Parcerias estabelecidas pela Procuradoria da Mulher possibilitaram projeto pioneiro de defesa pessoal e eventos nos bairros

por Maíra Kiefer última modificação 17/03/2022 17h15
16/03/2022 – O confinamento exigido durante parte dos dois anos da pandemia abafou a voz de muitas cidadãs que já vivenciavam em seus lares o problema da violência doméstica. Outras tantas passaram a enfrentar abusos e desrespeito. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul (SSP) apontam que 712 mulheres foram vítimas de ameaças no ano passado em Novo Hamburgo. Os números não refletem a dimensão do problema devido às subnotificações. Preocupada em munir as vítimas com suporte para enfrentar essas e outras questões do universo da defesa dos direitos das mulheres, a Rede Integrada Laço Lilás retomou em 2021 uma série de ações. Oriundo de proposta nascida na Câmara hamburguense, o grupo de entidades tem entre os órgãos constituintes a Procuradoria Especial da Mulher da Casa legislativa. Na sessão desta quarta-feira, 16, a procuradora especial da Mulher, Semilda – Tita (PSDB), explicou as iniciativas realizadas no ano passado e os projetos para 2022 durante a prestação de contas exibida no Plenário.
Parcerias estabelecidas pela Procuradoria da Mulher possibilitaram projeto pioneiro de defesa pessoal e eventos nos bairros

Tatiane Lopes/CMNH

“Esse balanço (leia na íntegra) deve ser feito todos os anos. Conseguimos unir tantas forças no município, sempre estão chegando mais pessoas e entidades que querem levar todo esse suporte à comunidade. Esse trabalho diferenciado está inspirando Campo Bom e, inclusive, a cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, para implantação de proposta semelhante em seus municípios. Deu certo porque unimos a rede de atendimento”, disse a parlamentar, reforçando que toda a família recebe um olhar atento, até mesmo os homens, em projeto de recuperação de agressores desenvolvido pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Novo Hamburgo (Deam).

Na abertura de sua exposição, a parlamentar agradeceu aos colegas vereadores pelo apoio durante sua gestão e pediu sugestões que ajudem a fortalecer os serviços prestados, não só voltadas ao órgão do Legislativo, mas a toda Rede Lilás. “É o covarde que agride a mulher. Não é um homem. Contamos com vocês para melhorar ainda mais o nosso trabalho”, acrescentou. A vereadora explicou que a Procuradoria é mais uma porta de entrada para as vítimas que têm receio de expor a realidade que vivem em uma delegacia. “Nós somos as últimas pessoas nas quais elas acreditam”, finalizou Tita em vídeo exibido durante a apresentação.

Ações desenvolvidas em 2021

Depois da restrição de atividades externas, ocorrida em 2020, e consequente suspensão de projetos desenvolvidos, foram reiniciados gradualmente eventos para acolher e orientar as cidadãs. Em 2021, uma iniciativa pioneira no Brasil recebeu o apoio da Rede Lilás. O Projeto Elas Por Elas, proposto pela Delegada Raquel Peixoto, teve seu lançamento realizado no Legislativo Municipal. A Casa foi escolhida para sediar o anúncio por abrigar a Procuradoria Especial da Mulher, parceira na proposta que originalmente nasceu na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Novo Hamburgo (Deam). O sucesso da ação levou a Polícia Civil gaúcha a institucionalizá-la, com novo nome, permitindo sua expansão para outras cidades e estados.

Foi uma necessidade que surgiu das próprias mulheres, elas não se sentiam seguras apenas com as medidas protetivas, elas precisavam de mais. A delegada Raquel Peixoto teve a ideia de criar esse projeto de defesa pessoal, e a Procuradoria auxilia nas inscrições e organização de turmas. Elas conseguem ter aulas de técnicas de defesa pessoal para se sentirem mais seguras e capazes de enfrentar esse ciclo de violência”, relatou Carolyne Andersson, servidora concursada que atua no órgão do Legislativo.

Conforme ela, o Polícia Civil Por Elas tem como público-alvo mulheres, compreendendo tanto vítimas de violência doméstica ou abuso sexual quanto aquelas que querem garantir a capacitação em defesa pessoal. Ela informou ainda que, no decorrer da iniciativa, foram montadas quatro turmas com aulas ministradas na própria Deam de Novo Hamburgo, e ainda, outros três grupos em diferentes bairros do município, como Santo Afonso, Kephas e Boa Saúde. Além disso, a ideia atravessou fronteiras e espalhou-se para outros locais dentro e fora do estado, como nos municípios de Campo Bom, Viamão, Canoas, entre outros. 

Entre as conquistas históricas ocorridas em 2021, estão a inauguração oficial da Sala das Margaridas, espaço de acolhimento em Novo Hamburgo, no qual as vítimas podem buscar atendimento na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), e o lançamento do site "redelilas.com".

Em quatro anos de funcionamento, que serão celebrados no próximo dia 22, a Procuradoria Especial da Mulher vem prestando atendimento a uma série de vítimas e algumas situações evidenciaram a importância do apoio familiar para a denúncia e a busca por auxílio se tornar realidade. Segundo Carolyne, um dos casos marcantes nesses anos de serviços foi a história de uma jovem de 17 anos, com marcas no pescoço feitas pelo namorado, que buscou ajuda na Procuradoria. Do lado de fora do Legislativo, estava o pai da vítima, que a acompanhou também à delegacia e deu o amparo necessário para ela quebrar o silêncio.

