Coordenador de Igualdade Racial explica declarações feitas na apuração do Carnaval

por mairakiefer — última modificação 16/10/2020 20h00
06/04/2016 – O titular da Coordenadoria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, Eduardo Gomes da Silva, conhecido como Tamborero, participou da sessão desta quarta-feira, 6. Ele salientou a importância de se debater a questão racial, e lembrou que Lei Áurea, que acabou com a escravidão, não deixou nenhuma garantia para a população negra. Isso ainda deixa marcas na sociedade: por exemplo, negros são a maioria das vítimas de homicídio no Brasil, analisou.

Tamborero disse que nunca chamou ninguém de racista, mas afirmou que as propostas que abordam a cultura negra ainda enfrentam muita resistência. “Vivemos numa cultura racista.” O coordenador explicou que são desenvolvidos vários projetos sobre a cultura negra em Novo Hamburgo, porém ainda é necessário avançar. “É preciso fazer uma reflexão.” Sobre o Carnaval, disse que há, sim, muitas comunidades hamburguenses que se expressam por meio dele.

Falas dos vereadores

Enio Brizola (PT) concordou com a fala de Tamborero. Patrícia Beck (PPS) perguntou o que exatamente o coordenador falou sobre os vereadores na abertura do Carnaval. “Eu fiz uma fala do sentimento da comunidade negra sobre as discussões que aconteceram aqui. Foram três projetos votados, mas o mais polêmico foi o do Carnaval”, ele respondeu. Patrícia disse que discordava do projeto porque, na sua opinião, as escolas de samba deveriam receber um tratamento melhor do Executivo. “Também questiono destinar meio milhão para apenas uma noite, quando temos problemas na oncologia.” Patrícia disse que ficou muito chateada por ter sido chamada de racista num evento oficial, e destacou que, por ser mulher, entende o que é não ter um tratamento igual. Tamborero disse que repetiria a sua fala – e que nunca citou o nome da vereadora.

Cristiano Coller (Rede) disse que a grande briga não é ser Carnaval, mas a de os projetos que vêm em cima da hora para aprovação. “Por que não podemos votar este ano a subvenção para o ano que vem?” Sergio Hanich (PMDB) disse admirar o movimento negro mas que, em sua visão, cotas são uma forma de racismo. Ele concordou com a fala de Coller: segundo ele, os vereadores questionam a forma como os projetos chegam à Câmara. “É uma vergonha o que o Executivo vem fazendo com os carnavalescos, não esta Casa.”

Fufa Azevedo (PT) afirmou que é preciso ter sempre em mente que os brancos nunca foram escravos – e os negros foram. Segundo ele, não podemos usar a exceção como se fosse a regra. “Uma pessoa supera a condição de ser pobre e negro no Brasil”, exemplificou. “Como o Estado é o mediador da justiça social, cabe a ele obrigar à força que a sociedade compense males que ela mesma criou, como a escravidão.”

Professor Issur Koch (PP) disse admirar muito o trabalho de Tamborero. “Mas fiquei magoado contigo. Sempre tivemos uma conversa muito franca, muito aberta, e tu foi na tua rede social e escreveu que o Issur e outros são contra a cultura em Novo Hamburgo. Sustentei minha filha tocando violão. Minha fala, na votação dos recursos para o Carnaval, foi em relação a como o projeto chegou nesta Casa. Eu já pedi que o recurso para o Carnaval venha logo após a aprovação do orçamento.”

Raul Cassel (PMDB) salientou que a coordenadoria foi criada há oito anos, mas nunca pediu espaço na Casa para trazer temas que acredita ser importantes. “Me senti ofendido. Atendo pessoas de todas as raças, todos os dias, mediante juramento, tanto no meu consultório até nos postos de saúde pelos quais passei. Esse tipo de colocação pública é uma ofensa. O senhor precisa separar o que são políticas de igualdade racial e o que é defesa de seu governo.” Por fim, ele afirmou que gosta de Carnaval, mas discorda de como algumas coisas são feitas em Novo Hamburgo.

Tamborero voltou a afirmar que não chamou ninguém de racista, mas que vai seguir denunciando as práticas racistas. “A gente tem o direito de falar. Eu também fiquei magoado pelo tipo de debate.” Ele lembrou que outras propostas que tratam da questão dos negros também geraram polêmica, como o conselho de igualdade racial. E entregou aos vereadores um Estatuto da Igualdade Racial.

Roger Corrêa (PCdoB), que estava presidindo a sessão, salientou a importância desses debates, e voltou a destacar que o fim da escravidão não trouxe nenhuma política para as comunidades negras.

Issur Koch (PP) disse achar a discussão sobre racismo muito complicada, porque é professor e não pode dizer aos alunos que eles são diferentes. Sobre o projeto do conselho, o vereador salientou que o debate foi pela inclusão dos indígenas. “É tanto projeto tratando de cor que estão me induzindo a tratar as pessoas por cor.”

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