Em audiência pública, moradores questionam empreendimento no Vila Rosa

por tatianelopes — última modificação 16/10/2020 19h59
28/08/2013 – Com o Plenário lotado, foi realizada na noite desta quarta-feira, 28, audiência pública sobre a destinação da antiga área de Estádio Santa Rosa e a construção de empreendimento imobiliário no local. É que muitos moradores não concordam com esta última alternativa. A reunião foi convocada pelas Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Defesa do Consumidor (integrada por Professor Issur Koch, Luiz Fernando Farias e Cristiano Coller) e pela Comissão de Obras, Serviços Públicos e Mobilidade Urbana (integrada por Sergio Hanich, Gerson Peteffi e Cristiano Coller).

Audiência Pública Vila RosaEstavam presentes ainda o presidente da Câmara, Antonio Lucas (PDT), e os vereadores Gilberto Koch (PT), Raul Cassel (PMDB) e Patrícia Beck (PTB). Issur (PP) abriu a audiência destacando que o objetivo é expôr à comunidade os estudos que vêm sendo feito sobre a área. “Que possamos debater juntos o destino daquele local. Muitos acham que ela deve ser destinada ao esporte; outros, ao lazer. É importante deixar bem claro que esta Casa não se opõe a nenhum tipo de empreendimento, mas que seja feito dentro das normas.” O progressista frisou que a ideia é evitar futuros problemas, e salientou que há apenas uma escola dentro do bairro. “Além disso, não temos nenhuma creche na região. E o transporte público já não é suficiente. Novo Hamburgo deve crescer adequadamente, senão depois vamos correr atrás do prejuízo.”

 

Associação dos moradores

 

A presidente da Associação dos Moradores dos Bairros Vila Rosa e Rio Branco, Raquel Agostini, salientou que a cidade vive um crescimento desordenado, e ponderou que a obra prevista para o local terá impacto em toda a vizinhança. “Ela está vindo de encontro ao que esperamos de um município que busca o crescimento sustentável.” Raquel apresentou diversos dados sobre o bairro, destacando que não há serviços públicos de saúde, educação, lazer e transportes disponíveis aos moradores.

 

Estudo técnico

 

O representante do corpo técnico da LZ Ambiental Consultoria e Serviços, arquiteto Cláudio Mendonça, disse que o estudo de impacto do local foi feito com um viés técnico. “Não fizemos um juízo de valor. Não temos nenhum vínculo com a empresa que está pleiteando o empreendimento. Concordo com o que foi dito aqui, mas não podemos perder de vista que estamos falando de uma área privada, e não de uma área pública.”

 

Posição da Prefeitura

 

O secretário municipal do Desenvolvimento Urbano, Moisés Medeiros de Souza, disse que a comunidade tem questionado o empreendimento por e-mail, telefonemas e até pessoalmente. Ele explicou que o Poder Público Municipal pediu um estudo de impacto de vizinhança, um instrumento previsto no Plano Diretor. “O projeto ainda não está aprovado. Se ele já estivesse aprovado, não teria sentido pedir estudo de impacto de vizinhança,. Neste momento, não cabe à Prefeitura ser favorável ou contrária.” O estudo foi repassado a diversos setores do Executivo, que deverão analisar e fazer suas manifestações. Por isso, este é o momento da comunidade também participar, disse. Após, começa a segunda fase do processo, e a Prefeitura poderá pedir mais informações à empreiteira e até realizar uma nova audiência pública sobre o tema.

 

Manifestações do público

 

Reinaldo Novaes questionou qual a coisa certa a ser feita. “Tecnicamente, é possível construir apartamentos, alargar ruas, até desalojar pessoas. Mas é isso o que se quer? Novo Hamburgo está perdendo seu maior patrimônio urbanístico: o espaço. Estamos seguindo um modelo falido. Não importa se a área é privada ou não.”