Reconhecimento dos parlamentares

Raizer Ferreira (PSDB) parabenizou o trabalho realizado por Tita e pela servidora Carolyne, e reforçou que seu gabinete está à disposição para auxiliá-las no que for necessário. Ele destacou a importância de levar informação às mulheres. “Muitas vezes vimos as forças de segurança não serem buscadas por falta de conhecimento”, afirmou.

Assim como o colega de partido, Ricardo Ritter – Ica (PSDB) saudou à Tita pelo empenho para possibilitar que as vítimas tenham alternativas de defesa e justiça. Ao usar a palavra, o vereador relatou uma situação vivida no final de semana, durante o qual ouviu gritos de uma vizinha na madrugada e sinalizou que estava acordado e atento à situação. Após a manifestação do parlamentar, o conflito cessou.

Felipe Kuhn Braun (PP) enalteceu a transparência na divulgação das atividades. “Foi na nossa Presidência que materializamos esse espaço da Procuradoria”, lembrando que o órgão foi idealizado no ano anterior, na gestão de Patrícia Beck. Ele mencionou que esta semana foi votada moção de repúdio à fala do deputado estadual paulista Arthur do Val. “Infelizmente como outras declarações, boa parte terminaram impunes”, apontou, dizendo que isso evidencia mais uma das falhas no tripé educação, fiscalização e punição.

A vereadora Lourdes Valim (Republicanos) exaltou o fato de a sala da Procuradoria ter recebido no ano passado o nome de Glacira Eli Santos da Silva, uma das primeiras integrantes da Rede Integrada Laço Lilás. “Eu a conheci em 2016, uma verdadeira guerreira. Morreu lutando pela igualdade e pelos direitos das mulheres. Quem sabe um dia a gente consiga amenizar a dor de tantas cidadãs que sofrem diariamente a realidade da violência”, disse.

Enio Brizola (PT) lamentou que no mês de fevereiro tenha voltado a crescer as ocorrências de feminicídio no Rio Grande do Sul, e saudou o esforço preventivo do órgão legislativo comandado por Tita. “Que não sejamos um país que promove o extermínio das mulheres, assim como foi o extermínio de Mariele”, falou Brizola, reforçando que há quatro anos o crime segue impune.

Atividades futuras

A vereadora Tita informou que, no mês de maio, a rede de atendimento planeja realizar atividade na Vila Diehl. Em outubro, ação semelhante na região foi feita por meio do projeto "Colorindo Caminhos", promovido inicialmente no Kephas. O programa intersetorial e transversal da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo disponibilizou acesso a diversos serviços e atividades. Na ocasião, a Rede Lilás se fez presente levando informações e apoio às famílias que vivem na localidade. Além disso, projetos já consolidados, como o evento Domingo Por Elas, que leva informação para a comunidade, voltou a auxiliar famílias no bairro Santo Afonso no mês de dezembro. 

Especificamente na área do apoio psicológico, a Procuradoria Especial da Mulher participou de encontro com a equipe do Ambulatório de Saúde Mental. Conforme relato da servidora Carolyne Andersson, foram discutidos temas como a necessidade de levantamento e tabulação de dados a respeito das vulnerabilidades de cada bairro e os caminhos a serem perseguidos na busca pelo atendimento psicossocial. Outra atividade foi uma roda de conversa no evento "Conecta Síndicos" para debater propostas de lei que obrigam os condomínios a comunicar aos órgãos de segurança pública sobre ocorrências ou indícios de violência doméstica no âmbito residencial.

Entenda o papel da Procuradoria

Em março de 2022, a Procuradoria Especial da Mulher completa quatro anos de atividades. Com a intenção de combater a violência de gênero e a discriminação, esse órgão do Legislativo hamburguense encaminha denúncias à rede de atendimento do Município e fiscaliza programas e serviços voltados a essa temática implementados pelo Executivo. Por meio de campanhas e ações localizadas em bairros com maior incidência de feminicídio e abusos, busca garantir a defesa dos direitos das cidadãs, além de lutar por maior representatividade feminina na política.

Desde sua implantação, a Procuradoria foi responsável pelo lançamento de campanhas e capitaneou o fortalecimento da Rede Lilás, criada em 2017 com o intuito de reunir entidades voltadas ao acolhimento das vítimas e ao combate e punição àqueles que praticam violência de gênero em Novo Hamburgo. Os encontros presenciais entre as representantes de cada órgão eram promovidos na sede do Legislativo. Agora, em virtude da pandemia, o grupo tem definido as estratégias para o ano em reuniões virtuais, organizadas pela Procuradoria Especial da Mulher.

Entre os integrantes estão a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, Brigada Militar, Patrulha Maria da Penha, Centro de Referência e Atendimento Creas/Viva Mulher, Núcleo de Apoio aos Direitos da Mulher (Nadim) e Laços de Vida, ambos da Universidade Feevale, Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres (CMulher), Conselhos Municipais dos Direitos da Mulher (Comdim) e dos Direitos e Cidadania do Idoso (CMDCI), Comissões da Mulher e da Criança e Adolescente da OAB/NH, Conselho Tutelar, Guarda Municipal e coletivos.

Saiba mais sobre a Procuradoria Especial da Mulher.