Seminário: Painel revela que jovens estão mais escolarizados, mas remuneração não acompanha a alta
O mediador abriu os trabalhos destacando que muito se fala em juventude, mas pouco eles são escutados. “Hoje teremos a oportunidade de fazer esta escuta. A juventude enquanto como uma condição, uma categoria social, sequer era estudada. Felizmente, nas últimas duas décadas, ela passou a ser um campo de muito estudo e pesquisa. O mundo do trabalho precisa ouvi-los, os educadores, a universidade e a sociedade. O Brasil hoje passa por um bônus demográfico de 50 milhões de jovens de 15 a 29 anos, e isso é uma oportunidade única para pensar o futuro da sociedade e de questões que discutimos tanto: educação, inovação, qualificação. O desafio é muito grande”, refletiu Gabriel Grabowski.
Contexto nacional e mundial
Arthur Lazzaroto fez uma contextualização macro do mundo e do Brasil sobre quem, onde e como estão os jovens hoje em dia, categoria, segundo o pesquisador, tão plural. Ele trouxe um artigo da colunista Pilita Clark, publicado no jornal Valor Econômico, questionando por que a juventude anda desiludida e desengajada. No documento, Pilita também faz uma análise se as exigências de funcionários mais jovens aos empregadores são exageradas – e como os líderes poderiam agir.
Outras matérias de jornais do mundo todo foram trazidas para exemplificar o cenário. As relações e trabalho mudaram muito nas últimas décadas, afirma Lazzaroto. A Espanha, por exemplo, flexibilizou regras de imigração para tentar driblar a falta de mão de obra. Segundo o jornal Folha de São Paulo, mesmo com a taxa de desemprego em 13%, o país tem dificuldade em contratar profissionais nas áreas de turismo, construção e agricultura. Corroborando o assunto, manchete de O Globo ressalta que, por falta de mão de obra, países ricos lançam programas para atrair mais imigrantes.
No Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, por exemplo, dados levantados pelo jornal Infomoney mostram que a grande renúncia dos empregos é feita pelos diplomados. “Os jovens estão sendo atraídos para o exterior por diversos motivos”, argumentou o mestrando. No entanto, reflete, a onda de demissões também é perceptível em países como França, Estados Unidos e China.
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Contexto regional
O estudo trazido pelos estudantes mostrou uma comparação entre as realidades das regiões metropolitanas dos estados do sul do Brasil – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Segundo os gráficos apresentados (IBGE), a população da região metropolitana de Porto Alegre cresceu menos do que a media brasileira. O Produto Interno Bruto (PIB) e o rendimento mensal da população ocupada também vem diminuindo nos últimos anos. “O PIB do Brasil cresceu, o de Curitiba teve leve queda, o de Florianópolis cresceu muito, enquanto o de Porto Alegre teve queda de 8% no mesmo período analisado”, revelou Arthur Lazzaroto. Houve também uma queda no número da população de gaúchos jovens, em relação aos outros dois estados. E queda novamente no rendimento médio. “O que as outras regiões têm que estão se tornando mais atrativas?”, questionou.
A notícia boa trazida pelo painel é que, em todo o Brasil, jovens entre 18 a 24 estão ingressando no ensino superior tanto os considerados mais pobres quanto os mais ricos. “Nos últimos 10 anos, estamos ingressando de forma contínua no ensino superior. E os anos acumulados de estudo também tem crescido”, comemorou.
Norteado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – IBGE, Gabriel de Cesaro trouxe outros importantes dados estatísticos sobre a região metropolitana de Porto Alegre, um comparativo entre 2020 e 2021. “Analisando o primeiro trimestre de 2020, percebemos que um a cada seis jovens (14 a 29 anos) estava desocupado. Em 2021, o cenário é um pouco diferente, um desocupado e quatro ocupados. Houve um decréscimo entre os jovens e a população em geral.
