Câmara de Novo Hamburgo repudia declarações sexistas do deputado paulista Arthur do Val

por Luís Francisco Caselani última modificação 15/03/2022 00h30
14/03/2022 – No início do mês, uma sequência de comentários machistas e misóginos proferidos pelo deputado estadual paulista Arthur do Val sobre mulheres ucranianas tomou as redes sociais e provocou indignação e discursos condenatórios. Em áudios enviados a grupos de amigos, o parlamentar, também conhecido como Mamãe Falei, discorre sobre a beleza e a suposta “facilidade” na abordagem às mulheres, muitas das quais buscando refúgio em países vizinhos após a invasão russa. “São fáceis, porque elas são pobres”, afirmou o deputado em uma das mensagens. Revoltada com o conteúdo das gravações, a vereadora Lourdes Valim (Republicanos) elaborou moção de repúdio às declarações. O texto foi aprovado por unanimidade pela Câmara durante a sessão desta segunda-feira, 14.
Câmara de Novo Hamburgo repudia declarações sexistas do deputado paulista Arthur do Val

Foto: Daniele Souza/CMNH

“As palavras do deputado demonstram que o machismo ultrapassa classes sociais e princípios, contagiando até mesmo aqueles que, nas altas funções que executam, deveriam zelar pela igualdade e pelo respeito às mulheres em atitudes e palavras. São declarações repugnantes, desagradáveis e horrendas que agridem as mulheres, envergonham o Brasil e maculam a política. Declarações essas feitas em um momento de guerra e de dor em um país que está lutando por sua liberdade”, destaca a autora.

Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Podemos, o deputado anunciou a retirada de seu nome após a repercussão negativa do caso. Na última semana, o partido comunicou a desfiliação do parlamentar. “São falas gravíssimas e inaceitáveis, violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra”, continua a vereadora Lourdes Valim. Arthur do Val estava em visita à Ucrânia sob a justificativa de enviar doações após a invasão do país pelas forças russas.

A Moção nº 7/2022, que também levou a assinatura dos vereadores Enio Brizola (PT), Felipe Kuhn Braun (PP) e Tita (PSDB), será encaminhada ao presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado Carlão Pignatari. O documento reforça os pedidos pela instauração de processo disciplinar para apurar a responsabilidade de Arthur do Val.

Brizola lembrou que a votação da moção foi reservada justo para um dia de dor e injustiça para quem defende o fim dos diferentes tipos de violência contra as mulheres. Há exatos quatro anos, era assassinada a tiros na região central do Rio de Janeiro a vereadora carioca Marielle Franco. “E até hoje ninguém descobriu quem mandou matá-la”, enfatizou Brizola, que reforçou as críticas da moção aos depoimentos de Arthur do Val. “É uma vergonha ouvir isso de um deputado do maior estado do país. Pessoas públicas devem ser exemplo e precisam ser responsabilizadas por suas palavras e por seus atos de violência contra as mulheres”, opinou o vereador.

“O segundo deputado mais votado de São Paulo vai para a Ucrânia ‘fazer trabalho social’, mas faz chacota com mulheres doloridas, que estão perdendo seus filhos e seus maridos. Até quando perdurará esse desrespeito com as mulheres? Queremos leis mais fortes e rigorosas”, concluiu a autora Lourdes Valim.

O que é uma moção?

A Câmara se manifesta sobre determinados assuntos – aplaudindo ou repudiando ações, por exemplo – por meio de moções. Esses documentos são apreciados em votação única e, caso sejam aprovados, cópias são enviadas às pessoas envolvidas. Por exemplo, uma moção louvando a apresentação de um projeto determinado no Senado pode ser enviada ao autor da proposição e ao presidente daquela casa legislativa.