Comissão busca alternativas para reaquecimento do comércio no bairro Rio Branco

por Luís Francisco Caselani última modificação 13/05/2025 17h31
13/05/2025 – A Comissão de Finanças da Câmara de Novo Hamburgo (Cofin) recebeu no final da tarde de segunda-feira, 12, um grupo de comerciantes do bairro Rio Branco para discutir a desaceleração econômica vivida na região, especialmente no entorno da antiga rodoviária. O principal motivo elencado para a queda no número de clientes é a redução do fluxo de pessoas, atribuída a fatores como segurança pública, fechamento de grandes empresas próximas e a implantação do Rotativo Digital. A comissão acionará os órgãos competentes em busca de soluções.
Comissão busca alternativas para reaquecimento do comércio no bairro Rio Branco

Fotos: Gabriela Panassal/CMNH

Proprietário de uma lancheria na esquina das ruas Imperatriz Leopoldina e Joaquim Nabuco, Alecio dos Santos afirmou que o bairro está regredindo. “Não conseguimos mais atrair consumidores. Precisamos de mais pessoas circulando por lá”, iniciou o comerciante, que mantém o ponto há 40 anos. Leandro Maciel, dono de uma loja de bordados e uniformes, atrelou a diminuição do fluxo ao Rotativo Digital e ao grande número de pessoas em situação de rua que adotaram aquela região.

Maciel também comentou sobre o impacto provocado pelo frequente fechamento de empresas e negócios. “O encerramento de um comércio prejudica o outro, porque perdemos clientela. São funcionários a menos que deixam de consumir no entorno. Precisamos criar condições para que os comerciantes não desistam do local”, pediu. “Poderíamos sensibilizar os proprietários sobre os aluguéis, pois os valores praticados já não condizem com a realidade”, sustentou Santos.

O presidente da Cofin, Enio Brizola (PT), o relator Eliton Ávila (Podemos) e o secretário Ricardo Ritter – Ica (MDB) externaram seu espanto com o grande número de imóveis comerciais desocupados no bairro. A pedido dos comerciantes, o grupo inclusive encaminhará sugestão à Prefeitura para a criação de incentivos fiscais a titulares de imóveis com estabelecimentos comerciais em funcionamento, de forma a incentivar a locação e a prática de valores mais convidativos. “Tenho a impressão de que alguns proprietários preferem deixar seus espaços fechados a reduzir a pedida do aluguel”, pontuou Brizola.

Fluxo de pessoas

A reunião da comissão contou com a participação do diretor de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura, Preto Kayser. Após ouvir as demandas, o gestor, que também mantém comércio na região central da cidade, disse compartilhar de diversas das dores dos presentes e reiterou a necessidade de pensar estratégias para obter um fluxo maior de pessoas. Kayser afirmou que há uma série de fatores que contribuem para o esvaziamento do Centro e dos bairros adjacentes. Ele lembra, por exemplo, que essa foi a região mais fiscalizada durante a pandemia. “Nos bairros mais afastados, os negócios prosperaram. Eles conseguiam receber os clientes que nós não podíamos atender”, frisou.

Como alternativa para aumentar o fluxo no Rio Branco, Ica sugeriu a alteração do itinerário de algumas linhas de ônibus, passando em frente a esses comércios. Kayser comentou, porém, que a falta de usuários no transporte coletivo é também um dos fatores para a queda na circulação de pessoas. “O hamburguense já não passa mais pelo Centro como passava antes. Há alguns cases de sucesso, mas, no geral, reduziu muito. O dinheiro está onde fluxo de pessoas. Essas regiões estão colapsando cada vez mais”, lamentou o diretor, que defendeu a importância de abordagens digitais para a captação de clientes.

