CPI do Transporte Público: ex-diretor alerta que ônibus só cumprirão horários se houver corredor exclusivo
O atraso da frota em todas as linhas e itinerários do transporte público coletivo da cidade foi o foco dos principais questionamentos feitos pelos parlamentares. Ainda atuante como diretor de transporte na largada operacional da nova empresa no dia 27 de abril deste ano, Bortoli explicou como foram elaborados os estudos de rotas para Novo Hamburgo. “Utilizamos as grades anteriores, com pequenos diferenciais. Tínhamos 35 linhas-mãe e mais um monte de extensões. Agora, temos a mesma quantidade de horários. Uma cópia fiel do que era antes. Após implantado o sistema, no entanto, descobri que algumas linhas eram realizadas com pequenas adaptações feitas pelos próprios motoristas para poderem atender melhor a realidade dos usuários. A Viação Santa Clara tem uma forma de gerenciamento diferente”, revelou.
Indagado pelo presidente Luz, o depoente contou que houve falta em massa de trabalhadores no primeiro dia de atuação da Visac. “Boa parte dos contratados se recusaram a começar”. Também questionado pelo progressista sobre uma possível falta de combustível, Bortoli destacou que Novo Hamburgo estava ilhada em função das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no mês de maio. Com isso, algumas revendas não conseguiram atender a toda a demanda. “A antiga empresa consumia 105 mil litros de óleo diesel por mês. Até o momento da minha saída, a diretoria de transporte não tinha o controle efetivo do gasto pela Viação Santa Clara”, explicou.
Muito emocionado, o também funcionário público e guarda municipal esclareceu que foi por motivo de saúde que largou a diretoria. “Eu estava cansado, não aguentava mais tanta reclamação. Meus pais, meus filhos e minha esposa também pediram para eu sair. Tive três complicações cardíacas”, salientou. Desde 2017, ele esteve responsável por gerenciar o sistema de transporte público, o sistema de transporte individual, escolar, mototáxi, fretamento, dentre outros, além de programar políticas para melhorar o setor em todo o município. “A diretoria é integrada 100% por servidores concursados e que possuem larga experiência e vivência em transporte público. Com certeza, eles estão tocando o setor da melhor forma possível. Mas é sempre importante ter um diretor”, destacou.
Presente no Legislativo hamburguense em diversas sessões e audiências sobre o transporte público coletivo, Leandro de Bortoli também explicou que a frota atual é de 69 carros em horários de pico. No entanto, afirma que se o município não investir em melhorias na mobilidade urbana, os horários estipulados não serão cumpridos. “Temos o fechamento da BR 116 e congestionamentos ocasionados por obras na Scharlau. São diversos os gargalos que se acumulam e atrasam os ônibus em Novo Hamburgo. Se a empresa não trabalha com motorista auxiliar nestas ocasiões, não tem como cumprir o horário. A cidade precisa de corredores exclusivos para ônibus e não somente de quadras. Se houvesse um corredor por faixa horária para a Avenida Victor Hugo Kunz e no Boa Saúde já solucionaria muitos problemas".
O relator Raizer Ferreira apontou o respeito que a Casa tem pela capacidade técnica e profissional do ex-diretor. “A pressão que tivemos nestes últimos 50 dias não é a mesma de estar no seu lugar, que escreveu esse edital pensando no melhor para o transporte e para os hamburguenses. Essa CPI não foi instaurada por acaso ou perseguição política, mas porque não conseguíamos ter a informação necessária para repassar à comunidade”, disse o tucano. Ele explicou que a expectativa acerca do novo transporte coletivo era ‘gigantesco’ e positivo. E que a atuação da nova empresa frustrou a todos. “A diretoria perdeu muito com a sua saída. Tivemos o relançamento do serviço, o senhor não estava mais, e ele continua não funcionando. O sistema foi pensado por muito tempo, e não deu certo." Segundo Raizer, a cada 10 reclamações da comunidade sobre a antiga concessionária do serviço, 95% eram sobre a estrutura e a qualidade dos ônibus e apenas 5% sobre os horários. "Agora, com a Viação Santa Clara, quase a totalidade dos problemas relatados refere-se aos atrasos da frota”, alertou.
O secretário Enio Brizola complementou dizendo que a luta pela questão viária e pela reforma urbana não é de hoje. A CPI, segundo o parlamentar, é fruto da falta de retorno do Executivo e da própria empresa aos diversos questionamentos realizados pelo Legislativo e pela comunidade. “Todos queremos que o transporte dê certo para a cidade e para os trabalhadores”, salientou o petista. “Sua frustração é a minha, a nossa, da cidade. De todos os militantes e entusiastas do transporte coletivo. Tínhamos outra expectativa com o ingresso da nova empresa. Nunca foram às ruas esses 69 ônibus, todos os dias ocorreram variações. Já constatamos várias irregularidades até aqui. Está em início de operação, mas precisamos pensar em notificações contratuais e multas”, declarou o edil.
Para finalizar, Leandro de Bortoli deixou um apelo aos vereadores: “Criem uma comissão para auxiliar a Prefeitura a melhorar a mobilidade urbana. Se não tiver isso, será em vão todo o nosso trabalho. As empresas que concorreram à licitação estavam cientes de que não havia corredor de ônibus na cidade. Quanto menos ônibus, mais veículos circulando. Na Europa é moda andar de transporte público, aqui é diferente. Precisamos valorizar para torná-lo mais competitivo também”, encerrou.
Lourdes Valim destacou ainda que Bortoli fez a fala mais esclarecedora durante as oitivas da CPI do Transporte Coletivo.
A cidadã Maria Helena Machado de Oliveira usou a tribuna para pedir ajuda aos parlamentares em nome de toda a população. Ela reclamou da falta de cumprimento da grade de horários e dos longos atrasos dos veículos. “As pessoas andam que nem sardinha. São ônibus velhos da Hamburguesa, só pintados de amarelo. As paradas sem placas, os motoristas sem preparo para dirigir. Nós regredimos. A situação está uma vergonha”, declarou.
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Assista a oitiva na íntegra: