Vereadores pedem a secretário transporte especial para pacientes debilitados irem a Taquara

por Maíra Kiefer última modificação 30/05/2023 16h13
29/05/2023 – Ao longo do último ano, os frequentes apelos de pacientes com câncer, entidades e políticos pela retomada do atendimento oncológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Novo Hamburgo não encontraram as respostas aguardadas. O tempo despendido no deslocamento para consultas e procedimentos no Hospital Bom Jesus, em Taquara, é a principal reclamação de enfermos e familiares. Para abordar o funcionamento do transporte e as alternativas possíveis para sanar o problema, o secretário municipal de Saúde, Marcelo Reidel, tratou a questão na sessão plenária desta segunda-feira, 29. O gestor foi convocado pela Comissão de Direitos Humanos (Codir), composta pelo presidente Enio Brizola (PT), a relatora Tita (PSDB) e a secretária Lourdes Valim (Republicanos). Sem perspectiva de resoluções imediatas para a retomada do atendimento em instituição hamburguense, tanto oposição quanto situação se concentraram em pedir um olhar atento para a locomoção especial dos mais debilitados.
Vereadores pedem a secretário transporte especial para pacientes debilitados irem a Taquara

Foto: Daniele Souza/CMNH

Antes da participação do secretário, Brizola exibiu um vídeo do paciente oncológico Tarcísio Schöll, de 85 anos, que relatou na sessão plenária do dia 10 de maio as dificuldades enfrentadas em seu deslocamento a Taquara para fazer o tratamento quimioterápico. Morador de Hamburgo Velho, ele explicou que no dia anterior a van o buscou às 5h e percorreu vários bairros da cidade, por cerca de duas horas, até, enfim, partir em direção ao Hospital Bom Jesus. Na gravação mostrada durante a sessão plenária, o paciente falou sobre o cansaço e a debilidade agravada pelo translado, situação piorada pela quimio recebida como parte do tratamento. “O nosso transporte não é ruim. A demora é que nos castiga bastante. Nos ajudem para que a gente tenha um movimento mais amplo para trazer essa oncologia de volta o mais rápido possível”, resumiu Tarcísio. Ao encerrar a fala, o presidente da Codir disse que o pronunciamento do cidadão exprimia o sentimento de muitos doentes oncológicos.

Logo após subir à tribuna, Marcelo Reidel foi enfático ao dizer que o cenário não era exatamente o mencionado pelo paciente. Ele informou que são disponibilizadas três vans – das 5h às 11h30, das 9h às 14h30 e das 12h às 18h , cinco veículos para o transporte de passageiros com dificuldades de locomoção, além de todas as ambulâncias disponíveis no Município para os pacientes que necessitarem. Ao todo, conforme informação do titular da pasta, são 800 pacientes oncológicos atendidos mensalmente.

Em relação às condições específicas de Tarcísio, admitiu que por ser idoso deveria estar o mínimo possível na rua, e mencionou, contudo, que há localidades que não disponibilizam veículos para as cidades que prestam atendimento. Peço a todos aqui, confiram o que é oferecido nos outros lugares, porque nós temos um serviço ímpar”, avaliou.

Enio Brizola rebateu a afirmação de que o paciente trouxe informações que não condizem com a realidade vivenciada em Novo Hamburgo. Para o parlamentar, deveria haver uma logística diferenciada nos casos em que o cidadão apresenta uma debilidade maior. “É preciso também fazer gestão com humanismo, e, nesse caso, é o que está faltando”, afirmou ao pedir soluções para aqueles que apresentam situação de saúde mais frágil.

"Que o projeto futuramente seja adequado lá do hospital para a oncologia, que a gente consiga recursos para equipar e para também contratar funcionários especializados para fazer a gestão e todo o tratamento das pessoas. Isso é o que todos querem, mas isso demora, não é para amanhã, O senhor sabe que demora. Isso não é para 2024", analisou Brizola ao pedir transparência nas previsões de entrega do Anexo 2 do Hospital Municipal, programado para a oncologia. 

