Seminário: Painel de abertura destrincha cenário pós-pandêmico e aponta crescimento de micro e pequenas empresas
Enquanto Copetti trouxe números para contextualizar o crescimento significativo de novos negócios, majoritariamente conduzidos por pessoas de baixa escolaridade e sustentação econômica, Paraskevi destacou parcerias firmadas pelo poder público para estimular a inovação, sensibilizar sobre os benefícios da formalidade e qualificar cidadãos para cadeias produtivas apoiadas em tecnologias limpas. O painel contou com a mediação do empresário Paulo Griebeler, presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC).
Em sua quarta edição, o Seminário de Desenvolvimento Econômico é organizado pela Câmara de Novo Hamburgo, por meio da Comissão de Finanças e da Escola do Legislativo, e conta com o apoio de diversas entidades parceiras, entre instituições de ensino, associações representativas, empresas e Prefeitura. Além de assistir aos painéis de forma presencial, os interessados também podem acompanhar a transmissão ao vivo pelo canal da TV Câmara NH no YouTube.
Empreendedores nascentes
O gerente regional do Sebrae RS salientou que o Brasil possui hoje 42 milhões de empresas de pequeno porte. Desse montante, 18 milhões se enquadram como microempreendedores individuais (MEIs). O número, contudo, tende a ser bem maior. “Pelas nossas pesquisas, estimamos haver de 12 a 15 milhões de MEIs informais”, acrescentou. Outro número trazido por Copetti sinaliza que, durante a pandemia, o país observou um aumento de 21% entre os chamados “empreendedores nascentes”, taxa bem acima da média anterior, que variava entre 5% e 6%. “Desses, mais de 80% não possuem ensino fundamental completo e contam com remunerações mensais até três salários-mínimos. São pessoas de baixa escolaridade, vindas de uma estrutura econômica periférica, tentando encontrar lugar no mercado a partir de seu conhecimento”, explicou.
Copetti frisou que o empreendedorismo é parte fundamental da sustentação econômica do país e corresponde ao terceiro maior sonho do brasileiro, atrás apenas de viajar e conquistar a casa própria. “Está na concepção estrutural da nossa sociedade olhar o empreendedorismo como uma fonte de oportunidade. O emprego formal no mundo vem recuando em torno de 12% ao ano. As economias não mantêm mais cadeias verticais estruturadas dentro do mercado de trabalho. Pelo contrário, elas estão se desmembrando. Uma construtora hoje não contrata mais cem funcionários para construir um prédio de dez andares. Ela contrata 30. O resto é MEI. O setor do calçado é um que se ‘quinteirizou’ para poder sobreviver e manter competitividade”, avaliou.
O representante do Sebrae RS situou ainda que os jovens de hoje em dia não querem mais o trabalho repetitivo de um chão de fábrica. Essa transformação de visão motivou, por exemplo, um crescimento de mais de 300% no nascimento de startups na região. “É uma geração nova que vem com outros atributos. É uma realidade que precisamos entender. Jovens que estão saindo do ensino técnico e da universidade não dependendo mais de emprego. Isso é regeneração econômica. Precisamos entender o movimento dessa massa geracional. O futuro está na tecnologia, na inovação e no empreendedorismo. E essa é uma vocação que podemos afirmar que temos”, pontuou.
Outro tópico trazido pelo painelista diz respeito ao que se convencionou chamar de desglobalização, processo motivado pela dificuldade de as grandes empresas produzirem fora de seus países. “Essa é uma oportunidade muito grande para as microrregiões estruturantes investirem na qualidade e na competitividade de seus negócios”, afirmou.
Na contrapartida das perspectivas positivas para o segmento produtivo local, Copetti fez questão de evidenciar a vulnerabilidade do sistema econômico brasileiro. “Estima-se que 100 mil empresas fecharam as portas em 2020 e 2021 por causa da pandemia. Nossa economia é razoavelmente frágil. Ela depende de um ecossistema que trabalha a produção de estruturas econômicas pouco sustentáveis. E a pandemia atacou exatamente esse empreendedor. Das 100 mil empresas que encerraram suas atividades, 90% são microempresas com faturamento anual de até R$ 480 mil. Estamos falando de uma capilaridade muito forte em cima de uma economia frágil que não suportou a pandemia”, concluiu.
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Inovação e qualificação
Após a exposição conduzida por Copetti, a secretária Paraskevi Bessa-Rodrigues detalhou as diversas ações idealizadas e concretizadas pela Prefeitura, com o apoio de diferentes parceiros, no intuito de transformar a cidade em um laboratório aberto de inovação. “Trata-se de um conjunto de ações transversais que terão impacto na qualificação da educação da nossa comunidade, desde o ensino fundamental até a vida adulta. A sustentabilidade do setor é o encaminhamento para as escolhas certas”, definiu a secretária.
Entre as iniciativas elencadas por Paraskevi estão a instalação de 52 minilaboratórios de robótica nas escolas municipais, a capacitação de jovens para o ingresso em novos segmentos, a qualificação de empreendedores, a realização de feiras de inovação e o investimento na cadeia produtiva da saúde e bem-estar. “Estamos acostumados na região a trabalharmos com cadeias que não são reconhecidas como as mais limpas do mundo. Nem sempre a comunidade teve o conhecimento técnico e expertise para oferecer soluções que reduzissem o impacto para o meio ambiente. Temos que qualificar as pessoas da nossa região em cadeias produtivas que ofereçam tecnologias limpas, com alto valor agregado e não poluidoras, como a da saúde e do bem-estar. O setor financeiro também é uma opção”, ilustrou.
