Procuradoria Especial reúne mães de crianças diagnosticadas com autismo para propor políticas públicas de apoio
Devido à repercussão positiva do bate-papo entre o público participante, o encontro deve ser repetido em breve no intuito de auxiliar as famílias que enfrentam as dificuldades de conclusão de diagnóstico, atendimento e compreensão da sociedade.
“As participantes que assistiram à atividade disseram que se encontraram através dos depoimentos e das falas das palestrantes. Tive a certeza de que nós devemos promover mais esse tipo de evento, de apoio às mães que têm filho com autismo. As pessoas que aqui vieram saíram radiantes, e elas nos cobraram o retorno do próximo evento. Não vamos parar por aqui”, avaliou a vereadora Lourdes Valim, titular da Procuradoria da Mulher.
Para Isa Reichert, mãe de Indiara, de 10 anos, filha adotiva diagnosticada com autismo, ações dessa natureza ajudam outras famílias a perceberem que não estão sós. “Eu entendo que ser mãe atípica nos tira de muitas possibilidades financeiras, inclusive. A gente abdica muitas vezes da nossa profissão para estar com as crianças. Isso tudo implica e impacta justamente os tratamentos que a gente precisa oferecer para eles. O Estado oferece possibilidades, mas ainda é pouco”, afirmou Isa, que deixou para trás uma carreira bem-sucedida como fotógrafa e optou por tornar-se arteterapeuta para acompanhar Indi, como a chama carinhosamente, em tudo que fosse necessário para ajudar no seu desenvolvimento.
Assim como Isa, a advogada Jaque Raffler entende ser urgente um olhar atento ao autismo no município. “O balanço do encontro foi extremamente positivo. Poderíamos ter reunido mais pessoas, mas ainda é o primeiro passo. Grandes projetos começam de uma forma mais lenta. Novo Hamburgo precisa evoluir muito”, analisou a mãe de João, de 3 anos, autista não verbal, que, devido a outras questões de saúde, precisou ser submetido a diversas cirurgias e cuidados redobrados de seus pais para conseguir sobreviver desde seu nascimento.
Na abertura do evento, a servidora da Procuradoria Carolyne Andersson trouxe uma notícia que deu um pouco de alento às mães presentes ao Legislativo. Conforme informação confirmada pela administração municipal, Novo Hamburgo está entre as três cidades da região que concorrem à destinação de recursos para a implantação de um Centro de Atendimento em Saúde (CAS) do Programa TEAcolhe, do governo estadual. Ao todo, foram selecionados 20 projetos em cidades gaúchas. Caso selecionada, a unidade hamburguense funcionará junto ao Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), no bairro Rondônia. Os atendimentos, cuja meta mínima será de 1,2 mil consultas mensais, serão encaminhados via unidades básicas de saúde (UBSs).
Esse avanço, segundo Jaque, precisa estar associado a outras políticas públicas para atender a contento a população da cidade. “O Município se credenciou para ter um centro de referência do autismo, mas as consultas ainda são em um número muito pequeno. Os atendimentos seriam de 150 usuários mensais, se não me engano", comentou. Dados da Associação de Pais e Amigos do Autista (Ama/NH), Novo Hamburgo já tem 227 Carteiras de Identificação da Pessoa com TEA (Cipteas) emitidas.
A musicoterapeuta Natália Magalhães, que há 15 anos atende crianças com diversas variações do espectro autista, reforçou o quanto é alto o custo dos tratamentos e que, infelizmente, não há políticas públicas suficientes que consigam dar conta dessa demanda. Ela lembrou que a gama de atendimentos necessários com fonoaudiólogos, terapia ABA, ocupacional, psicologia e consulta médica acaba gerando negativas dos planos de saúde quando se trata da musicoterapia. “Toda vez que temos um estímulo que mexe com emoção, memória, a gente pisa em um terreno muito sensível”, disse, salientando que a formação em curso superior de musicoterapia é importante para o resultado do tratamento.
Além dos impactos financeiros, ela comentou sobre as consequências que os cuidados aos autistas geram nos relacionamentos familiares. “Dos meus 55 atendimentos semanais, tenho cinco famílias em que o casamento ainda está em pé. Parece um ciclo que acontece com muita frequência. É a mãe que acaba abraçando, com sua coragem, com toda a sua determinação e fé, essa luta." Ela acrescentou que, em alguns casos, é através da música que se consegue ouvir as primeiras palavras de uma criança. "Muitas vezes é apenas dentro do campo musical que essa mãe escuta 'mãe' e um olhar direcionado para ela", relatou.
Clique na imagem para ver todos os registros do evento: