A educação de Novo Hamburgo em debate na Câmara

por mairakiefer — última modificação 16/10/2020 19h58
20/05/2013 - “A educação de Novo Hamburgo – onde estamos, onde queremos chegar” foi o tema da audiência pública realizada na noite desta segunda-feira, 20. O autor do requerimento foi Issur Koch (PP). Fizeram parte da mesa a presidente do Sindicato dos Professores de Novo Hamburgo, Andreza Formento, o presidente da Apemem da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Jacó, Pedrinho Ritzel Júnior, e o presidente da Apemem da Escola Municipal de Educação Infantil Arca de Noé, Rafael Amaral Reis. Estavam presentes ainda os vereadores Patrícia Beck (PTB), Naasom Luciano (PT), Jorge Luz (PMDB), Roger Corrêa (PCdoB), Jorge Tatsch (PPS), Cristiano Coller (PDT) e Raul Cassel (PMDB).

Issur leu a justificativa de ausência enviada pelo secretário de Educação, Alberto Carabajal, que explicou estar na aula magna da Universidade Feevale, que teve como palestrante a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Depois, o vereador destacou que esta deve ser a primeira de muitas audiências. “Queremos fazer leituras da situação da educação para apresentarmos um documento ao Poder Executivo, com metas a curto prazo. A próxima está marcada para o dia primeiro de julho, e o tema será assédio moral, para começarmos a fazer uma lei sobre o assunto.”

Participação dos pais

Pedrinho Ritzel Júnior destacou que falta de educação gera violência, um sistema corrupto, um povo que não lembra das falhas do passado nem conhece a sua história. “Novo Hamburgo, hoje, é um reflexo do Brasil em geral. Como filho de ex-professora do Estado e do Município, conheço na prática a luta por melhorias e reconhecimento. É um problema histórico. Estamos colhendo os frutos plantados no passado: faltou investimento em escolas, em professores. Professores deveriam ser mais reconhecidos. Ninguém seria médico nem engenheiro se não fosse o professor. Mas, se lá atrás não foi feito, podemos começar agora.”

Ele apontou que a comunidade da Escolas São Jacó busca fazer a sua parte, promovendo um local bonito e agradável para os estudantes. “Temos muitos projetos dos quais os pais participam ativamente”, disse, citando campanhas de recolhimento de lixo eletrônico e de arrecadação de agasalhos. “Porém, existem questões que estão fora do nosso alcance. Queríamos contar com um guarda municipal. Também gostaríamos que os professores fossem melhor remunerados e valorizados. E que a escola tivesse mais professores para matérias extracurriculares, como educação de trânsito, pois o trânsito de Novo Hamburgo, hoje, é intolerante. Poderíamos também ter aulas de música.”

Cumprimento das leis e diretrizes

Rafael Amaral Reis afirmou que a situação é preocupante, pois a estrutura das escolas está depreciada e o quadro de professores, incompleto. “Temos um grande número de professores em estágio probatório devido à rotatividade. Estamos perdendo profissionais qualificados para a maioria das cidades vizinhas.” Ele apontou ainda a falta de vaga em escolas de educação infantil. “Nós, os pais, temos um papel muito importante, Temos o dever de exigir que as leis sejam cumpridas.” Ele lembrou a legislação que garante 1/3 de hora-atividade aos professores, que não é cumprida em Novo Hamburgo, e as diretrizes previstas no documento relativo à primeira conferência sobre educação do Município. “Apenas construir um documento não basta, temos que colocar em prática o que está escrito.”

Assédio moral

Andreza Formento lamentou não haver representantes do Poder Executivo na audiência. “Pedimos a intermediação dos vereadores no diálogo com a Prefeitura, para negociarmos não só nosso salário, mas qualidade para a educação de Novo Hamburgo.” Ela destacou a importância de se falar sobre assédio moral. “Temos uma grande dificuldade de diálogo. Temos lutado pelos nossos alunos e pela nossa profissão. Há dificuldades na estrutura, Temos escolas em que, quando chove, há goteiras. Temos escolas que não possuem ventilação adequada, vidros quebrados e iluminação precária. Também temos a questão dos alunos com necessidades especiais: necessitamos de professores especializados. Fica aqui o nosso posicionamento: sendo Novo Hamburgo uma cidade que tem assumido tantos projetos do governo federal, por que não assumir um compromisso público contra o assédio moral? Essa questão está presente em todos os aspectos do magistério. Uma das consequências do assédio é o adoecimento.” Andreza lembrou que o Município já tem uma lei contra o bullying – e, por isso, não é coerente não debater o assédio moral.

