Comissão de Direitos Humanos vistoria trabalho de acolhimento a moradores de rua
Recebidos pelo coordenador do Centro Pop, Roni Gomes, o presidente da Codir, Enio Brizola (PT), e o relator, Professor Issur Koch (PP), expuseram as demandas recolhidas. O servidor fez questão de explicar que o Centro Pop não funciona como abrigo para moradores de rua, mas um espaço de referência, regulação, acolhimento, inserção social e redirecionamento de vida. O atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas, e inclui acompanhamento psicológico, banheiros para higienização, lavanderia e áreas de convivência. O serviço não inclui pernoite no local e a única refeição servida é o café da manhã – hoje, o Município disponibiliza pernoite apenas através da Casa de Acolhimento Bom Pastor, que oferece albergue para 10 pessoas e abrigo para outras 25.
Brizola questionou sobre a existência de uma política voltada para a ampliação do acolhimento durante as situações de frio extremo. Gomes respondeu que está sendo projetado outro espaço, que funcionaria provisoriamente ao longo do inverno. A expectativa é que o local entre em funcionamento ainda em junho. O parlamentar também perguntou sobre a distribuição de cobertas. “Temos uma quantidade exata comprada, sendo entregue um cobertor para cada pessoa que temos cadastrada”, comunicou. Além disso, ele apontou que, nessa época do ano, aumenta o volume de doações, o que ajuda a suprir as carências desses cidadãos.
Issur destacou que existe um pensamento de que a vinda de pessoas em situação de rua de outras cidades se deve justamente à solidariedade de muitos hamburguenses. Gomes ressaltou que Novo Hamburgo acaba sendo um destino comum por diferentes fatores. “A cidade oferece segurança, ao contrário de Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, por exemplo. A estratégia de ocupar as áreas centrais, inclusive, é mais por causa da segurança. Outro fator eram os banheiros da Praça do Imigrante, que hoje estão desativados. Mas é preciso ter em mente que, mesmo oferecendo comida, não oferecemos dignidade; a pessoa seguirá se alimentando sentado no meio-fio. O assistencialismo é inimigo da assistência social, não auxiliando na ressocialização e na emancipação do cidadão”, declarou.
Segundo seu coordenador, o Centro Pop atendeu 1.077 pessoas diferentes ao longo de 2017, muitas das quais apenas de passagem pela cidade. “Atendemos cerca de 70 pessoas por dia e temos uma média de 400 novos atendimentos a cada ano”, complementou. A equipe técnica atua no sentido de direcionar as pessoas, seja encaminhando para atendimento especializado ou auxiliando na inserção social e laboral dos moradores em situação de rua. Auxilia também nesse processo a realização de projetos de extensão junto aos cursos de direito, enfermagem, pedagogia e psicologia da Universidade Feevale, que preparam, inclusive, para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).“Oferecemos atendimento técnico para que essas pessoas possam repensar suas estratégias de vida. O carro-chefe do Centro Pop é a educação social”, definiu Gomes.
Brizola demonstrou preocupação também com as estratégias adotadas para a inclusão de moradores de rua em programas habitacionais e na inserção no mercado de trabalho. “Pensávamos na possibilidade de abertura de vaga junto ao Programa Catavida, com um foco mais de inclusão social mesmo”, acrescentou o parlamentar.
Gomes argumentou que Novo Hamburgo carece de previsão legal para o estabelecimento de cotas para pessoas em situação de rua, seja junto ao Catavida, empresas com contratos vigentes junto à Prefeitura ou em novos empreendimentos habitacionais. “Sem isso, fica bem mais complicado termos sucesso. Mas seguimos trabalhando na confecção de currículos e em articulações com a AME (Agência Municipal de Empregos)”, concluiu. A comissão se comprometeu a encaminhar a devolutiva apurada junto ao Centro Pop/SAS Rua às pessoas que motivaram a vistoria.
Exemplo de reinserção social
Pai de uma menina de um ano e desempregado há 18 meses, A. Silva, de 30 anos, deixou Florianópolis em busca de uma vaga de emprego. Sem dinheiro para pagar aluguel, Silva viu-se em situação de rua e buscou o equipamento público na tentativa de uma vida melhor. Com o auxílio dado pelo Centro Pop, ele voltou ao mercado de trabalho há uma semana. Ele relatou que, diferente de muitos que frequentam o centro, seu problema não foi uso de drogas, mas financeiro. Falou também da luta pela sobrevivência e do preconceito com moradores de rua. “Prefiro não me identificar, pois não quero que saibam no meu trabalho. Aqui, tenho a oportunidade de tomar um banho quente, fazer minha higiene, o que me ajudou a conquistar a vaga. Agora, pretendo voltar a estudar", finalizou.