Fundação de Saúde atende mais de 80% da alta complexidade do Vale do Sinos
Criada em 2010 como fundação estatal de direito privado, a entidade é vinculada à Secretaria da Saúde de Novo Hamburgo e atua exclusivamente no âmbito do SUS. Possui autonomia gerencial, patrimonial, orçamentária e financeira. A FSNH é responsável pela gestão do Hospital Municipal, das duas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), de 19 Unidades de Saúde da Família, duas Unidades Básicas, com 49 equipes, além dos Centros de Atenção Psicossocial, um laboratório, dois Centros de Diagnóstico por Imagem, Ambulatório de Saúde Mental Infantojuvenil e uma base do SAMU. Há também o programa Melhor em Casa, serviço multidisciplinar de atendimento domiciliar que visa à diminuição do tempo de internação dos pacientes. O Hospital Municipal conta com 197 leitos, com média de ocupação de 130%.
Ao todo, são 2.376 servidores, sendo 1.763 concursados e 1.298 atuando exclusivamente no hospital. Dentre as especialidades atendidas estão cardiologia, cirurgia vascular e torácica, ginecologia, infectologia, nefrologia, neurologia, traumatologia e pré-natal (de alto e baixo risco).
Teixeira apresentou um comparativo de desempenho financeiro entre 2024 e 2025. Os dados indicam crescimento nos atendimentos realizados pela FSNH, tanto nas unidades de urgência quanto no programa Assistir, do Governo do Estado. Segundo os números apresentados, esse aumento de demanda impacta diretamente nos custos operacionais da Fundação. Atualmente, existem quatro contratos de gestão com deficit mensal de cerca de R$ 4 milhões. Mesmo assim, ele pontuou que houve redução no tempo de espera para os atendimentos.
Novo Hamburgo é referência para 23 municípios da região, realizando 36% dos atendimentos de média complexidade e 81,1% dos de alta complexidade no Vale do Sinos. “Quando alguém fala que a tabela do SUS está defasada, é verdade. É importante sabermos o que o hospital faz. E a alta complexidade é a maior despesa”, afirmou Teixeira, apresentando dados do SUS. O gestor também mostrou reportagens sobre o panorama atual da saúde, com diversas cidades restringindo atendimentos devido à superlotação. “Apesar de tudo isso, o hospital nunca fechou as portas. Se seguirmos a BR-116 até Porto Alegre, o cenário é de caos. Precisamos valorizar o nosso hospital e a importância de quem realiza 80% da alta complexidade no Vale do Sinos.”
Diante dessa realidade, o gestor apresentou estratégias de sustentabilidade, como a transparência das informações, engajamento comunitário, otimização de recursos, revisão de contratos, aprimoramento da gestão de leitos e parcerias com municípios de referência.
Ao final, agradeceu a oportunidade de apresentar os serviços prestados pela Fundação de Saúde. “O que a população não sabe não é responsabilidade dela — é nossa. Esse é um movimento que precisamos e vamos fazer cada vez mais, começando aqui, pela casa do povo”, finalizou.
A secretária de Saúde, Betina Espindula, a diretora-presidente da FSNH, Vânia Horbach, e outros representantes da Fundação de Saúde estiveram presentes na sessão.
Questionamentos dos vereadores
O presidente da Comissão de Saúde, Joelson de Araújo, explicou que o objetivo do convite foi mostrar o que está sendo entregue à população hamburguense. O parlamentar também destacou a necessidade de firmar parcerias benéficas à comunidade e à saúde financeira do município.
Ico Heming questionou o valor da dívida herdada da gestão anterior e comentou sobre o número de cartões SUS informados pela administração — são 421 mil cadastros para pouco mais de 227 mil habitantes. O vereador perguntou se há investimentos dos municípios atendidos e sugeriu aos colegas uma força-tarefa para articular emendas parlamentares para a Saúde.
Conforme Renaro, a dívida herdada era de cerca de R$ 55 milhões. Ele explicou que, por ter gestão plena, Novo Hamburgo não recebe repasses de outros municípios. Os recursos são oriundos do Estado e da União.
Giovani Caju (PP) questionou como otimizar a gestão. Teixeira relatou que toda a diretoria foi escolhida com base em critérios técnicos, sendo composta, em sua maioria, por servidores de carreira. “Ainda estamos na fase de diagnósticos, mas estamos buscando melhorias, como a redução de contratos terceirizados. Assim, o que seria o lucro da empresa reduz os custos operacionais”, frisou. Para ele, uma das maiores preocupações dos gestores é o deficit estrutural e financeiro da instituição.
Eliton Ávila (Podemos) solidarizou-se com os profissionais da saúde, que fazem o melhor possível para atender à população. Ele lembrou que muitos não compreendem os fluxos internos necessários para a realização de procedimentos, muitas vezes responsáveis pelo aumento do tempo de espera dos pacientes.
Enio Brizola (PT) pediu informações sobre a lista de espera para cirurgias eletivas, a retomada das obras do Anexo II e a dívida com a concessionária de energia elétrica. Sobre o Anexo II, Teixeira comentou que a obra é responsabilidade do município, cuja Secretaria da Saúde já está redigindo o novo edital de licitação. Segundo ele, a Fundação está trabalhando no levantamento dos equipamentos e do pessoal necessário para atuar no novo espaço.
Quanto às cirurgias, a entidade já está habilitada no Programa Nacional de Redução das Filas, do Ministério da Saúde, mas ainda não possui espaço físico para realizar os procedimentos. A novidade, porém, é que a instituição conseguiu negociar com o município para receber os recursos adicionais. Agora, precisa de parcerias para utilização de blocos cirúrgicos em outros municípios — uma possibilidade seria Estância Velha. Quanto à dívida com a RGE, afirmou que o hospital, atualmente, não tem condições de firmar acordo ou parcelamento.
Deza Guerreiro trouxe à tona a questão da internação social. De acordo com o gestor, quase 10% dos leitos estão ocupados por pacientes que já poderiam ter alta. Atualmente, 18 pessoas se encontram nessa situação. Ele citou o exemplo de uma mulher hospitalizada há mais de 700 dias, com o caso já judicializado.
Ricardo Ritter – Ica (MDB) questionou sobre uma ala fechada do hospital devido a um incêndio criminoso ocorrido em janeiro. Teixeira relatou que há garantia de recursos do programa Avançar na Saúde, do governo estadual, para a reforma do local, que também trará acessibilidade a uma das áreas mais antigas da instituição. A reforma ainda será licitada.
Professora Luciana Martins (PT) agradeceu o entusiasmo do gestor, mas lembrou que é preciso cobrar do governador o cumprimento do investimento de 12% na saúde, conforme previsto na Constituição. Ela também mencionou o prejuízo de R$ 2 milhões ao hospital, citado por Teixeira, após a implantação do programa Assistir, ainda na gestão anterior. A vereadora questionou ainda os atendimentos nas unidades recentemente assumidas pela FSNH, após o encerramento do contrato com uma empresa terceirizada. O administrador explicou que não houve prejuízo nos atendimentos e que a Fundação presta o mesmo serviço com maior economicidade para o município.
Ito Luciano (Podemos) relatou a demora no deslocamento de pacientes das UPAs para o hospital, além de problemas na unidade do bairro Mundo Novo, especialmente quanto à falta de médicos. O parlamentar elogiou o trabalho realizado no hospital e destacou a mobilização dos vereadores e da Comissão de Saúde da Casa junto à Secretaria Estadual da Saúde diante dos cortes de recursos no programa Assistir.