Realidade e perspectivas econômicas de Novo Hamburgo são apresentadas durante seminário
Carolina Strack Rostirolla falou sobre o perfil econômico de Novo Hamburgo e região. Ela comentou que o Sebrae possui um comitê com o intuito de desenvolver a cidade. Segundo a gestora de projetos, o PIB (Produto Interno Bruto) do Município corresponde a 2,42 % do Estado. “Temos 28 mil empresas aqui, na maioria micro e pequenas, com faturamento de até R$ 4,8 milhões. Outras 461 empresas são classificadas como médias e grandes. É importante que entidades privadas junto ao Município trabalhem ações de governo, políticas públicas para desenvolver as primeiras, porque elas representam 98% do número total de empresas em Novo Hamburgo”.
Desmembrando o perfil por setor, Carolina ressaltou que 79% são empresas de comércio e de serviços, o que comprovaria a desindustrialização, tema abordado pelo vereador e presidente da Comissão de Competitividade, Economia, Finanças, Orçamento e Planejamento (Cofin), vereador Enio Brizola (PT), durante o primeiro dia de evento. Em relação à potencialidade de consumo, os hamburguenses estão na 79ª colocação no ranking nacional e 5º lugar no estadual. “Os maiores gastos, atualmente, são com a manutenção do lar – energia elétrica, internet, telefone: 25,4% do total. Despesas como manicure, cabeleireiro e produtos e serviços Pet correspondem a 19,4 % dos gastos. Já 12% representam o valor investido em feira, padaria e supermercado, por exemplo – alimentação por domicílio.
Compras do Poder Público
O Sebrae informa que 21% das compras públicas de Novo Hamburgo são adquiridas de empresa do município, sendo 8,1% de micro e pequenas empresas. “Aqui percebemos um potencial de fomento muito grande”, afirmou. Ela disse, ainda que, indagada sobre o assunto, a Prefeitura ressaltou que poucas empresas, apenas 20% do porte mencionado, estão cadastradas para poder fornecer a eles. E que já há um edital específico para essas empresas.
Sobre o perfil demográfico, Carolina apresentou que, em 2010, a população era estimada em 234 mil habitantes. E, em 2016, em de cerca de 243 mil. “A pirâmide está se invertendo, porque a população está envelhecendo. Ela explicou, ainda, que o Município tem um bônus demográfico, ou seja, há um maior número de pessoas aptas para trabalhar, com idade entre 15 e 64 anos.
A gestora informou que o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), calcula como está o desenvolvimento do Município em relação aos critérios de renda, saúde e educação, levando em consideração 12 indicadores para a obtenção deste índice. “Novo Hamburgo está com um desenvolvimento médio. Segundo os dados apresentados, a nota da cidade é 0,74 (dados de 2015). Para ser considerado nível alto de desenvolvimento, deveria ter acima de 0,8. Comparando com o Estado, estamos abaixo da média. No Rio grande do Sul, a nota é 0,75 no mesmo período. Em relação aos outros municípios no Estado, a nossa posição é 242 no Idese”, detalhou.
Ela comentou ainda sobre as várias ações que o Sebrae vem desenvolvendo em parceria com diversas instituições. “Precisamos unir esforços para conseguir avançar. Temos um movimento em prol do Vale, a governança corporativa para trabalhar o desenvolvimento com foco em empreendedorismo. Convido a todos a participarem”, concluiu.
Setor coureiro-calçadista
Heitor Klein, presidente da Abicalçados, fez uma análise sobre a cadeira produtiva do couro e do calçado. Ele apresentou como se estrutura a cadeia coureiro calçadista brasileira, com enfoque no Rio Grande do Sul. Segundo ele, não são dados isolados de Novo Hamburgo, mas representativos, já que a região englobada pelo Município apresenta uma produção que corresponderia a cerca de 60% do que é realizado no Estado e 30% no Brasil, desde os curtumes, componentes e máquinas, produção de insumos decorrentes destas atividades e a fabricação de calçados em último lugar.
“Aqui é o coração da produção coureiro-calçadista do Brasil. Toda a inteligência do setor está assentada aqui, por conta das instituições e da tecnologia que temos. No RS, essa cadeia gera a exportação de 1 bilhão e 308 milhões de dólares. A fabricação de calçados no Estado representa 81 mil empregos diretos, 13% dos empregos do total”, disse Klein. O presidente da Abicalçados ressaltou que, em termos de RS, a cadeia está com 11% do PIB industrial e 17% do emprego. Já no cenário nacional, destaca que a cadeira coureiro calçadista representa 2% do PIB e 4,2% do emprego. “Somos um grupo respeitável. É inegável a vocação industrial instalada nesta região. Qualquer movimentação que se refira ao desenvolvimento econômico necessariamente tem de levar em conta o referido setor”, falou.