Sobre a conjuntura econômica local, a secretária relatou que mais de 90% das empresas com sede na cidade são enquadradas como micro e pequenas, das quais 70% atuam na área de serviços, brutalmente impactada durante a pandemia. Paraskevi também revelou o esforço da Prefeitura para gerar novas vagas de emprego e atrair empreendedores para a formalidade. “Precisamos oferecer um espaço propício e seguro para crescimento, estimulando tanto o emprego formal quanto o empreendedorismo”, sintetizou.
Presente no plenário, o vereador Raizer Ferreira (PSDB), que se envolveu ativamente nas reuniões preparatórias para a formatação do seminário, destacou que uma das propostas do evento é buscar justamente o equilíbrio que garanta pessoas devidamente capacitadas para a alta oferta de vagas no mercado de trabalho. “Estamos andando por uma linha onde as pessoas não têm a formação adequada e não conseguem ocupar os empregos disponíveis. Mas trazemos essa nova informação de que os cidadãos estão acessando o mercado por meio do empreendedorismo. Como nós podemos, através de programas de aceleração, trazer essa solução tanto para a indústria quanto para as pessoas que precisam de emprego?”, questionou.
Copetti explicou que muitas pessoas estão empreendendo não por vocação, mas por necessidade. E isso provoca a inserção de uma massa importante no mercado de trabalho sem a devida capacitação. “Um dos grandes desafios que nós temos é qualificar, preparar e fazer com que esse povo todo se desenvolva dentro dos níveis de competitividade que o mercado exige. O segundo ponto é conscientizarmos para a formalização dos negócios”, sublinhou.
Paraskevi corroborou a afirmação do painelista. “Estamos falando de um desafio cultural. Enquanto a pessoa está na informalidade e sobrevive, ela tem poucos incentivos para pensar além. O cidadão precisa entender que a administração pública não é punitiva. Queremos ajudar que ele cresça. Nisso, a comunicação tem um papel muito importante. Muitos não sabem o que está sendo construído no âmbito das políticas públicas para oferecer algo melhor do que o empreendedor informal já tem. Queremos criar um ambiente para melhorar a qualidade de vida de toda a população”, declarou.
O presidente do IBTeC, Paulo Griebeler, finalizou o painel reiterando a importância de investimentos em pesquisa, inovação, tecnologia e qualificação da mão de obra. “Não existe mais espaço para amadorismo. Se tu não organizas teu negócio, ele vai quebrar ali na frente. Precisamos fazer esse movimento de engajamento de toda a sociedade na discussão”, propôs.
- Programação da tarde:
13h30 – A importância das políticas públicas para a educação: projeto Trilhas de Aprendizagem
Palestrantes: Adriane Brevia (coordenadora do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação) e Alexandre Costa (coordenador técnico de Educação Profissional no Instituto Senai de Tecnologia em Calçado e Logística)
Mediadora: Daniele Gonçalves de Souza (mestre em Gestão e Negócios e professora da IFSul)
14h30 – Como atrair e manter os talentos nas organizações
Palestrantes: Robinson Klein (vice-presidente de Inovação da ACI NH/CB/EV e presidente da Cigam) e Veridiana de Souza (gerente corporativa de Desenvolvimento Humano e Organizacional do Swan Hotéis)
Mediador: Luis Alexandre Cerveira (coordenador do Núcleo de Estudos sobre Diversidade da Faculdade IENH)
15h50 – Caminhos para o empreendedorismo
Palestrantes: Ana Paula da Silva (diretora da Ftec Novo Hamburgo), Lucas Ferreira (fundador da Revo Próteses Ortopédicas), Lucas Meinhardt (gestor de Inovação na Regional Sinos do Sebrae RS) e Marcos Lamb (professor da Incubadora Tecnológica Liberato)
Mediador: José Silon Ferreira (professor da IENH)
17h30 – Painel de conclusão do evento
Palestrantes: Carlos Kranz (diretor da CDL Jovem de Novo Hamburgo) e Diogo Leuck (presidente da ACI NH/CB/EV)
Confira na íntegra os painéis da manhã no YouTube da TV Câmara NH:
4º Seminário de Desenvolvimento Econômico
O Seminário de Desenvolvimento Econômico de Novo Hamburgo teve sua primeira edição ainda na última legislatura, em 2018. A boa recepção entre as entidades parceiras e a comunidade levou a Câmara a formalizar, no ano passado, a inclusão do evento no Calendário Oficial do Município. A aprovação da Lei nº 3.286/2021 consolidou sua realização de forma anual, periodicidade que já vinha sendo respeitada (à exceção de 2020, devido ao auge da pandemia).
A quarta edição do seminário foi construída em torno da temática “Mundo do trabalho e juventudes: desafios e oportunidades sob a ótica dos empresários e dos jovens”. Liderada pela Câmara, por meio da Escola do Legislativo, a organização coletiva do evento teve o apoio de 19 instituições parceiras, entre poder público, entidades representativas, estabelecimentos de ensino e empresas. Conheça todos os participantes:
- Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal);
- Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI NH/CB/EV);
- Câmara de Dirigentes Lojistas de Novo Hamburgo (CDL-NH);
- Cigam;
- Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio dos Sinos (Consinos);
- Ftec Faculdades;
- Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha;
- Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC);
- Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH);
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul);
- Instituto Senai de Tecnologia em Calçado e Logística;
- Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção Novo Hamburgo (OAB/NH);
- Prefeitura de Novo Hamburgo;
- Revo Próteses Ortopédicas;
- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae);
- Swan Hotéis;
- Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos);
- Universidade Feevale;
- Universidade La Salle.