CPI do Transporte Público: colegiado cobra soluções durante primeira oitiva
Os também membros da CPI, Lourdes Valim (Republicanos), Fernando Lourenço (Solidariedade) e Ricardo Ritter – Ica (MDB), além da vereadora Semilda dos Santos – Tita (PSDB) acompanharam a oitiva.
As cidadãs e usuárias do transporte público Anita Terezinha Pellenz e Adriana Petry usaram a tribuna para relatar os problemas enfrentados diariamente. Entre as principais queixas estão atraso dos ônibus, mudanças nas linhas e itinerários, lotação acima do permitido e precariedade da frota disponibilizada pela concessionária para Novo Hamburgo. “Pagamos imposto e passagem. Não é justo ficarmos tanto tempo esperando. Que volte a antiga empresa, então. Vamos tomar uma providência”, reclamou Anita. Adriana complementou dizendo que todos os dias chega atrasada ao trabalho, uma realidade que, segundo ela, é enfrentada por muitos cidadãos hamburguenses desde o dia 27 de abril, quando a Viação Santa Clara começou a operar oficialmente na cidade. “Os ônibus circulam com espelho quebrado e porta aberta. Isso é um absurdo e uma falta de respeito conosco”, asseverou.
O diretor-superintendente fez um breve resgate dos trâmites que antecederam a habilitação da empresa para a prestação do serviço. Ele relembrou que o sistema de transporte de Novo Hamburgo passou por um processo de licitação que começou em fevereiro de 2023 e teve a homologação em novembro. “A partir da concessão, começamos as tratativas de instalação, programada para o prazo de 180 dias, podendo ser prorrogado. A proposta era uma mudança significativa e conceitual do transporte coletivo. Em consenso entre a Comur (responsável pela bilhetagem), a Secretaria de Mobilidade Urbana e nós, realizamos a modernização do sistema, tudo garantido através de termo aditivo claramente disposto no contrato. Realizamos esta fase de transição com o apoio de um estudo técnico rigoroso. Atendemos inclusive a solicitação da Câmara para o reaproveitamento da mão de obra da antiga empresa. Mas os problemas começaram a surgir no primeiro dia de operação. Problemas com profissionais, tentamos contornar. No domingo, operamos com frota reduzida. E, na segunda, dia 29, as chuvas se intensificaram. Prevíamos contratempos, estávamos mudando uma cultura de cerca de 50 anos. A partir da quarta, veio a situação de calamidade pública com as enchentes. No meio da crise, tentamos fazer alguns ajustes. Tivemos diversos problemas com os profissionais, falta de insumos, entrega de peças. Mas entendemos que foi uma questão generalizada e não somente de Novo Hamburgo”, explicou Rodrigo Hoelzl ao introduzir a sua fala.
Ele relatou que a frota disponibilizada para Novo Hamburgo é de 76 ônibus (sem contar os carros reservas), responsável por realizar mais de 1.100 viagens e 11 mil km por dia. “Muitos veículos precisam de manutenção ou substituição em linha – pneu furado, acidente e outras situações operacionais. Sentimos muito pelos transtornos, mas o sistema não é infalível, seja qual for o prestador. Mantemos todo nosso esforço para um transporte mais seguro, confiável e que possa melhorar cada vez mais. Buscamos que tudo saia conforme o planejado. Para os problemas persistentes de horário, vamos revisar a tabela. Carros com lotação dentro dos parâmetros, se amplia a disponibilidade. Não é achismo. É estudo e constatação. Temos 60 variações de linhas e itinerários. É um trabalho significativo para pôr um carro na rua”, disse.
Segundo o diretor-superintendente, se o ônibus está sempre atrasado, não é desde a primeira viagem. “O trânsito trava e também atrapalha a operação. Competimos por espaço dentro das vias públicas com motos e carros. Não somos insensíveis a esse volume de reclamações e estamos buscando atender às solicitações, mas sempre com a premissa de que o transporte é coletivo e não individual. Os ajustes que poderiam ser resolvidos em menor tempo, a calamidade atrapalhou e bagunçou tudo um pouco mais”, justificou.
O presidente da CPI disparou que o povo não quer explicações, mas soluções. “O que efetivamente vai ser feito? Por que tanta modificação de itinerários?”, indagou o parlamentar. Hoelzl devolveu a pergunta e salientou a necessidade de todos refletirem juntos. “Como era antes? Quem consegue trazer à luz o que era realizado? Hoje, temos uma frota de acordo com o contrato. Mantivemos os trabalhadores: a maioria absoluta eram operadores da antiga empresa, cujo contrato se encerrou na noite de 26 de abril. Com o passar do tempo, por força e vontade deles, houve substituições. Nosso quadro ainda é formado em 80% por funcionários remanescentes”, disse.