Já a concentração dos jovens sobre o nível de estudo, a tendência no aumento da escolaridade se confirma, com menos pessoas no ensino fundamental e mais no ensino superior. Outro dado que chama a atenção e é destacado pelo acadêmico é a quantidade de pessoas sem carteira de trabalho assinada, que atuam na informalidade. Segundo Cesaro, o índice diminuiu no setor privado, mas ainda é uma parcela considerável da população”, justifica. Como curiosidade, o jovem ainda informou que está havendo muita migração de outras áreas para o cargo de empregador (empreendedorismo).
Sobre os desalentos – parcela da população que não está trabalhando e desistiu de procurar emprego – tem-se um aumento de praticamente 100% entre 2020 e 2021, passando de 9.600 jovens para 18 mil. Concluindo sua fala, o pesquisador salientou que, de acordo com a pesquisa, não se tem jovem com padrão A de remuneração, ou seja, com a maior faixa. “Há uma tendência de alta escolaridade, mas não de alta remuneração. Temos duas teorias que expressam essas ideias. A Teoria do Capital Humano diz que quanto maior é a escolaridade maior é a renda. Já a Teoria da Segmentação indica que outras variáveis interferem na remuneração de um indivíduo, como, por exemplo, a localização geográfica, o mercado de atuação, o tempo de experiência no mercado de trabalho. Ela não coloca a alta escolaridade como garantia de sucesso profissional”, finalizou.
O professor Dr. Moisés Waismann lembrou aos participantes que os dados apresentados não servem para encerrar ou fechar a discussão, mas que convocam a refletir sobre a realidade e se isso está efetivamente se concretizando na prática. “O mundo das ideias é muito mais rápido do que o mundo real. Os meninos apresentaram uma radiografia do que vem acontecendo entre mercado de trabalho, escolaridade, renda e jovem”, disse. Segundo o orientador, a renda mal distribuída afeta a juventude. “Estamos perdendo talentos. Não é só para ir morar na praia. Estamos perder talento para a Ásia, Estados Unidos, Europa. Nós já exportávamos jogadores de futebol, e, agora, estamos exportando cérebro. Isso vai fazer muita falta”, disparou.
Ao término de sua exposição, o professor questionou que modelos de desenvolvimento os municípios e estados estão implantando e que não fazem com que essa juventude queira ficar aqui. Temos uma alta densidade de formação na nossa região, escolas técnicas públicas e privadas, universidades. A pergunta é: por que, então, eles vão para outros lugares. E eu não tenho essa resposta”, disse.
Marilene Maia reforçou a fala que o mediador fez na abertura do painel, expressando a necessidade de se ouvir mais os jovens para saber o que eles querem e esperam dessa nova realidade do mercado de trabalho. “Enquanto o Observatório é uma ação que abraçamos, não somente no tempo pandêmico, nos demos conta que as perguntas para problematizar essa questão devem ser melhores formuladas. Onde estão os jovens? Tem tantas vagas? Precisamos qualificar um pouco mais? Que modelo de desenvolvimento temos e de que forma os jovens estão inclusos neste contexto? Os jovens mais qualificados estão indo embora. Para otimizar as nossas análises, precisamos acessar outros conjuntos de conhecimento. Os jovens não são o futuro, mas o presente. Precisamos urgentemente compreender as realidades da juventude e o mundo do trabalho”, enfatizou.
A participação do público foi grande no debate aberto após o painel. Presidente da Comissão de Competitividade, Economia, Finanças, Orçamento e Planejamento (Cofin), o vereador Enio Brizola (PT) disse que as principais cadeias produtivas da cidade voltam a oferecer vagas neste momento pós-pandemia.
