Luta por reconhecimento e combate ao racismo pautam roda de conversa no Legislativo
No encontro, intitulado “A participação do negro na construção de Novo Hamburgo”, as jornalistas e pesquisadoras Andressa Lima e Lucilene Athaíde e o graduando em Comunicação Patrian Gomes discorreram, além de dados da desigualdade racial e social do País, sobre os motivos pelos quais criaram o coletivo e sobre como se descobriram negros e militantes em uma cidade forjada pela exaltação à história da imigração alemã.
Lucilene contou como passou a infância e a adolescência blindada por familiares para que não sofresse como o racismo e lembrou que, por morar no bairro Primavera, considerado o mais negro da cidade, demorou a perceber o quão diferente era daqueles “poucos imigrantes vindos lá do fim do mar”, citados no hino de Novo Hamburgo. Ressaltou ainda como os pretos contribuíram, com suas próprias mãos, na construção de uma cidade pujante, mas que confinou grande parte dessa população a locais mais pobres e periféricos.
A oralidade como fonte para a preservação da história foi evidenciada por Andressa. A jornalista, que pesquisa a trajetória de mulheres negras idosas, lembrou como essas senhoras criaram filhos e netos em sua maioria trabalhando como domésticas em casas de família. Ela comentou também sobre as dificuldades das mulheres negras serem ouvidas e creditadas enquanto pesquisadoras.
Patrian contou um pouco de sua história pessoal, igual à de muitas crianças negras, cuja figura paterna esteve ausente da sua criação. E se emocionou ao citar a avó e a mãe, já falecidas, como esteio da família na luta contra o racismo e ao processo de gentrificação imposto a tantos cidadãos devido à especulação imobiliária. Falou também sobre como homens negros são criminalizados pela sociedade e como isso afeta a saúde mental, especialmente, dos jovens.
Dentre os participantes, o senegalês Massamba Mbengue criticou a baixa participação do público em um debate tão importante. Professora da rede municipal, Indiara Tainan explanou sobre o trabalho que realiza em escolas de Novo Hamburgo e São Leopoldo e lembrou das dificuldades para o cumprimento da Lei Federal nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Já o titular da Coordenadoria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial do Município, Ilson Silva, enalteceu a atuação do coletivo pela luta antirracista e por disseminar a história dos negros hamburguenses.
Lucilene Athaíde, assim como os demais participantes, destacou o quão importante é trazer o debate para o Legislativo. “Apesar de não nos vermos representados nessas paredes (onde estão localizados os quadros dos presidentes da Casa e de diversas legislaturas), precisamos lembrar que esta é a casa do povo. E é fundamental, cada vez mais, ocuparmos esses espaços”, finalizou.
Ao longo de 17 legislaturas, Novo Hamburgo teve apenas um vereador negro. Renato Antônio Fernandes integrou a XIII Legislatura, de 2001 a 2004. Ele morreu em 15 de fevereiro de 2004, aos 56 anos, ainda no exercício da vereança.
Sobre o Coletivo
A Afro Juventude Hamburguense foi fundado em 2016 por três jovens negros, militantes e comunicadores com o objetivo de dar voz à comunidade negra, resgatar e valorizar a sua história no Vale dos Sinos. Eles criaram o grupo após detectar que na data em que se comemora o aniversário da cidade (5 de abril), só há lembrança à história de árduo trabalho para a construção e crescimento da cidade na figura do imigrante alemã, invisibilizando a importante participação da população negra.