Câmara promove audiência contra privatização da Trensurb

por danielesouza — última modificação 16/10/2020 19h59
19/07/2016 – Metroviários lotaram o Plenário para debater o caráter público estatal da empresa Trensurb. A audiência pública ocorreu nesta terça, 19, por iniciativa da Comissão de Obras, Serviços Públicos e Mobilidade Urbana. O grupo de trabalho é integrado pelos vereadores Cristiano Coller (Rede), Jorge Tatsch (PCdoB) e Gerson Peteffi (PMDB).

Tatsch presidiu o encontro. O parlamentar, que trabalhou no Consórcio Nova Via - responsável pelas obras de extensão do trem até Novo Hamburgo, demostrou preocupação com a possível privatização da empresa. Segundo ele, isso implicaria em um grande aumento no valor da passagem. Coller ressaltou que a Câmara está aberta ao diálogo e é parceira nessa luta. “Imagina um trabalhador que ganha salário mínimo ter que arcar com o dobro do valor que paga atualmente?”

Érico Correa, da Central Sindical e Popular Conlutas, saudou os metroviários presentes, os quais considera que além de defenderem seus empregos buscam manter esse serviço público de qualidade a um baixo custo. “Há uma política econômica para transformar o que é público em privado. E independente do governo, o caminho agora está aberto para se fazer isso de uma forma mais rápida.” Ele lembrou que muitas empresas querem “abocanhar esse filão de mercado” e também de projetos que estão tramitando no Congresso, que alteram direitos dos servidores públicos, além da PEC 241/2016, que estabelece um teto de gastos públicos. “Há uma política clara de desmonte do serviço da Trensurb com o intuito de ganhar a simpatia dos usuários para privatizar a estatal.”

O presidente do SindMetrô RS, Luis Henrique Chagas, agradeceu o apoio do vereador Jorge Tatsch. “Nossa maior luta é manter a Trensurb como empresa pública, prestando um serviço de qualidade.” Ele frisou que a tarifa no Rio, que foi privatizado, é de R$ 4,10, enquanto na nossa região custa R$ 1, 70. “Existe um processo de sucateamento constante, como já ocorreu com a CEEE e CRT. Um exemplo são as grandes filas nas estações. Isso não é culpa do trabalhador, mas do gestor da empresa que não contrata.” Chagas enfatizou ainda que em 31 anos de operação nunca houve acidentes com usuários. “Pesquisas mostram que há mais de 90% de satisfação da população. Um dia sem metrô, representaria mais três mil viagens de ônibus entre Porto Alegre e Novo Hamburgo.” Ele destacou ainda que o trem é um veículo não poluente e que a manutenção é feita pela própria empresa, sem interferência do Estado. O que se vê nos noticiários, segundo ele, é o envolvimento de muitos corruptos com a venda de empresas ou terceirizações. “Há quem interessa a privatização?”, questionou.

Elias José, representando a Federação Nacional dos Metroferroviários - Fenametro, falou sobre um evento realizado recentemente em São Paulo. O encontro reuniu mais de 19 países que lutam contra as privatizações. “Na nossa concepção, transporte público é vida, porque o trabalhador tem o direito de se locomover com segurança, no menor tempo possível. Mas os empresários acreditam que serve somente para gerar lucro.” Ele citou o exemplo do Rio. Privatizado em 1998, o metrô tem hoje metade do contingente, salário 1/3 menor, além da passagem de metrô mais cara do mundo. José conclamou os trabalhadores à luta. “Temos que sair daqui dispostos a vencer essa batalha”.

O diretor de administração e finanças da Trensurb, Francisco Jorge Vicente, lembrou que é ferroviário de carreira e atuou na fundação do sindicato. “Há uma grande ofensiva da direita capitalista no mundo todo, e isso justifica a nossa defesa do caráter estatal da Trensurb.” Ele destacou as características da empresa e da decisão de manter a mesma tarifa desde 2010. Vicente falou sobre o problema dos novos trens. Segundo ele, a Trensurb está cobrando multas e todos os custos adicionais da empresa que vendeu os equipamentos, pois houve um erro de projeto. “Exigimos que todos os trens fossem reformados e certificados. A expectativa é de que até outubro toda a nova frota já esteja rodando novamente.” O diretor falou ainda sobre a tecnologia do aeromóvel, mais uma alternativa de transporte barato e não poluente. Lembrou que a empresa já passou por outros dois movimentos privatizatórios, mas conseguiu resistir a eles com a luta do sindicato e dos trabalhadores. Ele admitiu a defasagem de pessoal, mas afirmou que a empresa pretende contratar mais funcionários. “A direção da empresa é favorável à manutenção da Trensurb como estatal. Acreditamos que o transporte coletivo deve ser de responsabilidade do Estado e ter controle público.”

Após as falas, os participantes fizeram questionamentos aos convidados. Entre as indagações, o formato de implantação do aeromóvel em Canoas, a contratação de pessoal, a linha 2 de Porto Alegre, além de diversas manifestações de metroviários cobrando melhorias das condições de trabalho, especialmente nas estações.

 

Frente Parlamentar

Na sessão do dia 4 de julho, o presidente do Sindimetrô RS, Chagas, usou a tribuna popular a convite de Tatsch. O Legislativo hamburguense criou a Frente Parlamentar contra a Privatização do Trensurb por meio do Requerimento nº 115/2016, composta por Tatsch (PCdoB) e Roger Corrêa (PCdoB) - presidente.