Juliana Sartori disse que os moradores estão muito preocupados com a obra, pois acreditam que trará muitos prejuízos. “Será que existe estrutura para atender essa demanda?”, questionou. Ela apresentou um vídeo sobre o bairro. Ane Mariane Silva relatou que, durante o verão, a falta de água é um problema frequente. “Se já não tem para nós, como vai ter para o dobro da população?”

Leonardo Greff disse que existem instrumentos jurídicos para transformar o espaço em área de lazer. E perguntou quais as contrapartidas da empreiteira e da Prefeitura, caso a obra seja executada. “O Município ainda não disse o que vai ser feito para a melhoria do bairro.” O secretário reiterou que o processo ainda está em fase de estudo de impacto de vizinhança.

Ana Maria Kich também destacou a falta de água. “Não é só no verão, mas todos os meses sofremos com isso.” E ela ponderou que, caso seja inevitável a construção do empreendimento, venham contrapartidas aos cidadãos. Alexandro Amaro disse que sua preocupação é mobilidade. “É poder andar numa calçada segura, ir de bicicleta ao trabalho...”

Vânia Francisco afirmou que os moradores estavam com expectativa de que aquele espaço seria transformado em área de lazer. Maurício Henz citou o exemplo de um bairro de São Paulo, Vila Madalena, que foi tombado e que, hoje, abriga cafés, brechós e outros espaços de convivência. “Quem sabe, na Vila Rosa poderemos ter mais cultura, mais gastronomia, gerando empregos.”

Ruimara Stein apontou que o cerne da questão foi a ideia de que a Feevale havia comprado o espaço para transformá-lo em área de lazer. “Acho que deveria ter representantes da universidade aqui, para responder o que está acontecendo. Mudaram o foco?” Ela também perguntou o que irá ocorrer se a venda à empreiteira for concretizada.

A professora Sílvia Coller, falando em nome de seu aluno Bernardo Cykman, disse que na sala de aula são trabalhados temas como sustentabilidade e bem-estar. “Mas, para tudo isso ter sentido, deve ser vivido fora da escola.” O menino finalizou contando que muitas crianças brincam naquele local, jogando bola e andando de bicicleta. Lenira Brisch disse que o projeto tem uma grande fragilidade técnica na questão de mobilidade e também perguntou sobre medidas compensatórias.

 

Posição da empresa

 

O representante da MRV Engenharia e Participações S.A., Fábio Ruschel, afirmou que a empresa tem anos de mercado e nunca teve de parar um empreendimento. Ele garantiu que a construção a ser feita não ficará fora do padrão do bairro, e mostrou fotos obras feitas pela empresa.

 

Falas dos vereadores

 

Patrícia Beck (PTB) afirmou estar do lado dos moradores. “A comunidade está se sentindo enganada, pois houve promessas. Para planejar nossa cidade não podemos deixar de ouvir a população, e hoje estamos ouvindo reivindicações legítimas. Novo Hamburgo está virando uma cidade dormitório.” Cristiano Coller (PDT) perguntou quais seriam as contrapartidas aos cidadãos.

Raul Cassel (PMDB) ponderou que as transformação pelas quais a cidade já passou significam hoje, por falta de planejamento, que pessoas perdessem suas casas. “Temos uma carência habitacional nas áreas mais periféricas da cidade. Mas nossa cidade está no limite: sobram pouquíssimas áreas no Alpes do Vale e no Boas Saúde, e o resto é Lomba Grande. Do contrário, estamos sufocados por um crescimento desordenado. Temos que ser realistas, o terreno tem dono. Porém, a razoabilidade vai passar pelo crivo da Prefeitura. As contrapartidas são possíveis, e acabam sendo uma opção e uma oportunidade. Espero que essa mobilização continue.”

Sergio Hanich (PMDB) parabenizou a comunidade pela mobilização. “Somente a união faz a força.” Ele disse que Novo Hamburgo tem de crescer – mas que esse crescimento deve ser pensado. E ressaltou haver outras áreas mais adequadas para o tipo de empreendimento previsto para aquele espaço. “Não temos rotatórias, não temos sinaleiras sincronizadas, nem elevadas ou ciclovias”, lamentou.