Heitor Klein falou sobre a séria crise econômica que afeta o País. “Um dos efeitos mais maléficos é o número de desempregados: 13 ou 14 milhões de pessoas. Mas, de fato, podemos dobrar os números, se considerarmos os desesperançosos, os que já desistiram de procurar emprego e as pessoas sub-empregadas. Para encontrar desenvolvimento que gere uma condição social aceitável, temos de levar em conta aqueles setores com alta capacidade de geração de empregos, porque isso significa geração de renda e uma rotação virtuosa da economia. É claro que a demanda não se cria por decreto. É preciso competitividade, esforço continuado das empresas no sentido de aperfeiçoar processos, gerar mais eficiência no processo de gestão das empresas e inserção internacional. Essa vocação se encontra nesta região. Não estamos alheios ao processo nacional. Isso implica esforço local, estadual e nacional”, reforçou.
A indústria 4.0
O pesquisador e professor da Universidade Feevale, Dr. Felipe Menezes, falou sobre "Indústria Criativa: desafios e oportunidades – como as empresas de calçado podem se reinventar a partir da indústria 4.0".
Para entender o que está acontecendo nesta área, Menezes voltou ao tempo e explicou os processos pelos quais a indústria passou até agora. Ele falou sobre os produtos manufaturados e os artesãos, sobre a 1ª e a 2ª revolução industrial (novo jeito de fazer as coisas – padronização, linhas de produção). Antes das revoluções, segundo ele, havia mais demanda do que produtos. E, hoje, mais ofertas do que a população consegue absorver. O pesquisador também falou sobre a 3ª revolução industrial – automação – máquina e disse que, atualmente, vive-se a 4ª revolução, caracterizada pelos sistemas cyber físicos – digital e que isso se comunica e acontece por meio de uma tecnologia, a internet.
“Tudo é muito rápido. Estamos em uma mudança de era. Nascemos na era industrial (linear, segmentada, repetitivo e previsível). Replicamos este modelo industrial a toda nossa vida. Mas já estamos vivendo o oposto – a era digital: não-linear, conectados, imprevisível. Criam-se ideias, que são mais que produtos. Vivemos uma economia digital: reprodução perfeita, custo zero, entrega instantânea”, falou ao destacar a importância, por exemplo, das impressoras 3D.
“As tecnologias evoluem em forma combinatória. Utilizando as impressoras 3D é possível fazer, por exemplo, casas, brinquedos, óculos, celular. As máquinas fazem exatamente o que está no projeto”, disse. Ele contou que essa tecnologia já está sendo empregada inclusive na impressão de solados de calçado, de forma experimental, pela empresa Adidas. “Estão estudando impressão em 4D, material com memória. As tecnologias evoluem. E muita coisa evolui em forma exponencial.”
Para exemplificar, Felipe Menezes explicou que a velocidade de processamento de um computador corresponde atualmente à velocidade do cérebro de um rato. E que em 2048 corresponderá a todos os cérebros da humanidade juntos. Ele também citou o exemplo dos carros autônomos, que dirigem sozinhos, sem piloto humano, e cujo índice de envolvimento em acidentes é muito menor. “O Uber nos EUA já está usando carros autônomos há dois anos”, relatou. Ele falou sobre robôs famosos, como o que abriu a Copa do Mundo no Brasil, dando o pontapé inicial no jogo de abertura. “Temos vários outros exemplos de tecnologias exponenciais”, culminou.
“A economia é assim. Vai impactar nos empregos? A curva diz que sim, mas eu acredito que vai mudar a forma como vemos o emprego. Não adianta brigar com a tecnologia, temos de aprender a conviver com ela”, afirmou. Para finalizar, o pesquisador explicou a diferença entre as maiores empresas do mundo e as que crescem exponencialmente, como a Google e a Airbnb, que surgiu timidamente e hoje representa o maior hotel urbano do mundo. “Aprender, desaprender e reaprender. Quem não tiver essa capacidade serão considerados os próximos analfabetos”.
O Seminário conta com a promoção da Abicalçados, ACI, Assintecal, Consinos, IBTeC, IENH, IFSul, Fundação Liberato, Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo, Sebrae. Quem apoia a iniciativa são o Instituto Liberato e a Universidade Feevale. A Realização é da Escola do Legislativo, Cofin, e Câmara Municipal de Novo Hamburgo.
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