Andreza ponderou que os professores carregam sozinhos o fardo da responsabilidade pela qualidade da educação. “Educação se faz com professores, mas precisamos de infraestrutura, de tecnologia, de profissionais da saúde, de investimentos e reconhecimento da formação. E a categoria exige autonomia pedagógica. O governo tem assumido diversos programas de ensino, mas em que momento está discutindo com o magistério e as comunidades escolares? Como é possível construir algo sólido se não começamos na base?”, questionou. Por fim, afirmou que o plano de carreira desmotiva, por isso professores acabam migrando para outras cidades.

Perguntas dos vereadores

Inspetor Luz (PMDB) dirigiu-se a Andreza ao apontar que o Brasil está nas últimas colocações nos rankings internacionais quando o tema é educação. “Como isso se reflete em Novo Hamburgo?”, perguntou. O vereador também questionou como ocorre o assédio moral, quais as principais demandas de infraestrutura e se a merenda é oferecida adequadamente.

Andreza afirmou que Novo Hamburgo tem um grupo de professores bastante qualificados. “Muitos têm pós-graduação, mestrado e doutorado. Só não há mais qualificação porque não há incentivo. A grande dificuldade está em manter os profissionais qualificados na rede. Não há incentivo no plano de carreira, há dificuldade de diálogo com a administração, e isso vai se refletir na dificuldade de diálogo com o administrador da escola também. Em relação a questões materiais, temos realidades variadas, os maiores problemas de infraestrutura estão principalmente nas escolas de periferia. Ficamos em débito com relação à segurança dos nossos alunos.” Sobre a merenda, ela disse que há representantes do Sindiprof fazendo a inspeção da distribuição, e que ocorrem problemas eventuais, como alguma fruta não estar em boas condições.

Roger Corrêa (PCdoB) falou sobre o trabalho da Comissão de Educação da Casa. “Iniciamos o trabalho em fevereiro, e a primeira ação foi uma reunião com o Sindicato dos Professores”, disse, destacando que a próxima ação será a realização de visitas semanais às escolas. “E no dia 22 do próximo mês teremos a conferência municipal de educação.” O vereador perguntou a Andreza e aos pais como planejam a participação nesse diálogo. Rafael disse não saber de uma nova conferência municipal. “Principalmente porque não vi nenhuma ação relacionada à primeira.” Andreza apontou ser muito interessante que a comunidade escolar se una para cobrar que as coisas combinadas em leis e outros documentos sejam realmente cumpridas. Roger explicou que uma nova conferência ajuda a ver o que se avançou após a primeira.

Naasom Luciano (PT) questionou ao Rafael sobre o documento construído na primeira conferência sobre educação. “É um plano de ação e metas? Ou foi combinado que no dia seguinte tudo seria implementado?” Rafael disse que a administração definiu cinco eixos a ser debatidos, e que dentro desses eixos foram estabelecidos princípios e diretrizes. “Foi, sim, falado que isso seria válido assim que o documento fosse concluído. O prazo para iniciar é, sim, no dia seguinte. Mas estamos a dois anos da conclusão do documento, e não vi nenhuma ação. E esse documento tem força de lei, porque foi uma plenária. Se nós acharmos uma maneira de fazer com que seja cumprido, grande parte dos problemas da educação de Novo Hamburgo será resolvido.”

Naasom perguntou a Andreza se o sindicato tem sugestões para o Executivo para a implantação das exigências da categoria. A professora explicou que o sindicato é um grupo de professores, e que as reuniões ocorrem de acordo com a realidade dos profissionais. “E não é da nossa competência legislar na cidade.” Ela destacou que o sindicato busca diálogo, mas que tem sido difícil.

Raul Cassel (PMDB) destacou a importância da educação. “Mas tenho a impressão de que, hoje, virou estatística. E reparo, também, que diminuiu a qualidade como um todo.” Ele perguntou o que está sendo pensado, pelos pais e professores, para a educação de Novo Hamburgo, diante da falta de motivação e de diálogo. Andreza voltou a enfatizar a necessidade de diálogo; e Pedrinho, a importância da valorização dos professores. Rafael disse ver que a sociedade como um todo espera o que o governo dá. “Mas nós temos que saber o que a lei garante e fazer cumprir.”