Com a palavra, o relator Raizer ratificou alguns problemas pontuais, ocorridos especialmente nas primeiras semanas de operação da Viação Santa Clara. Segundo ele, com as enchentes, as manifestações diminuíram, embora o serviço continuasse apresentando problemas. “No dia 4 de junho, a Prefeitura fez um relançamento do transporte coletivo em Novo Hamburgo. E a situação foi pior do que a apresentada em 27 de abril. Eu recebi o dobro de reclamações. As pessoas, no início, entendiam que ajustes eram necessários, elas queriam que funcionasse e acreditavam que a empresa estava comprometida em trazer um melhor serviço para a população. Não queremos que a antiga empresa volte, mas que as pessoas possam chegar no horário aos seus compromissos. As reclamações são de todos os bairros. Ninguém avisou ou pensou nesses problemas? Não teve planejamento? Não teve plano para o que poderia ser feito?”, questionou o tucano.
Hoelzl afirmou que o serviço está apresentando evolução e que já encontraram um caminho técnico para isso, que ainda vai sofrer ajustes. “Planejamento, monitoramento, estatística e estudo diário. Precisamos quantificar e qualificar as reclamações para poder atuar.” Ele disse que a Prefeitura se equivocou ao dizer que o transporte coletivo estava voltando ao normal no município no dia 4. E indagou aos presentes o que seria voltar ao normal. “Hoje temos a espinha dorsal do sistema, mas ajustes vão acontecer, como em qualquer cidade.”
Sobre o prazo para que os erros fossem corrigidos, o diretor respondeu que antes da calamidade, a frota transportava 10.500 passageiros. E que, após as primeiras adequações, são 18 mil passageiros por dia. “Temos momentos em que a velocidade operacional do carro é de 30 km/h. Fica impossível atingir os horários estipulados. Agora, temos um ponto de partida e as situações estão sendo atualizadas diariamente. Vamos continuar colaborando a partir da nossa experiência e qualidade técnica. Cabe a nós garantir que o planejamento do transporte público coletivo em Novo Hamburgo seja exequível.”
Raizer Ferreira ainda lembrou que os vereadores representam 250 mil cidadãos hamburguenses. “Não foi pensada na dor das pessoas, no fundo é isso. Nós queremos que esse povo seja ouvido. Uma CPI serve para isso”, completou.
O secretário da CPI, Enio Brizola, entregou ao dirigente da concessionária um relatório com cerca de 200 reclamações de usuários feitas exclusivamente ao seu gabinete. Raizer lembrou que, no total, os vereadores receberam mais de mil questionamentos.
O petista manifestou seu descontentamento com o resultado da oitiva: “O problema é pior quando o diretor diz que não sabe responder aos questionamentos e nos devolve a pergunta. A Prefeitura relata que a curva de adequação já passou. Parece que a transportadora e a Administração não estão se falando, que não há um comitê de crise para resolver a situação e tudo isso gerou uma insegurança muito grande. A população está com medo de perder seus empregos devido à inoperância do transporte público”, disse.
Brizola relatou que a Defensoria Pública foi acionada e que os cidadãos não podem continuar sendo prejudicados. “Eu sou entusiasta do transporte público coletivo. E lembro aqui que ele inclusive transportou 40 mil hamburguenses diariamente. Não é nada extraordinário o que a Santa Clara está fazendo agora. Vocês tiveram tempo de planejamento, de estudar um aplicativo, as linhas, qual o problema? O que era para ser novo já nasceu velho. O clima é de muita frustração. Também não quero voltar ao passado, eu miro no futuro, mas o que estava em funcionamento, é muito ruim de dizer isso, era melhor. E digo mais, com tarifa sem reajuste. Eu vou buscar em todas as instâncias o direito dos usuários em ter um transporte de qualidade”, afirmou o parlamentar.
Fernando Lourenço e Lourdes Valim também se pronunciaram. “Eu circulo muito pelos bairros da cidade e percebo os carros vazios. Vocês não compraram um sonho que não é a realidade?”, perguntou o vereador, ao se referir que a empresa devia, provavelmente, operar no ‘vermelho’”. O diretor respondeu que os números estão melhorando, que a empresa está no caminho, mas que o quantitativo de passageiros ainda é longe daquele contemplado pelo edital.
Já a republicana fez diversos questionamentos sobre itinerários e regularidade de horários dos ônibus na cidade. “Não seria menos prejudicial se a viação tivesse se adaptado aos horários e rotas da antiga empresa?”. Por fim, Rodrigo Hoelzl reconheceu que há diversos pontos a melhorar e que a empresa vai analisar os casos. Ele se negou a responder por que a Viação Santa Clara não responde aos questionamentos feitos pelos usuários na página Reclame Aqui ou pelo WhatsApp institucional.
A próxima oitiva da CPI do Transporte Púbico de Novo Hamburgo será realizada, também no Plenário da Câmara, nesta quinta-feira, às 13h, com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube da emissora legislativa.
Assista a oitiva na íntegra: