalidade tradicional. A resposta foi positiva, embora admita que esses profissionais tenham mais dificuldades em progredir. "Expostos a situações de imprevisibilidade, têm dificuldade de se adaptar a mudanças e gastam mais energia para atingir os objetivos”, concluiu.

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