“Muitos empresários nos perguntam por que os jovens não se interessam mais pelo mercado de trabalho na indústria calçadista. Há muitas dificuldades, também, das empresas de tecnologia em contratarem profissionais mais qualificados. Temos escolas técnicas na cidade, com cursos de ponta de mecatrônica, que atende aos setores da automação, escolas que dialogam com várias áreas, temos o Senac que qualifica para o comércio. Mas percebo uma ausência de políticas públicas muito grande em todas as esferas, que permita que as empresas possam ser subsidiadas para a contratação de jovens sem experiência, com carga de trabalho flexibilizada. Nós precisamos resolver uma questão urgente que é o ensino médio, que não prepara ninguém para o ensino profissionalizante, salvo as escolas técnicas. Quando há programas que enviam nossos jovens para intercâmbios internacionais, ele não pode ficar no exterior, ele tem de voltar. Ele tem de ter oportunidades aqui. E isso também dialoga com uma economia globalizada e com a tecnologia. As questões de empreendedorismo estão no mesmo caminho”, falou o parlamentar, ao se referir à Mostratec. “Precisamos formar mão de obra geral, para os jovens que querem trabalhar na indústria ou no comércio. Não é possível continuarmos com uma educação na qual faltam professores de português e matemática. Não é mais possível este distanciamento entre educação e mercado de trabalho”, refletiu o parlamentar.
Encaminhamentos finais
A finalidade deste seminário é semear e abrir todas as discussões possíveis sobre o tema, disse o mediador do painel Gabriel Grabowski. Ele afirmou que a pandemia atingiu a todos. Mas segundo dados do IBGE, entre os mais atingidos estão os jovens. “O desemprego aumentou de 10 para 14 milhões. E desses 4 milhões, mais de 50% foi entre os jovens. Todos perdemos renda, mas quem mais perdeu, foram os jovens. Todos fomos afetados por questões de saúde emocional. E os jovens também foram muito afetados. E eu faço este registro porque hoje, 1º de setembro, começa o mês amarelo, campanha de prevenção ao suicídio. O suicídio no Brasil cresce muito e o nosso estado, Rio Grande do Sul, é campeão em suicídios de jovens e adolescentes. Temos de pensar a sociedade. Os jovens precisam estudar, trabalhar, mas também precisam viver”, afirmou.
Acesse o vídeo na íntegra para conferir o debate:
4º Seminário de Desenvolvimento Econômico
O Seminário de Desenvolvimento Econômico de Novo Hamburgo teve sua primeira edição ainda na última legislatura, em 2018. A boa recepção entre as entidades parceiras e a comunidade levou a Câmara a formalizar, no ano passado, a inclusão do evento no Calendário Oficial do Município. A aprovação da Lei nº 3.286/2021 consolidou sua realização de forma anual, periodicidade que já vinha sendo respeitada (à exceção de 2020, devido ao auge da pandemia).
A quarta edição do seminário foi construída em torno da temática “Mundo do trabalho e juventudes: desafios e oportunidades sob a ótica dos empresários e dos jovens”. Liderada pela Câmara, por meio da Comissão de Finanças e da Escola do Legislativo, a organização coletiva do evento teve o apoio de 19 instituições parceiras, entre poder público, entidades representativas, estabelecimentos de ensino e empresas.
Tarde | Link: https://youtu.be/BLuFxaICDXA
13h30 - A importância das políticas públicas para a educação: projeto Trilhas de Aprendizagem 14h30 - Como atrair e manter os talentos nas organizações
15h50 - Caminhos para o empreendedorismo
17h30 - Painel de conclusão do evento
Conheça as instituições e entidades parceiras:
- Câmara Municipal de Novo Hamburgo; - Comissão de Competitividade, Economia, Finanças, Orçamento e Planejamento;
- Escola do Legislativo; - Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Novo Hamburgo (Sedec/NH);
- Sebrae;
- Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC);
- Universidade Feevale; - Universidade Unisinos; - Universidade La Salle;
- Secretaria de Educação de Novo Hamburgo (Smed/NH);
- Instituto Senai de Tecnologia em Calçado e Logística;
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul);
- Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha ACI/NH/EV/CB);
- Cigam - Software de Gestão Empresarial;
- JR Soluções;
- Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH);
- Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha;
- Ftec Faculdades;
- Câmara de Dirigentes Lojista de Novo Hamburgo (CDL/NH)