Patrícia Beck (PTB) sugeriu à Comissão de Educação que fizesse um documento para buscar informações sobre a segurança nas escolas e visitas em todas as escolas municipais. “Podemos contar com o Sindiprof para que nos aponte as escolas mais carentes, que precisam de melhorias mais urgentemente.” Ela frisou ainda que o debate deve ser ampliado, com a participação de escolas estaduais, privadas e universidades.

Cristiano Coller (PDT) destacou que sempre estudou em escolas públicas, e perguntou quantas escolas têm alunos com deficiências. “Todas”, responderam os professores presentes.

Participação da comunidade

Lindomar Getúlio, da Rádio Ideal, contou que foi professor por quatro anos mas desistiu e resolveu montar um negócio. “Tem um lado meu que é frustrado. Tenho notado que a educação está regredindo. Sou delegado do orçamento participativo e vejo professores organizando alunos para votar pela reforma de escolas – coisa que não deveria estar no orçamento participativo.”

Marino Klauch, da EMEF João Golart, disse que tem muitas dificuldades em buscar melhorias na escola. “Quando a gente vai pedir algo, sempre dizem que temos que colocar no orçamento participativo.” Ele pediu que os vereadores ajudem a comunidade escolar a encontrar uma maneira de agilizar as demandas.

Luciana Martins, da mesma escola, disse que, apesar de todas as dificuldades, os professores seguem essa carreira porque acreditam na educação. “Fazemos, sim, uma educação de qualidade, não desprezando as dificuldades que temos.” Ela afirmou, contudo, que a educação pública é papel do estado. “Quem tem que manter e prover é o gestor público, para isso todos nós pagamos nossos impostos. Nunca se aplicou tão pouco em educação em Novo Hamburgo, mas só iremos avançar com investimentos.”

Lenira Brisch, da EMEF Adolfina Diefenthaler, parabenizou os vereadores que estavam presentes. “Quem não leu 'Crônica de uma morte anunciada', do Gabriel Garcia Márquez? É o que estamos vivenciando. Os vereadores sabem que sofremos assédio moral. Não queremos aumento, queremos uma lei sobre assédio moral. Queremos legislação, ser respeitados e democracia.”

“Como alfabetizar na idade certa com uma sala com 30 alunos, sendo dois com necessidades especiais?”, perguntou Madebe Schmidt, da EMEF Vereador Arnaldo Reinhardt. “Que inclusão é essa quando colocamos a criança na escola sem nenhum atendimento e a escola deve fazer milagre.”

Cláudio Roberto, presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Consea), disse nunca ter recebido denúncias sobre problemas na merenda. “Quem tiver, deve nos levar.”

A aposentada Claudia Limong disse que a conferência municipal foi realizada nas escolas e depois levada à Fenac. “Estudamos o ano inteiro isso. Mas isso envolvia o trabalho em conjunto, e acho que este é o problema, as coisas não evoluíram. Trabalhei até o ano passado com crianças que não tinham água em casa, famílias com até 12 filhos. E hoje temos muitas crianças que precisam de atendimento psiquiátrico.”

Maria Cecília Braun, do Sindiprof, disse não haver recursos suficientes para a alimentação. “Acho que é interessante vocês verem de perto as condições de trabalho e o espaço em que é servida a alimentação, além das condições de higiene, como a falta de condições de se lavar as mãos.” Ela lamentou também a falta de liberdade para se comprar os itens considerados mais adequados a determinadas comunidades.

Jaqueline Staudt, da Escola Eugênia Nelson Ritzel, lembrou que a escola ficou famosa por aparecer na TV como exemplo de baixa qualidade na educação. “Estamos melhorando, mas a SMED não deu condições. Não temos bibliotecária. Hoje ouvi alunos dizendo que estudam na pior escola de Novo Hamburgo.” Ela destacou ainda que não há banheiros adaptados para alunos com deficiências e falou sobre muitos outros problemas enfrentados diariamente pelos alunos e pelos professores.

Claudinha Rieger, professora que atua em duas escolas municipais, disse que queria trabalhar junto a assistentes sociais, agentes de saúde, representantes do meio ambiente e da segurança. “Estamos ultrapassando aquilo que nos é pertinente. Nossa função é educação. Não tenho o poder de ser a mãe, a psicóloga, a enfermeira. Estamos ficando doentes porque estamos abraçando aquilo que não nos compete.

Considerações finais

Issur disse que as colocações feitas serão a base de ações em busca de melhorias. “Isso vai, sim, ter um resultado prático, vamos brigar por essas demandas.” Cassel pediu que todas as escolas enviem relatórios aos vereadores. “Nem sempre conseguimos ver tudo nas visitas.”