Reidel acrescentou que o cumprimento dos horários disponibilizados para os deslocamentos a Taquara, que constam nos contratos, são fiscalizados pelo Ministério Público Federal, sendo todas as listas enviadas ao órgão mensalmente. “Eu de fato não identifiquei essa lacuna de tempo”, declarou sobre o relato de os pacientes terem de esperar por horas caso percam a partida da van em caso de atraso do procedimento realizado em Taquara.

Em seu pronunciamento, Gustavo Finck (PP) retomou a situação provocada pelo descredenciamento do Hospital Regina desde o seu anúncio em maio de 2022, às vésperas da migração do serviço para a cidade do Paranhana. O parlamentar lembrou que Reidel chegou à pasta no meio da tempestade, não sendo sua responsabilidade a falta de comunicação à comunidade três meses antes, quando havia ainda a possibilidade de reversão do cenário. Ele mencionou que não é somente o problema do transporte que preocupa. Somam-se a ele as questões referentes à alimentação daqueles que esperam por horas. Ele lamentou que as pessoas estejam sendo iludidas pelo governo sobre a possibilidade de retorno do atendimento pelo SUS no município em prazo inexequíveis. 

O senhor mesmo falou, estamos no segundo piso (da construção do anexo do Hospital Municipal), aquele prédio terá que ser preparado para receber a oncologia. Nós estamos criando uma falsa esperança para as pessoas. Nós sabemos como funciona obra pública, quanto tempo demorou o anexo 3. Então, não é assim  a oncologia vai voltar para Novo Hamburgo. Deus queira que Campo Bom possa atender amanhã as pessoas para não precisarem ir a Taquara”, declarou, pedindo uma previsão correta de início da retomada dos atendimentos e qual a veracidade da informação da cidade vizinha.

Sobre o projeto divulgado na imprensa local, Reidel disse não saber da viabilidade. "O prefeito deu uma declaração ao jornal, eu sou secretário de saúde. Não existe nenhuma combinação entre os secretários e para haver uma pactuação tem que ter uma combinação. Não existe, não foi proposto, não está aventado, vai atender aonde? Vai fazer um hospital, não sei", afirmou sobre Campo Bom. Contudo, ressaltou que em Novo Hamburgo a obra já está em andamento, com recursos recebidos em 2011 e não utilizados até recentemente. “O anexo 2 vai ser um suporte para o tratamento oncológico, não vai ser um prédio da Oncologia. Eu preciso de bloco cirúrgico, de leito de UTI, de sala de recuperação, de leito de internação e tudo isso eu vou ter, além de um setor de imagem todos as especialidades que já estão previstas", arrematou, dizendo que escutou da secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, que, assim que Novo Hamburgo sinalizasse, o atendimento seria retomado. Conforme programação do responsável pela Saúde, o término da obra tem previsão para ocorrer em outubro de 2024.

Ao pedir a palavra, Raizer Ferreira (PSDB) disse ter visto a luta de todos os vereadores quando souberam da notícia da saída da oncologia e lembrou que a decisão foi da prestadora de serviço, que não aceitava mais receber os valores da tabela SUS, que é federal.

Raizer reiterou que o paciente elogiou o transporte e o atendimento, e a crítica pontual foi referente à espera e ao fato de circular na cidade dentro do veículo até que todos ingressem e partam para Taquara. Ele sugeriu uma opção alternativa na qual um veículo pudesse conduzir mais tarde o paciente mais debilitado até o grupo que seguirá viagem.

"Dentro de condições que são extremas, como o caso de Tarcísio, há possibilidade de ter um carro para que possa chegar até o paciente, dando um atendimento especial para essas situações", sugeriu reiterando apontamento de Brizola sobre essas possibilidades.

O titular afirmou que, sim, esse atendimento especial já existia e voltou a enumerar a frota disponível para os deslocamentos em caso de dificuldade de locação. "Se faz isso, o paciente solicita, e a gente organiza com os cinco veículos disponíveis", informou Reidel, aventando ter havido um problema pontual no caso de Tarcísio.

