Câmara de Novo Hamburgo promove debate sobre gestão de resíduos sólidos durante Semana do Meio Ambiente

por Tatiane Souza última modificação 11/06/2025 19h34
10/06/2025 – A Câmara de Novo Hamburgo sediou na tarde desta terça-feira, 10, o seminário “Descarte de resíduos: pra onde vai o que você joga fora?”, parte da programação da Semana Municipal do Meio Ambiente e da Ecologia. O evento reuniu especialistas e representantes de entidades ambientais para discutir os desafios e as soluções para o descarte correto de resíduos sólidos urbanos.
Câmara de Novo Hamburgo promove debate sobre gestão de resíduos sólidos durante Semana do Meio Ambiente

Fotos: Daniele Souza/CMNH

Promovido pela Comissão de Meio Ambiente (Comam), com apoio da Escola do Legislativo, o seminário foi realizado no Plenário Luiz Oswaldo Bender e transmitido ao vivo pela TV Câmara NH. Além do presidente Ricardo Ritter – Ica (MDB), que conduziu os trabalhos, o relator Nor Boeno (MDB) e a secretária Deza Guerreiro (PP) completam a comissão. Acompanharam o seminário das galerias do plenário o público inscrito, os vereadores Ico Heming (Podemos) e Professora Luciana Martins (PT) e alunos das escolas estaduais Ayrton Senna da Silva e Osvaldo Aranha.

O presidente do Legislativo, Cristiano Coller (PP), fez a abertura do evento e pediu aos jovens que atuem como multiplicadores em suas casas, conscientizando os pais para que, juntos, realizem a separação correta dos resíduos. O progressista destacou que esse material é fonte de renda para muitas famílias que trabalham com a coleta seletiva. Ricardo Ritter agradeceu a presença de todos e desejou uma tarde proveitosa de troca de ensinamentos e experiências. “Vivemos em uma cidade cheia de desafios. Que a gente consiga se mobilizar e mostrar para a comunidade que é possível ter um futuro melhor ao conduzir de forma adequada os seus resíduos”, destacou Ica.

O presidente da Comam também apresentou os dois acordos que seriam assinados ao longo da tarde. O primeiro é o termo de adesão ao Movimento ODS RS, associação que mobiliza pessoas e organizações gaúchas para a realização de práticas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A assinatura do termo reflete um compromisso formal da Câmara com a Agenda 2030 da ONU, que prevê 17 metas globais voltadas à erradicação da pobreza, proteção do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável e garantia de direitos às atuais e futuras gerações.

O segundo é o termo com a Rede Nacional de Sustentabilidade no Legislativo, constituída pelo Tribunal de Contas da União, Senado Federal, Câmara dos Deputados e demais órgãos e entidades da administração pública e da sociedade civil, que destina-se à consecução de interesses comuns voltados à discussão e à proposição de questões e iniciativas relativas à gestão pública sustentável e eficiente no âmbito do poder legislativo.

Realidade local e desafios enfrentados pela gestão pública

No primeiro painel do encontro, a diretora de Limpeza Urbana de Novo Hamburgo, Cristiane Hermann, compartilhou experiências da rotina da equipe técnica e operacional da Prefeitura. Ela destacou pontos críticos da coleta urbana e os desafios enfrentados pelo município para garantir o descarte adequado dos resíduos. “Cada cidade tem sua realidade, mas o desafio é o mesmo para todas”, afirmou. Com base na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), as ações em Novo Hamburgo têm como principal objetivo a extinção dos lixões. Atualmente, a Central da Roselândia recebe todos os resíduos domiciliares da cidade, cerca de 180 toneladas por dia.

Cristiane chamou a atenção para a importância de olhar com cuidado para os próprios resíduos. “A gente sempre diz: olhe para o seu lixo, porque alguém vai abrir aquela sacola. Lixo só é ruim quando está misturado; separado, é fonte de renda. Temos cerca de 120 catadores envolvidos nesse processo.” Segundo ela, a maior parte dos resíduos é orgânica e poderia ser compostada, mas acaba sendo destinada ao aterro de Minas do Leão, gerando altos custos para o Município. A diretora também alertou para o problema recorrente do descarte irregular em áreas públicas, que exige limpezas quinzenais, mas persiste por falta de conscientização. Cristiane reforçou a importância dos ecopontos e defendeu ações simples, como a compostagem doméstica e a valorização do trabalho das cooperativas. “O que nos orienta é a responsabilidade individual e coletiva. Os grandes desafios são dar destino adequado aos resíduos orgânicos, fortalecer as cooperativas e garantir a geração de resíduos limpos”, concluiu.

Conheça os ecopontos de Novo Hamburgo.

Separação domiciliar e renda para os catadores

A segunda parte do seminário foi comandada pelo catador Alessandro Alves. Presidente da Cooperativa de Trabalho e Renda Univale, uma das duas associações que operam a coleta seletiva na cidade, ele reiterou a importância da separação correta dos resíduos domiciliares entre recicláveis, orgânicos e rejeitos. “Muitas pessoas têm o sonho de salvar a Amazônia, mas às vezes se esquecem de fazer o básico”, lamentou. Alves explicou que a separação tríade garante não apenas o melhor aproveitamento dos materiais recicláveis, mas também a redução dos custos com a deposição final.

Os produtos que chegam ao galpão da Univale são triados em 102 itens diferentes e posteriormente compactados e vendidos. “Mesmo sendo uma coleta seletiva, cerca de 20% ainda é rejeito, em razão de contaminações e misturas. Precisamos da união de todos para a separação tríade em casa. A cada quatro toneladas de material, podemos empregar uma família de catadores. É uma área onde dá para empreender e viver bem, mas vocês precisam fazer a parte de vocês”, frisou.

Além dos materiais que são vendidos para a indústria, há também o reaproveitamento interno de alguns itens para a composição de um catálogo de 15 produtos feitos e comercializados pelos próprios catadores, como facas, bancos de praça, casinhas de cachorro e composteiras – uma delas, aliás, que deve ser instalada na própria Câmara, pedido feito pelo presidente Cristiano Coller.

Resíduos sólidos: um problema que exige cooperação regional 

O terceiro painel foi conduzido por Genyr Kappler, PhD em gestão de resíduos e representante do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos). O palestrante abordou o cenário atual da gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil, com ênfase nos dados nacionais e locais. Com base também na Política Nacional de Resíduos Sólidos, foram apresentados os diversos tipos de resíduos e a importância da separação correta para reduzir impactos ambientais, evitar riscos à saúde e gerar oportunidades econômicas. O especialista destacou que o Brasil gerou mais de 81 milhões de toneladas de RSU em 2022, com uma média diária de 1,04 kg por habitante, sendo o sudeste a região com maior participação.

Conforme o professor, a separação dos resíduos, sejam domiciliares, comerciais, industriais ou institucionais, é fundamental por motivos sociais, ambientais e econômicos. Essa prática viabiliza a reciclagem e a compostagem, reduz o volume de resíduos destinados a aterros sanitários, gera economia e renda, evita riscos à saúde e contaminações, além de estar em conformidade com a legislação ambiental. A palestra ressaltou ainda o papel da responsabilidade compartilhada no ciclo de vida dos produtos como princípio essencial da política pública.

Entre os principais desafios e soluções, Kappler enfatizou a necessidade de fortalecer a educação ambiental, promover parcerias público-privadas e implementar tecnologias sustentáveis como compostagem e biodigestão. A experiência de Novo Hamburgo foi citada como exemplo, onde são geradas 152 toneladas de resíduos por dia, sendo que apenas uma fração é efetivamente recuperada (12,140 kg). O palestrante defendeu que pequenas ações cotidianas, como a separação correta e a destinação adequada de materiais recicláveis, podem resultar em grandes impactos positivos, transformando atitudes individuais em soluções coletivas para a preservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida urbana.

Coletivo Educador Ambiental

Em maio, a Câmara aprovou a criação da Política Municipal de Educação Ambiental. A iniciativa foi elogiada pela bióloga Adriana Rovêda Cornélius, especialista na área. Professora de ciências da rede municipal desde 2000, ela encerrou o seminário desta terça com a apresentação do Coletivo Educador Ambiental. Idealizado em 2008, o grupo reúne docentes que atuam como agentes ambientais escolares e pensam soluções para a inclusão da temática como uma pauta permanente em sala de aula e nas discussões com a comunidade. “O coletivo se encontra uma vez por mês e trabalha para dar apoio formativo aos professores, para que sejam multiplicadores dentro de suas escolas”, contou.

Adriana destacou que, em 2017, o coletivo somou-se à Secretaria de Educação na criação do Programa Escola Sustentável. Além da presença da educação ambiental nos currículos, a proposta estabeleceu como metas o gerenciamento dos resíduos, a preocupação com os recursos hídricos, a formação permanente, cuidados com alimentação e saúde, a construção de pátios verdes e o consumo ético e responsável. “Tanto o programa quanto o coletivo têm sido reconhecidos academicamente inclusive fora do Brasil. Educação ambiental é continuidade. Não adianta começarmos um programa com duração específica. Os programas precisam ser permanentes, com metas definidas e avaliações periódicas”, sustentou Adriana.

Saiba mais

O seminário faz parte da programação especial organizada pela Câmara, que inclui exposição fotográfica, painéis temáticos e atividades educativas abertas ao público. Além das falas técnicas, o evento contou com iniciativas como o Brechó Joanna de Ângelis (roupas, sapatos e acessórios), a Horta Solidária (sal, mel, balas, canecas, sabonetes, escalda-pés, água de lençol etc) e a troca solidária de recicláveis por mudas de plantas, promovida em parceria com o Centro de Educação Ambiental Ernest Sarlet (Ceaes).

 

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Assista ao seminário na íntegra: