Projeto de lei busca solução para área em litígio na rua Minuano

por Luís Francisco Caselani última modificação 05/05/2022 13h20
05/05/2022 – Em julho do ano passado, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Novo Hamburgo (Codir) foi acionada por moradores de uma área no bairro Industrial que corriam risco de despejo por ação de imissão de posse. O lote em litígio, que cobre 951 metros quadrados no quarteirão formado pelas ruas Minuano, Aleijadinho, Augusto Pestana e Libres, abriga cerca de 20 famílias. Nos últimos meses, a Codir abriu tratativas junto à Prefeitura e o Judiciário para pleitear alternativas que impeçam a saída dos moradores. Alguns deles ocupam o imóvel há mais de três décadas. Presidente do colegiado desde 2020, Enio Brizola (PT) apresentou em abril projeto de lei que busca uma solução para o impasse.
Projeto de lei busca solução para área em litígio na rua Minuano

Foto: Tatiane Lopes/CMNH

O texto declara o imóvel de interesse público municipal para fins de expropriação judicial. O terreno, que pertencia à massa falida da empresa Calçados Solemio, foi leiloado e arrematado por um particular em 2011. À época, o lote já era ocupado por muitas das famílias. O arrematante entrou com pedido de imissão de posse, deferido em 2014. Desde então, os ocupantes da área ajuizaram diversas ações e embargos, mas todos julgados improcedentes.

A medida proposta por Brizola se apoia nos dois últimos parágrafos do artigo 1.228 do Código Civil. Os dispositivos determinam que o proprietário possa ser privado de imóvel de área extensa quando o terreno estiver “na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas […] houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante”. Nesse caso, caberá ao magistrado fixar a indenização devida pelos moradores ao arrematante. Pago o preço determinado, a sentença valerá como título para o registro do imóvel em nome dos detentores da posse.

O Projeto de Lei nº 31/2022 também autoriza o Município a gravar a área como de interesse social para regularização fundiária. O texto recorda que o imóvel já havia sido declarado de interesse social, para fins de desapropriação do domínio pleno, por decreto assinado em 2012 pelo então prefeito Tarcísio Zimmermann.

Entenda o caso

A empresa Calçados Solemio Ltda., cuja falência foi decretada em dezembro de 1990, era proprietária do local, mas não mantinha sua sede ou edificação no terreno. “Há mais de 30 anos a área é ocupada por terceiros, dotados de extrema vulnerabilidade, os quais fixaram suas moradias no local e investiram todos os seus esforços e recursos financeiros na construção de suas casas”, explica Brizola.

O síndico da falência arrecadou todos os bens da massa falida para fins de venda em leilão e pagamento dos credores. Em 2011, o terreno foi leiloado. Avaliado em R$ 1 mil, o lote foi arrematado por R$ 7,5 mil. “Em que pese o interesse na manutenção de suas residências, na época em que realizado o leilão não houve a comunicação acerca da sua designação aos moradores”, continua o vereador.

Comprovada a quitação do valor, o arrematante postulou a expedição do primeiro mandado de imissão de posse, deferido em dezembro de 2011. Em abril do ano seguinte, a Prefeitura publicou o Decreto nº 5.253/2012, declarando o imóvel de interesse social para fins de regularização fundiária. A medida suspendeu a imissão de posse até fevereiro de 2014, quando o Município noticiou o desinteresse em promover a desapropriação. Três meses depois, foi expedido novo mandado.

As pessoas que residem no local buscaram auxílio do Judiciário para reverter a decisão, sem, contudo, terem êxito. Nesse contexto, foram ajuizadas diversas ações e embargos pelos ocupantes da área, todos julgados improcedentes”, acrescenta Brizola. Em dezembro de 2019, foi determinado o encaminhamento das partes interessadas à mediação, o que ainda não ocorreu em virtude da pandemia.

Os moradores se encontram na iminência de perderem as casas onde investiram tempo e recursos financeiros – que são parcos. São cerca de 20 famílias que residem no local, integradas, em grande parte, por idosos, crianças e até mesmo pessoas com deficiência física. O Poder Legislativo não pode permitir que uma comunidade com essas características, que tem seu direito de acesso à propriedade tutelado pela legislação pátria, corra o risco de ter esse direito violado, ficando à mercê de interesses particulares”, defende o presidente da Codir.

Brizola também salienta que uma eventual decisão pela desocupação do imóvel pode se tornar jusrisprudência para áreas próximas que também possuem processos em tramitação judicial. “Estima-se que cem famílias vivam na região e possam ser impactadas com a perda de seus lares”, pontua o autor.

Saiba mais sobre as tratativas encabeçadas pela Codir:

- Julho de 2021: Codir verificará área com pedido de reintegração de posse para desocupação de mais de 20 famílias

- Julho de 2021: Famílias pedem apoio da Câmara para evitar despejo em área no bairro Industrial

- Agosto de 2021: Processo de regularização fundiária aberto em 2020 pode auxiliar famílias de área em litígio no Industrial

- Setembro de 2021: Comissão de Direitos Humanos entrega documentação de moradores da Minuano para processo de regularização

- Outubro de 2021: Comissão retoma contato com Executivo e trata da mediação do Judiciário no caso de lote na rua Minuano

Tramitação dos projetos

Quando um projeto é protocolado na Câmara, a matéria é logo publicada no Sistema de Apoio ao Processo Legislativo (SAPL), podendo ser acessada por qualquer pessoa. Na sessão seguinte, sua ementa é lida durante o Expediente, sendo encaminhado para a Diretoria Legislativa. Se tudo estiver de acordo com a Lei Federal Complementar nº 95, que dispõe sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis, e não faltar nenhum documento necessário, a proposta é encaminhada à Gerência de Comissões Permanentes e à Procuradoria da Casa.

Todas as propostas devem passar pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação e pelas comissões permanentes relacionadas à temática do projeto. São os próprios vereadores que decidem quais projetos serão votados nas sessões, nas reuniões de integrantes da Mesa Diretora e de líderes das bancadas.

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