Setembro Azul busca trazer visibilidade para a comunidade surda brasileira
Implante coclear
Segundo Mara, que é surda severa e possui implante coclear, o primeiro procedimento foi realizado em 1990, em São Paulo. Ela explica que o IC é conhecido como ouvido biônico, ou seja, um dispositivo eletrônico capaz de substituir as funções das células do ouvido interno de pessoas com surdez profunda que não são beneficiadas pelo uso de aparelhos auditivos. O implante, salienta, restaura a capacidade de captar e compreender o som. Ela também aproveitou o momento para trazer mais esclarecimentos técnicos sobre a estrutura e funcionamento do IC. “O implante é ativado 30 dias após a cirurgia. A criança ou adulto passa a ouvir tudo, como se fosse um bebê recém-nascido. A partir desta etapa, se inicia um longo processo de reabilitação, geralmente com a ajuda de uma equipe multidisciplinar”, frisou. Segundo Mara, é um processo de longo prazo, porém muito eficaz.
Ela ainda esclarece que o IC é um aparelho de alta tecnologia que tem custo total de R$ 180 mil (parte interna, com duração de cerca de 30 anos, e externa, com vida útil de aproximadamente seis anos). Atualmente, meio milhão de pessoas do mundo dependem do IC para ouvir.
A presidente complementou dizendo que a audição é um fenômeno complexo, cujo processamento final acontece no cérebro. “Para ouvir bem precisamos de ouvidos saudáveis. No caso dos deficientes auditivos, de aparelhos bem calibrados e implantes cocleares bem mapeados”, defendeu.
Setembro Azul
Mara explicou que a cor azul é encarada pela comunidade surda como um símbolo de orgulho e resistência. Segunda ela, o significado vem da Segunda Guerra Mundial, quando durante a tentativa dos nazistas de livrar o mundo dos considerados “inferiores”, todas as pessoas com deficiência eram identificadas com uma faixa azul no braço e depois encaminhadas aos campos de concentração na Alemanha e Áustria.
“A luta pela inclusão e visibilidade dos surdos é representada pelo Setembro Azul, mas deve ser uma prática diária. Todos os dias sofremos preconceito e exclusão. Muitas pessoas não compreendem o que é ser surdo. O real deficiente não é aquele que não ouve, mas aquele que se recusa a escutar e compreender o próximo”, apontou a presidente da Asic-RS.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a deficiência auditiva é a primeira doença com mais impacto na qualidade de vida da população. “Somos, aproximadamente 10 milhões de surdos no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2010, a surdez ocupa a terceira posição nas deficiências do País”, relatou Mara. Da tribuna, ela salientou que os surdos brasileiros atravessam um processo de desinformação pela falta de letramento. Segundo a presidente, 80% dos surdos do mundo são analfabetos na língua escrita, conforme dados da Federação Mundial dos surdos, e possuem baixa escolaridade e problemas de alfabetização nas salas de aula.
“Em julho estivemos em Brasília entregando um projeto para deputados e senadores para mudar este quadro, pois precisamos que as escolas alterem o método de ensino, que hoje é representado pelo construtivismo. É muito abstrato. Nós desenvolvemos muita a visão, por isso estamos lutando por um método de ensino mais visual ou auditivo visual, usado nos anos 60 a 90”. Graças aos estudos da ciência e medicina novas tecnologias surgiram para solucionar e amenizar estes problemas”, explicou.
Os parlamentares colocaram seus gabinetes à disposição em prol da luta travada pelo Setembro Azul.
Leia também: Calendário Pró-Saúde reúne campanhas de prevenção e conscientização