Após novo caso de estupro, moradores do bairro Primavera reforçam pedido por segurança
Juliane já havia comparecido à Câmara em diferentes momentos para expor suas reivindicações, desde reuniões de comissões permanentes até sessões plenárias. Em outubro de 2018, ela inclusive já havia se manifestado após outro crime sexual cometido no local. Com faixas, cartazes, roupas e rostos pintados, moradores endossaram o coro por câmeras de monitoramento, manejo regular da vegetação e ações de policiamento. “Aquela área realmente é do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Sabemos que é responsabilidade da União. Mas as moças que são atacadas pertencem à nossa cidade, às nossas famílias. Tudo o que uma gestante passa, seu bebê sente. E essa moça tem que aguentar firme, porque o bebê está em sua barriga”, lamentou.
A líder comunitária pediu que sejam tomadas providências urgentes. “O problema daquela região é do Município. Coloquem-se no lugar dessas mulheres. São dezenas ao longo de mais de 20 anos. O nosso pedido é para que a Prefeitura aceite essa demanda como sua. Estas mãos (pintadas por sua roupa e seu rosto) simbolizam a mão do agressor no corpo da vítima. Mas há uma mão que fica gravada na alma da pessoa, que não sai. Há bem pouco tempo, as pessoas se importavam umas com as outras. Nem os presidiários aceitam um estuprador em suas celas. Não podemos aceitar que esse crime seja seguidamente cometido no nosso bairro, na nossa região”, acrescentou.
Antes da fala de Juliane, concedida após pedido da vereadora e procuradora especial da Mulher, Tita (PP), o jornalista João Ermel também fez sua manifestação. “Há 351 dias, estávamos aqui debatendo sobre o mesmo tema. Estamos indignados. Dói saber que pode ser uma irmã, uma filha, uma mãe. Sei que a Guarda Municipal e a Brigada Militar podem não ter contingente para manter uma viatura instalada. Mas a Guarda recebeu R$ 2,5 milhões em aparelhamento. Novo Hamburgo não precisa de sensação de segurança. Novo Hamburgo precisa de segurança”, asseverou.
Enfermeiro Vilmar (PDT) elogiou Juliane Lopes como uma defensora das mulheres. “Ela não veio aqui apenas esta vez. Ela veio várias e várias vezes pedir ajuda. Inclusive recebemos o secretário, que prometeu fazer ajustes para garantir a segurança daquelas pessoas. Queremos ações. Não queremos mais conversas. O Executivo deve tomar uma atitude. Caso contrário, os mesmos problemas continuarão se repetindo. Vejo apenas a preocupação dos moradores, mas não da Prefeitura. E o Executivo tem a responsabilidade pelas pessoas que moram na nossa cidade”, afirmou.
Patricia Beck (PP) lembrou ofício encaminhado em abril ao procurador da República Celso Tres. “Ele convocará o DNIT para que seja inclusive possibilitada uma parceria público-privada. Precisamos fazer com que a área seja utilizada pela população de bem. Não podemos fechar a passarela”, ressaltou a vereadora. Inspetor Luz (MDB) concordou com a reivindicação por maior monitoramento, mas lembrou que outras ações devem ser implementadas. “Precisamos desenvolver um policiamento direto e reto, para dar segurança à população. Tem que se tirar esse tipo de criminoso da rua. Precisamos fazer esse trabalho logo”, declarou o vereador, que preside a Comissão de Segurança Pública da Câmara.
Juliane Lopes recordou que uma das grandes reclamações dos moradores refere-se a um casarão abandonado, mas salientou que a sensação de impunidade tem feito os crimes evoluírem. “Ele pegou a moça na passarela e a levou para baixo da estrutura. Não foi no mato. A coisa está tão facilitada que ele fez à luz do dia, com os carros passando. Aquela região está proporcionando um ambiente para isso. Precisamos ter um olhar para o todo. Tenho certeza de que a prefeita não é culpada, mas precisamos tomar uma atitude”, cobrou a moradora. Felipe Kuhn Braun (PDT) destacou que há municípios vizinhos que efetuam a limpeza e o cuidado de áreas do DNIT que permeiam seu território. “É muito delicada a situação. É algo que se repete. Não queremos discutir esse assunto novamente daqui a seis meses ou um ano”, ressaltou.
O presidente da Câmara, Raul Cassel (MDB), disse que o espaço permite uma fuga fácil, sendo atrativo para a prática de delitos. “Sugeriria que se colocasse uma câmera de vigilância na região. Isso inibiria, e muito, as ações criminosas no local. Acho que é necessária uma ação conjunta, pois se trata de cidadãos de Novo Hamburgo. E a Câmara tem que ser a porta-voz dessas alternativas”, sinalizou. A vereadora Tita colocou a Procuradoria Especial da Mulher à disposição das demandantes. “Há mais de 20 anos acompanhamos essas situações, que nem mais respeitam horário. Toda e qualquer ideia é útil. Contem conosco”, solidarizou-se.
Enio Brizola (PT) lembrou que o bairro Primavera tem sido alvo recorrente também de assaltos e arrombamentos. “As causas e as consequências continuarão, se não cobrarmos de quem precisa dar a segurança para os moradores. Temos que enviar um ofício assinado por todos os vereadores cobrando ações do Município e das forças de segurança do Estado. Não há mais tempo de espera. O resultado já está aqui”, sugeriu. O documento deve ser elaborado pela Comissão de Segurança, levando posteriormente a assinatura de todos os parlamentares.
Leia mais:
- Associação de moradores relata crimes no viaduto Ayrton Senna e cobra manejo da vegetação (20/06/2018)
- TV Câmara: Reportagem mostra insegurança na travessia da BR-116 no bairro Primavera (25/06/2018)
- Moradores do bairro Primavera voltam a relatar problemas no viaduto Ayrton Senna (03/07/2018)
- Comissão cobra informações do Executivo em diversas pautas (16/07/2018)
- Associação de Moradores cobra maior atenção do poder público ao bairro Primavera (17/09/2018)
- Moradores do bairro Primavera pedem por mais segurança (22/10/2018)
- Representantes do Executivo falam sobre onda de crimes no Primavera (29/10/2018)
- Vice-presidente da Associação de Moradores do bairro Primavera apresenta demandas na área de segurança (31/10/2018)