CPI do Transporte Público: representantes de trabalhadores relatam problemas nos ônibus
Usuária da linha Casca, no Mundo Novo, Jaqueline relatou como a precariedade do sistema tem afetado a saúde física e mental dos trabalhadores. A dirigente questionou como a categoria que recebe um piso de R$ 1,8 mil vai custear seu deslocamento com a falta de coletivos. “Para nós que ganhamos pouco, os 6% de desconto já é muito. E já ouvimos relatos de pessoas que gastaram cerca de R$ 500 em Uber. Para quem paga aluguel, luz, água, isso é muito dinheiro.”
Questionada sobre o impacto na produtividade, a sindicalista explicou que todas as empresas têm uma linha de produção e não há como ligar a esteira se o quadro não estiver completo. “Eu trabalho desde os 13 anos em fábrica de calçado. Estou com 50 anos e sempre usei o transporte público. Eu uso a linha Casca, pego logo no começo do itinerário, e já venho em pé. A gente tem apenas um horário próximo às 7 horas. Aí vocês imaginam como vem esse ônibus. Muitas vezes o motorista não pode parar, e não é culpa dele, porque não tem mais lugar. Eles também estão sobrecarregados”, disparou.
Para Jaqueline, não existe uma rota oriunda das vilas mais periféricas que não está com problemas. Ela relatou o caso de um jovem recém-empregado que acabou sendo demitido devido aos inúmeros atrasos. “Pessoas que perdem bônus, por chegarem atrasados, e outras que estão com muito medo de perderem o emprego. É desumano, é desrespeitoso. Uma cidade onde tem tantos desempregados e quem tem trabalho e precisa se locomover está sem condições. O que a gente quer é um transporte público de qualidade, que é direito não só dos trabalhadores, mas dos estudantes, idosos e de toda a população. É humilhante o que a gente está passando aqui em Novo Hamburgo”, desabafou.
Presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio, Maria Cristina Mendes falou sobre as especificidades da categoria, que corresponde a 15 mil profissionais em Novo Hamburgo, segundo dados do Sebrae, e que atua em diversos turnos e escalas. “Nosso município possui hipermercados e dois shoppings, alguns com horário estendido até as 23h. Temos muitos problemas com essa extensa jornada dos comerciários e o trabalho aos domingos, quando há redução em inúmeras linhas”, pontuou.
Conforme Mendes, a situação atinge diretamente os vencimentos dos comerciários. “Muitos estabelecimentos possuem setor de recursos humanos fora do município. Fato que afeta ainda mais os trabalhadores, uma vez que os gestores não sabem o que está ocorrendo na cidade. O que importa é o ponto batido. Sem falar na insegurança do trabalhador que por vezes é advertido ou suspenso por algo que não depende dele.”
Ela lembrou que o comércio já sofre um impacto devido às compras virtuais e que muitas lojas estão diminuindo de tamanho porque as pessoas testam o produto e acabam comprando pela internet. Além dos descontos por faltas e atrasos, frisou que os profissionais estão sentindo a redução no movimento de pessoas circulando pelas ruas.
A dirigente sindical enfatizou que em nenhum momento foi procurada pelo Poder Público para algum tipo de adequação da grade de horários. “Estou falando em nome da categoria, de questões que chegam diariamente para nós. Em vários momentos foram divulgados novos horários e as coisas não aconteceram. Posso dizer que os comerciários estão desacreditando da viabilidade do transporte em Novo Hamburgo”, finalizou.
Participaram da sessão o presidente do colegiado, Inspetor Luz (PP); o relator, Raizer Ferreira (PSDB), o secretário, Enio Brizola (PT); e a vereadora Lourdes Valim (Republicanos).
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