Inspetor Luz (MDB) fez menção à complexidade do atendimento oncológico demandado pelos cidadãos hamburguenses em detrimento à situação de Picada Café, cidade na qual Reidel atuou como secretário de Obras antes de começar a trabalhar na Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo (FSNH) em 2017. “É uma diferença homérica, é muito grande. O senhor já saiu de Picada Café, mas parece que ela não quer sair do senhor nas demandas. É bom o senhor ter uma outra visão, que o senhor nos diga o que está sendo feito para buscar as soluções. O senhor é um homem público não deve se insurgir fácil com as perguntas", aconselhou o emedebista. 

O secretário disse que usou o contexto de outras localidades para ilustrar que Novo Hamburgo não vive em uma bolha, cidades que enfrentam a mesma realidade. “Uma situação que não vivenciávamos. Nós tínhamos o hospital aqui, as pessoas iam com seus meios próprios ao Regina, tinham a sua consulta marcada e essa situação não vivia na nossa rotina. Outros municípios já tinham isso incorporado, e eu só utilizei de exemplo”, esclareceu, frisando que a logística organizada de transporte foi pensanda em minimizar o sofrimento e que seria impossível torná-lo menor mesmo que disponibilizasse de um carro para cada um dos pacientes.

A vereadora Lourdes Valim (Republicanos) trouxe a público a informação de que os gestores do Hospital Bom Jesus, na última visita realizada pela Codir, teriam dito que “se o município de Novo Hamburgo conseguir um espaço, eles têm autoridade estadual e federal para montar um centro de atendimento dentro da cidade”, permanecendo só os procedimentos cirúrgicos em Taquara. “O município não tem um prédio para a oncologia de Taquara montar esse centro de atendimento e tirar esse povo da dor ainda esse ano?", indagou a parlamentar. 

Reidel respondeu que a questão está sendo discutida com a direção do hospital e com a secretaria do Estado desde que a oncologia foi para lá. “A primeira dificuldade é o espaço, não estamos falando de qualquer estrutura, é uma estrutura hospitalar”, disse o titular da Saúde. Segundo o secretário, a população deve entender que o paciente que vai para uma sessão de quimioterapia pode necessitar de uma sala de estabilização e de um leito de UTI.

Liga Feminina e Parlamento

Regina Dau, presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, teve a oportunidade de retorna à tribuna e reforçou os apelos dos parlamentares. Ao atender cerca de 600 pacientes oncológicos sem condições financeiras, a entidade acaba atuando como um braço da Secretaria Municipal de Saúde. Trabalho, segundo ela, que deveria ser feito pelo poder público. Na oportunidade que teve de falar ao público presente, Regina citou a vivência de uma mulher presente ao Plenário e que buscou socorrer o pai, paciente oncológico tratado em Taquara, mas que teve que recolocar a cânula traqueal em Novo Hamburgo sem sucesso ao buscar a UPA e o Hospital Municipal, só conseguindo auxílio na cidade que se tornou referência no atendimento oncológico. “A família desesperada com aquilo foi até Taquara. Poderia ter falecido no caminho”, lamentou a voluntária.

No último dia 10, a presidente da Liga Feminina Já havia reforçado a preocupação da entidade com o desgaste em relação ao translado. Como o veículo disponibilizado pela Prefeitura recolhe e entrega cada paciente em sua moradia, as viagens chegam a durar cerca de dez horas. Ela também salientou a falta de local apropriado para espera e a ausência de opções saudáveis de alimentação nos arredores do hospital.

A Câmara, especialmente por meio do trabalho da Codir, segue fomentando o debate na busca por opções para Novo Hamburgo voltar a ser referência no atendimento oncológico gratuito na região. Em março, os três vereadores que compõem o colegiado foram até Taquara acompanhar o trabalho realizado pela nova referência. Mais recentemente, no começo de maio, o grupo vistoriou as obras do Anexo 2 do Hospital Municipal. Com conclusão prevista para o final de 2024, o novo prédio é tratado como uma das alternativas para o Município recuperar os atendimentos dentro da especialidade.