Eliton Ávila disse enxergar também uma mudança de cultura na população. “Antigamente era comum vir ao Centro para consumir nos dias de pagamento. Hoje, devido à comodidade e ao senso de pertencimento, as pessoas acabam não saindo de seus bairros. No Kephas, por exemplo, só não tem banco. De resto, temos de tudo. A economia descentralizada cresceu, e o Centro decaiu”, avaliou. “Se eu moro no bairro Canudos, por que viria ao Rio Branco, se tenho tudo na Bartolomeu de Gusmão e lá não existe o estacionamento rotativo?”, questionou Santos. Kayser aproveitou para comunicar que a Comur pretender testar o uso de parquímetros físicos como alternativa ao aplicativo, uma das reivindicações dos comerciantes.

Enio Brizola sugeriu que a Prefeitura lidere um movimento de promoções na área central em datas comemorativas, agregando atividades culturais e outros serviços. O vereador também comentou sobre o impacto positivo do novo prédio do IFSul, que deve ser construído em frente à estação Novo Hamburgo, para o trânsito de pessoas na região central. “A dificuldade é trazer gente. É trazer fluxo. É um desafio de todo mundo”, reforçou Kayser, que falou sobre a importância de ocupar também a Praça do Imigrante.

População em situação de rua

Uma questão muito pontuada pelos comerciantes foi a presença massiva de pessoas em situação de rua que se estabeleceram na região. Segundo eles, isso afasta potenciais clientes devido a uma sensação de insegurança. Os vereadores reconheceram o aumento dessa população e salientaram a importância de um serviço de acolhimento a esses cidadãos. “Há vários fatores que levam à situação de rua, como drogadição e condições familiares. É um problema social que precisamos enfrentar com políticas de segurança pública, mas também de saúde e assistência social”, enfatizou Brizola.

Por fim, o presidente da Cofin disse ser fundamental envolver o Sebrae na discussão. “No bairro Canudos, quando houve a instalação de grandes redes de comércio, os pequenos negócios sofreram. À época eu estava na Prefeitura e buscamos o apoio do Sebrae para o fortalecimento dessas iniciativas. Houve capacitação de funcionários, informatização e também ações para melhorar as ruas. Chegou-se a constituir uma associação de comerciantes”, recordou Brizola. Além dos encaminhamentos decididos na reunião, a comissão se comprometeu a agendar novas reuniões para retomar a pauta.

Projetos

Antes de receberem os comerciantes, a Comissão de Finanças analisou e concedeu parecer favorável a três matérias. Duas delas já haviam sido aprovadas por outros colegiados durante a tarde de segunda. O Projeto de Lei Complementar nº 9/2025, enviado pelo Executivo, contou com o endosso da Comissão de Meio Ambiente (Comam). O texto altera regras para o pagamento das taxas de licenciamento ambiental previstas no Código Tributário Municipal.

Já o PL nº 35/2025, elaborado por Juliano Souto (PL), recebeu também o aval da Comissão de Segurança Pública (Coseg). A proposta busca transformar o Grupamento Especializado em Segurança com Motos da Guarda Municipal (Gescom) em uma política de estado, evitando sua descontinuidade por uma eventual decisão de governo. Enio Brizola votou contra o projeto, mas foi derrotado por Eliton Ávila e Ricardo Ritter.

O placar de 2 a 1 se repetiu na análise do PLC nº 2/2025. Novamente redigido por Juliano Souto, o projeto institui no município o Programa Escola Cívico-Militar. Voltada para as unidades de educação básica da rede municipal, a iniciativa busca envolver ex-integrantes das forças armadas, Brigada Militar e Guarda Municipal na elaboração de atividades extracurriculares que estimulem valores como civismo, honestidade, respeito e preparem os alunos para o exercício consciente da cidadania.

O que são as comissões?

A Câmara conta com oito comissões permanentes, cada uma composta por três vereadores. Essas comissões analisam as proposições que tramitam pelo Legislativo. Também promovem estudos, pesquisas e investigações sobre temas de interesse público. A Lei Orgânica Municipal assegura aos representantes de entidades da sociedade civil o direito de participar das reuniões das comissões da Casa, podendo questionar seus integrantes. As comissões se reúnem semanalmente na sala Sandra Hack, no quarto andar do Palácio 5 de Abril.