Gincana da Liberato arrecada absorventes para distribuição em escolas municipais
A arrecadação de absorventes foi idealizada pela equipe organizadora da gincana no intuito de pautar o tema da pobreza menstrual. Pesquisa realizada em 2018 por uma das empresas que lideram o segmento aponta que 22% das meninas brasileiras de 12 a 14 anos não têm acesso a produtos de higiene adequados durante o período menstrual. O percentual sobe para 26% na faixa etária entre 15 e 17 anos.
A proposta da Fundação Liberato vai ao encontro também da Lei Municipal nº 3.306/2021, aprovada pela Câmara em junho do ano passado. A norma prevê o fornecimento gratuito de absorventes nas escolas municipais como forma de prevenir doenças relacionadas à falta de higiene no período menstrual e evitar a evasão escolar.
Titular da Procuradoria da Mulher desde 2019, a vereadora Tita (PSDB) entregou um documento em agradecimento à instituição de ensino pela ação. “Estamos emocionados pelo trabalho que tem feito a Liberato, mostrando a seus adolescentes que podemos ajudar a comunidade onde vivemos. Sabendo da lei municipal, criada a partir de projeto do vereador Raizer Ferreira, eles fizeram sua parte e arrecadaram uma grande quantidade de absorventes. Isso demonstra, em um ato de amor à comunidade, o quanto a juventude está engajada. Não estão de braços cruzados, pois sabem da necessidade do outro. Queremos uma sociedade melhor, e é isso o que vocês fizeram. Quando vejo jovens fazendo esse tipo de trabalho, voltamos a sonhar novamente”, celebrou Tita.
O diretor Ramon Hans destacou que a iniciativa tinha um objetivo mais tímido, buscando coletar absorventes para alunas mais carentes da própria Liberato. “Mas a arrecadação foi tão grande que se expandiu para outros órgãos”, explicou. Além da quantidade destinada às escolas da rede municipal, outros 355 pacotes serão direcionados à Associação de Assistência em Oncopediatria (AMO Criança), entidade filantrópica com sede no bairro Hamburgo Velho. A quantia deve suprir a demanda da instituição por quase dois anos.
“Como diretor, quero agradecer ao grêmio estudantil. São iniciativas da escola, mas quem faz de verdade são os alunos. Essa gurizada passa o ano inteiro elaborando ações de arrecadação e doações, especialmente para os servidores e estudantes carentes que temos. É isso que queremos”, enalteceu o educador.
Secretária das Mulheres do Grêmio Estudantil Maio de 68, Pâmela Cunha alertou que a pobreza menstrual é uma questão de saúde pública e disse ser dever dos estudantes levantarem a pauta. “O trabalho feito na escola tem como intuito expandir as barreiras além da Fundação. Temos capacidade para isso. Os trabalhos de base que forem feitos lá serão muito qualitativos em longo prazo”, afirmou a estudante.
Autor do projeto que resultou na Lei Municipal nº 3.306/2021, Raizer Ferreira (PSDB) ressaltou que a temática da pobreza menstrual foi negligenciada durante muito tempo devido à falta de conhecimento sobre o problema. “Fico muito feliz que esse ato tenha sido trazido para a Casa Legislativa, demonstrando que nós, como sociedade, podemos contribuir para a nossa comunidade. Em 2021, fizemos uma ação muito parecida. Procuramos entidades da rede privada para que atendêssemos o mais rápido possível a necessidade de absorventes nas escolas. Ouvíamos relatos de diretoras de que meninas faltavam aulas por não terem os itens de higiene”, recordou.
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Presidente da Comissão de Educação da Câmara (Coedu), Felipe Kuhn Braun (PP) salientou que muitas questões relacionadas às dificuldades orçamentárias das famílias foram agravadas durante a pandemia. “Ficamos muito felizes de ver esse trabalho da Fundação Liberato. É um bom exemplo de como a juventude está fazendo sua parte pelo bem da sociedade. Isso prova que eles estão no caminho certo”, comentou.
O relator da Coedu, Enio Brizola (PT), relembrou a passagem de sua filha pela Fundação Liberato e falou sobre a convivência com a expectativa e excitação gerada pela gincana nos alunos dos cursos diurnos da instituição. “Vocês não imaginam o momento de emoção para eles. Somem das casas CDs, DVDs, bíblias, livros antigos, espadas, garruchas, itens que precisam ser localizados para as tarefas. Esta campanha de arrecadação é uma iniciativa gigantesca. A preocupação de todas as equipes com as meninas, as mulheres, a proteção da higiene menstrual, isso não tem prêmio que pague. Além de bons profissionais, a Liberato também forma grandes cidadãos. Não há prêmio maior que a solidariedade e a preocupação com o próximo. Nos dias de intolerância que vivemos, em que o ódio tem prioridade, foi o amor que venceu nesta gincana”, frisou.
Ex-aluno da Fundação Liberato, Ricardo Ritter – Ica (PSDB) parabenizou a visão social dos alunos. “Vocês estão auxiliando, e muito, a comunidade hamburguense. Que possamos, nos próximos anos, recebê-los para a entrega de novas remessas”, celebrou. Gerson Peteffi (MDB) fez questão de enaltecer o caráter também humanitário da escola técnica. “Hoje, deixo toda a parte científica e tecnológica da Liberato, que a torna uma das escolas mais importantes do Brasil, para trazer a instituição para o patamar das ciências humanas, onde temos a filosofia, a ética, a moral, os bons costumes, o amor e o comprometimento com o próximo”, completou.
O presidente da Câmara, Cristiano Coller (PTB), encerrou as manifestações em plenário resgatando um trecho do debate. “Achei muito interessante uma fala da vereadora Tita, de que podemos acreditar na humanidade. Vendo essas grandes ações, podemos, sim, acreditar na nossa juventude. Quero dar parabéns também a uma gincana da escola Wolfram Metzler, que promoveu uma campanha de doação de sangue”, acrescentou. “Antes de entrar em pauta aqui na Câmara, nunca havia parado para pensar na questão da falta de acesso a absorventes. Parece uma coisa tão fácil, mas para uma grande parcela da comunidade não é. Agora vemos o quanto esse assunto é importante”, concluiu o chefe do Legislativo.