Domingo Por Elas no Santo Afonso busca quebrar temor de vítimas de violência em buscar socorro

por Maíra Kiefer última modificação 12/11/2024 20h48
11/11/2024 – Elas eram a maioria entre aqueles que enfrentaram, no último domingo, 10, um calor que se aproximava dos 35°C para conhecer o trabalho de diversas entidades de proteção a vítimas de violência doméstica e de gênero. Das 14h às 17h, no Beco do Trabalhador, a sétima edição do Domingo Por Elas ofereceu à comunidade alternativas para pôr fim a ciclos de agressão e medo. Contudo, o temor que silencia por tantos anos as vozes de mães e crianças não se extingue com facilidade. Para a procuradora especial da Mulher, Lourdes Valim (Republicanos), quebrar a barreira entre as vítimas e aqueles que podem socorrê-las é uma das principais funções da Rede Integrada Laço Lilás.
Domingo Por Elas no Santo Afonso busca quebrar temor de vítimas de violência em buscar socorro

Crédito: Maíra Kiefer/CMNH

“O Domingo Por Elas propicia uma importante aproximação da população dos bairros com maiores índices de violência contra a mulher aos serviços de proteção de Novo Hamburgo. Por medo ou desinformação, algumas vítimas não buscam ajuda. Conhecer o que está ao seu alcance é o principal legado deste evento. É onde a resistência começa a ser desfeita”, avaliou Lourdes, uma das organizadoras da atividade.

Além da Procuradoria, estiveram presentes representantes da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), da Defensoria Pública, da Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar, do projeto de extensão Núcleo de Apoio aos Direitos da Mulher (Nadim), da Secretaria de Desenvolvimento Social e do Centro de Difusão e Defesa dos Direitos Humanos da Universidade Feevale, além de uma série de voluntários que ofereceram cortes gratuitos de cabelo, lanches, recreação e contação de histórias.

Para a responsável pela Defensoria Especializada em Atendimento à Mulher de Novo Hamburgo, Deisi Sartori, por ser um tema tabu, as mulheres ainda ficam muito constrangidas em buscar informação ou mesmo de serem vistas pela comunidade pedindo instruções. “Por isso é tão importante a gente se aproximar, conhecer, pedir licença para entrar nas casas e ir gerando uma aproximação, para elas conhecerem a Defensoria da Mulher, a Delegacia da Mulher e a Patrulha Maria da Penha. Para que elas saibam também onde procurar ajuda, nem que seja de uma forma mais discreta e longe da comunidade delas. Pode ser que não nos procurem aqui, mas saberão buscar no momento em que se sentirem empoderadas para isso”, afirmou.

Esse justamente foi o caso de Maria Alves Rodrigues Ullmann, moradora do bairro há quase quatro décadas. Quando precisou de auxílio, há cerca de 15 anos, buscou o atendimento do serviço Viva Mulher, alternativa que recomenda para outras cidadãs que passam por dificuldades, especialmente para atendimentos psicológicos, como ocorreu em seu caso.

Laura Bibiane de Oliveira, de 37 anos, mãe de quatro filhos, vivenciou a violência doméstica, tanto em sua forma física quanto psicológica, em seu primeiro casamento, há dez anos. Conseguiu a separação, mas não ficou com a guarda do filho, que vive com sua ex-sogra. À época, não buscou auxílio de nenhum órgão de apoio. Atualmente, mora com outros três filhos, estes de outro relacionamento.

Assim como Maria e Laura, várias mulheres circularam por entre as tendas dispostas no Beco do Trabalhador. Olhavam com certo receio e, ao serem questionadas se sabiam de casos de violência na vizinhança, calavam-se ou negavam saber de algo.

Presentes ao evento, os  soldados Scheila e Sandro, integrantes da Patrulha Maria da Penha, relataram que atualmente fazem 88 acompanhamentos de medidas protetivas. Na maioria dos casos, de mulheres na faixa de 25 a 39 anos. Eles explicaram que o Fórum, inicialmente, faz uma triagem dos pedidos encaminhados pela Delegacia e, posteriormente, a vítima é encaminhada para os cuidados da Brigada Militar. “A partir de uma ficha, com as informações disponibilizadas pelo Fórum, vamos até a casa das vítimas, procuramos saber se está tudo certo e fazemos o acompanhamento da medida protetiva. São feitas de seis a sete visitas diárias. E, pelo menos uma vez por mês, entramos em contato para ir até a residência delas, mas, em caso de vulnerabilidade, intensificamos os contatos”, relatou Scheila.

Segundo a policial militar, o perfil das ocorrências mudou significativamente nos últimos meses, com aumento no número de casos de lesões corporais graves. Ela informou que esses registros estão relacionados ao uso de entorpecentes por parte dos agressores, especialmente aos finais de semana. Nessas situações, as vítimas ou pessoas próximas devem buscar auxílio da Brigada Militar, ligando para o número 190.

Além dos serviços de apoio às vítimas de violência, o Domingo Por Elas facilitou aos participantes a confecção de documentos. Pela primeira vez na atividade, Audria de Oliveira, do Cartório de Registro Civil da 1ª Zona de Novo Hamburgo, coletou dados dos moradores da região – uma das mais atingidas pela enchente de maio – para a reimpressão de segundas vias de certidões de nascimento e casamento. Priscila Dias, de 34 anos, perdeu sua casa e todos os pertences nas fortes chuvas e conseguiu fazer os encaminhamentos tanto para ela quanto para os filhos.

Domingo por Elas