Juíza ressalta que a denúncia de agressão é a melhor forma de evitar o feminicídio
“O Brasil é o 5° país em feminicídio entre 84 analisados. Treze mulheres são assassinadas por dia por companheiros ou por ex-companheiros”, apontou. Mais da metade dos crimes é cometido por alguém que ela conhece.
Quando iniciou sua exposição, a painelista mostrou que a violência é resultado de uma cultura machista, que submete as mulheres a regras e restrições desde a infância. Ela trouxe peças publicitárias que, mesmo atualmente, ainda reforçam o papel de inferioridade do sexo feminino, atrelando muitas vezes as mulheres aos trabalhos domésticos.
Ela citou alguns casos de atendimentos ocorridos no mês de julho, sem nominá-los, de ameaças feitas por agressores no ambiente doméstico e até no ambiente de trabalho. Grande parte deles utiliza a chantagem envolvendo os filhos como forma de evitar o rompimento do relacionamento e a denúncia, de acordo com o relato da juíza. Andrea explicou que trouxe os relatos para mostrar que o drama dessas mulheres não é algo distante, que engloba pessoas de todas as classes sociais e com diversos níveis de instrução.
Para a juíza, quebrar o silêncio e buscar o auxílio da rede de proteção é a chave para as vítimas buscarem a interrupção do ciclo de violência. Conforme dados de 2013 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrados pela magistrada, 63% dos entrevistados acredita que os casos de violência doméstica devem ser discutidas só no âmbito familiar.
Sobre o impacto na área da saúde, a juíza citou que as vítimas de violência tendem a ter duas vezes mais chances de sofrer de depressão e de ter problemas com o consumo excessivo de álcool, entre outros.
Questionamentos
Ao ser aberto o espaço para questionamentos, algumas agentes de saúde relataram as dificuldades vividas no dia a dia ao se depararem com casos de violência. “Tive que registrar um BO para me proteger. As pessoas não têm ideia do que a gente passa”, disse uma profissional que denunciou um caso envolvendo uma criança. “De que forma poderíamos fazer as denúncias sem que sejamos vítimas depois?”, questionou a profissional, que relatou que elas e as colegas vivem próximo das famílias atendidas, dificultando as denúncias.
Andrea disse que a denúncia por parte do agente não é o único caminho possível, mas que o Disque 180 é uma opção que não requer identificação. Segundo ela, é importante que os profissionais informem em suas visitas as alternativas disponibilizadas pela rede de proteção, como a Casa Viva Mulher, o Fórum, a Delegacia da Mulher. “Elas têm direto de receber uma medida protetiva, que são deferidas em pouquíssimo tempo”, afirmou.
A vereadora e procuradora especial da Mulher Patrícia Beck apontou que a Procuradoria é mais uma porta, assim como a Patrulha Maria da Penha. Ela salientou que a maioria dos agentes é mulher e que também podem passar em suas residências por situações de violência semelhante.
A diretora de Gestão Ambulatorial e Atenção Básica de Saúde, Úrsula Vogel, reforçou que as agentes devem levar os casos constatados para a equipe. “Como profissionais, devemos identificar e auxiliar essa vítima e dar ferramentas para que ela siga a diante no processo de desvinculação dessa pessoa agressora”, afirmou.
Na abertura do evento, o presidente Felipe Kuhn Braun (PDT) agradeceu à Prefeitura pelo apoio ao possibilitar a participação dos agentes na atividade. “Está nas mãos de todos nós fazer a diferença”, disse o parlamentar ao comentar a abertura do espaço da Procuradoria Especial da Mulher, ocorrida no Legislativo no mês de março, e das ações que buscam pôr fim à violência de gênero.
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