Reunião debate impasse sobre dique e reassentamento de moradores do bairro Santo Afonso
O encontro foi conduzido pelo presidente da Coosp, vereador Joelson de Araújo (Republicanos), com a presença do relator Giovani Caju (PP) e do secretário Ito Luciano (Podemos). Também acompanharam o debate os vereadores Enio Brizola (PT) e Professora Luciana Martins (PT), respectivamente secretário e presidente da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Defesa do Consumidor (Codir).
Os moradores reforçaram que compreendem a necessidade das obras no dique, mas questionaram o destino das famílias removidas. Paulinho dos Santos, morador da rua Eldorado há 36 anos, criticou a condução do processo. "O governo chegou impondo o aluguel social e nos disse: ‘vocês têm que sair’. Mas como ficam as pessoas? Elas choram, falam em se matar, estão desesperadas. Criamos raízes aqui. O dique precisa ser reforçado? Sim. Mas reforcem, elevem, e construam nossas casas no mesmo local."
Gerson Fröhlich, que vive no Santo Afonso há 55 anos, relatou indignação com a forma como o tema vem sendo tratado. "Fizeram uma reunião no dia 31 de janeiro na EMEB Caldas Junior, uma escola em péssimas condições, nos colocaram em pé, sem ventilador, foi uma falta de respeito com a comunidade. Somos um povo honesto. Podemos não ter faculdade, mas somos inteligentes. Disseram que iam nos tirar dali e ponto’. Perdemos tudo na enchente, demoramos para nos reerguer e reconstruir, sozinhos, os nossos lares. E, agora, sete meses depois, querem nos tirar tudo de novo? Nossas casas não são condenadas. Só queremos respeito."
Coordenadora do movimento dos moradores, Júlia dos Santos reforçou que as famílias não se opõem à saída, mas reivindicam um reassentamento justo. "Pagamos luz, pagamos água. Desde 4 de maio, ninguém teve paz. As pessoas me procuram, pedem ajuda psicológica, choram, e eu estou enfraquecendo. Queremos ser tratados como trabalhadores, como seres humanos. Só estão nos enganando”, disse.
Alternativas habitacionais e críticas ao aluguel social
O presidente da Coosp, Joelson de Araújo, manifestou apoio à reivindicação da comunidade e questionou a viabilidade do aluguel social como solução emergencial. "Não vamos aceitar que vocês paguem aluguel social sem uma garantia formal das novas moradias. Com o valor ofertado, de R$ 785,00, onde estas pessoas encontrariam uma casa que não seja em outra área de risco? O povo não é massa de manobra."
O vereador Ito Luciano também pontuou a incerteza do programa: "Sabemos que já há 404 famílias cadastradas que ainda não receberam o auxílio. Como será feita a inclusão de mais um grupo? Precisamos encontrar uma solução real para essas pessoas."
Brizola sugeriu a construção de moradias provisórias, como condomínios sociais. "O governo do Estado tem responsabilidade com essa comunidade. Precisamos buscar recursos como outros municípios fizeram. O aluguel social não é uma opção viável, pois muitas famílias sequer conseguem complementar o valor”, disse o vereador. Ele sugeriu que um grupo formado por representantes do Santo Afonso, parlamentares e governo visitem locais, como em Porto Alegre, conversem com os moradores, para saber como eles avaliam os condomínios.
Resposta do governo municipal
O diretor de Habitação, Volnei Ferrari, destacou que o governo está buscando alternativas para atender as famílias. "Sabemos que vocês vivem em uma área de risco. Não queremos prejudicar ninguém, mas precisamos garantir a segurança de todos. Estamos estudando todas as possibilidades”, afirmou.
Segundo ele, a reconstrução do dique elevará sua estrutura entre 1 metro e 1,20 metro, e algumas famílias já estão cadastradas na habitação. O diretor também informou que há negociação com o governo estadual para a disponibilização de 76 casas pré-fabricadas, que ficariam prontas em 15 dias, desde que haja um terreno adequado. "Estou buscando um terreno próximo à Prefeitura que pode abrigar 43 casas. Ainda estamos trabalhando nessa questão”, complementou.
Ao final da reunião, a vereadora Professora Luciana Martins questionou se os moradores poderiam sair do encontro com a garantia de que não seriam removidos à força. O diretor assegurou que nenhuma família será retirada sem diálogo.
As Comissões seguirão acompanhando o caso e cobrando soluções do Executivo.