Secretária de Obras apresenta primeiras ações para reconstrução da cidade após enchente

por Luís Francisco Caselani última modificação 18/06/2024 13h24
17/06/2024 – Ladeada por diretores, a secretária municipal de Obras Públicas, Serviços Urbanos e Viários, Greyce da Luz, compareceu à sessão da Câmara de Novo Hamburgo nesta segunda-feira, 17, para apresentar as ações encabeçadas pela pasta para corrigir, solucionar e prevenir novas ocorrências como as registradas em maio. Ao longo de sua fala, ela recapitulou todo o processo de cheia do Rio dos Sinos, os alagamentos provocados pelos altos índices pluviométricos e outros impactos causados pela maior catástrofe climática já registrada na cidade.
Secretária de Obras apresenta primeiras ações para reconstrução da cidade após enchente

Foto: Daniele Souza/CMNH

Conforme a secretária, além dos estragos decorrentes da inundação, também foram observados deslizamentos e prejuízos na malha viária e em estradas rurais. Após um primeiro trabalho direcionado à população mais atingida, a Prefeitura começou aos poucos a atender também às demandas do restante da cidade. Isso não impede, contudo, a manutenção dos serviços nos bairros Canudos, Industrial e Santo Afonso com o recolhimento de resíduos, limpeza de bocas de lobo, hidrojateamento de redes de drenagem pluvial e desassoreamento de arroios.

Greyce participou da sessão mediante convocação protocolada pela comissão especial criada pelo Legislativo para acompanhar os impactos da enchente e as ações de recuperação propostas pelas diferentes esferas de poder. Presidido por Raizer Ferreira (PSDB), o colegiado é composto também pelos vereadores Cristiano Coller (PP), Enio Brizola (PT), Felipe Kuhn Braun (PSDB), Fernando Lourenço (Solidariedade), Gustavo Finck (PP) e Lourdes Valim (Republicanos).

Entre as respostas cobradas pelo grupo está a atual situação da Casa de Bombas e do dique de contenção das águas do Rio dos Sinos, bem como a captação de recursos para a reconstrução da cidade e o enfrentamento à nova realidade climática do estado.

Casa de Bombas

Iniciando sua exposição pela Casa de Bombas do bairro Santo Afonso, Greyce comentou que, desde junho do ano passado, a Prefeitura realizou a reforma de quatro bombas, assinou contrato de manutenção para o bom funcionamento da estrutura e executou um grande trabalho de desassoreamento da bacia de acumulação. Gustavo Finck avaliou que a atuação dos maquinários durante as cheias de maio evidenciaram sua ineficiência até o ano passado. “A Casa de Bombas deu conta até o transbordamento do rio. O que mostra como foi importante todo o trabalho de fiscalização e cobrança que fizemos ao Executivo”, pontuou.

Em maio, segundo a secretária, Novo Hamburgo acumulou 530 milímetros de chuva, superando em mais de quatro vezes a média histórica do mês. Com o rio ultrapassando o dique e a Casa de Bombas desativada, foram utilizadas três bombas flutuantes emprestadas e uma locada para escoar a água espalhada pelas ruas e casas do bairro Santo Afonso. “Juntas, elas têm uma capacidade de bombeamento de 540 litros por minuto. A partir do momento em que conseguimos colocar as quatro em operação, pudemos tirar a água do bairro. Concomitantemente, começamos a trabalhar na recuperação da Casa de Bombas, completamente alagada. Fizemos a retirada de todos os equipamentos para limpeza e secagem”, explicou.

De acordo com Greyce, três motores já estão em pleno funcionamento. “E eles já demonstraram sua capacidade nesse final de semana. Até o final do mês, outras duas bombas devem entrar em operação”, garantiu a secretária. Fernando Lourenço elogiou o trabalho realizado na Casa de Bombas, mas pediu uma atenção maior também ao bairro Canudos, em especial à rua Odon Cavalcante. “Precisamos fazer uma canalização para dar uma resposta àquela comunidade”, apontou.

Cristiano Coller questionou a respeito das obras de conclusão da Casa de Bombas da Vila Kipling, em Canudos. “Tivemos licitações para a compra das bombas e a instalação. Estamos ainda com algumas questões a serem resolvidas antes da ordem de início. Uma delas é uma casa no local onde vai passar a transposição”, respondeu Greyce.

De volta ao bairro Santo Afonso, Gustavo Finck perguntou o motivo de não haver uma limpeza contínua da vala da rua Eldorado, próximo à Casa de Bombas. “É ali que começa a extravasar para dentro da Vila Palmeira”, argumentou. Diretor de Esgotos Pluviais da Prefeitura, Ricardo Al Alam alegou que o serviço costuma ser executado no inverno. “Se tentamos limpar no verão, os próprios moradores não deixam, pois o cheiro é muito forte e os mosquitos aparecem”, disse.

Dique

A força e o volume das águas do Rio dos Sinos provocaram no dia 4 de maio o rompimento parcial do dique que protege as cidades de Novo Hamburgo e São Leopoldo. Como a erosão ocorreu na altura do bairro Vila Brás, partiu da prefeitura leopoldense a iniciativa de recuperar a estrutura. Menos de uma semana depois, uma equipe já dava início à colocação de rachão, uma camada de terraplanagem executada com pedras, mecanicamente espalhadas e comprimidas.

Durante os trabalhos, a Prefeitura de Novo Hamburgo externou sua preocupação com a obra devido à utilização da crista do dique para o trânsito de veículos pesados, necessários para os serviços de selagem e recomposição. O alerta era baseado em avaliação de especialistas do Instituto Militar de Engenharia sobre a integridade da estrutura.

Na tribuna, Al Alam reforçou o posicionamento. “O dique foi erroneamente utilizado para a passagem de caminhões. Os especialistas foram taxativos em desaconselhar o uso do dique naquela situação”, reiterou. Gustavo Finck questionou se é possível afirmar que a estrutura está comprometida. O diretor não confirmou, mas tampouco negou. Estamos no aguardo de um laudo da Prefeitura de São Leopoldo, determinado pelo Ministério Público. Antes de extravasar, havia água passando em vários pontos do dique. Isso mostra que ele estava encharcado. Passar com mais de mil caminhões com 40 toneladas de rachão por cima dele, é muito possível que tenha havido o comprometimento”, alertou.

Somando-se à pergunta de seu colega de bancada, Cristiano Coller indagou sobre a possibilidade de rompimento da correção feita pela prefeitura vizinha. É muito difícil afirmar isso. Mas não se faz dique com pedra em nenhum lugar do mundo, porque não há coesão de uma partícula com a outra. Eles agora correram bastante e levantaram uma boa cota em argila, cerca de 1,5 metro abaixo da crista do dique. Se o rio passar dessa cota, vai entrar muita água. Estourar não acredito, mas vai passar muita água para a cidade”, respondeu Al Alam.

Coller salientou a necessidade de um sistema de proteção às vilas Kroeff e Marrocos e, ao lado de Lourdes Valim, perguntou sobre a existência de um cronograma para o serviço de hidrojateamento. “Não temos previsão para a conclusão. Temos disponíveis hoje dois caminhões. Iniciamos o serviço por Canudos, onde a água já havia baixado, fomos a algumas ruas do Industrial e, na semana passada, focamos na Santo Afonso, em função da previsão do volume de chuva do final de semana. Antes do hidrojateamento, precisamos do recolhimento de inservíveis, até para podermos chegar às bocas de lobo”, ponderou Greyce.

Presidente da comissão especial, Raizer Ferreira encerrou os debates sobre o dique interrogando sobre a existência ou não de alguma ação programada para a revisão da estrutura de contenção ao longo de toda sua extensão dentro do município. “Existe a pretensão de arrumar, mas dependemos do laudo para saber o que aconteceu. Não conhecemos a extensão do dano”, resumiu Al Alam.

Captação de recursos

Além dos serviços de resposta à enchente de maio, a Secretaria de Obras (Semopsu) deu início à elaboração de projetos para a captação de recursos para o bombeamento das águas no bairro Santo Afonso, a recuperação da Casa de Bombas e da malha viária, a recomposição de redes pluviais, passeios e vias, o desassoreamento de arroios e valos de drenagem, o hidrojateamento de redes pluviais e a contenção de taludes e escadarias. “Esta semana devemos finalizar levantamentos. Nossa expectativa é de que os recursos comecem a chegar logo”, sinalizou Greyce.

Raizer Ferreira comentou que as comissões analisaram nesta segunda-feira projeto de lei encaminhado pelo Executivo que abre crédito adicional extraordinário no orçamento do Município no valor de R$ 6 milhões para custear ações de enfrentamento ao estado de calamidade. No entanto, dois terços do montante estão previstos para a área da educação, secretaria com o maior orçamento da cidade.

Existe a obrigatoriedade desse investimento direto? Sei que muitas escolas tiveram perdas, mas os orçamentos da educação e das obras nem se comparam”, assinalou o presidente, com a anuência da vereadora Lourdes Valim. Conforme a Lei Orçamentária Anual aprovada pela Câmara, a Secretaria Municipal de Educação soma quase três vezes o volume de recursos previstos para a pasta liderada por Greyce da Luz.