Plenário lotado para debate sobre saúde mental

por admin última modificação 16/10/2020 19h58
Atividade fez parte da Semana da Luta Antimanicomial
Com o plenário da Câmara Municipal mais uma vez lotado, a saúde mental e a qualidade de vida foi o tema que norteou a Audiência Pública realizada na noite do dia 20 de maio. A iniciativa partiu de uma ação conjunta da Comissão de Saúde, presidida pelo vereador Raul Cassel, do PMDB, e da Secretaria Municipal de Saúde e faz parte da programação da Semana da Luta Antimanicomial, que acontece de 18 a 23.

A abertura da atividade foi realizada por Cassel. Também compuseram a mesa, Maria de Lourdes Flores, da Associação de Usuários e Amigos da Saúde Mental Novo Tempo; Laura Laguna, do Conselho Municipal de Saúde; Sandra Fagundes, representante dos trabalhadores em Saúde Mental; Fábio Moraes, coordenador do Departamento de Saúde Mental; e Florizeu Campos, representante da Secretaria Municipal de Saúde. A Comissão de Saúde também é formada pelos vereadores Matias da Silva Martins, do PT, e Volnei Campagnoni, do PC do B.

Antes do debate, aconteceu a apresentação cultural do grupo Paranóia Produções, de Novo Hamburgo, e a exibição do documentário "Um outro olhar", sobre os Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs), produzido pelo Ministério da Saúde. De acordo com o filme, no Brasil, atualmente, há mais de mil CAPSs em funcionamento. O Ministério estima que haja em torno de um para cada mil habitantes, o que garante atendimento personalizado ao paciente. Os Centros constituem-se como um dos serviços substitutivos propostos pela Reforma Psiquiátrica Brasileira e a luta antimanicomial.

Raul Cassel destacou que Novo Hamburgo é referência em termos de saúde mental no Estado. Para ele, discutir o assunto é de suma importância no momento em que se passa a ter uma nova abordagem sobre o que significa a saúde do cidadão. "Hoje o conceito abrange, além de ausência de doença, a prevenção orgânica e a saúde mental e emocional, não só caracterizada pela ausência de transtorno, mas pela garantia da qualidade de vida", enfatizou.

Maria de Lourdes Flores relatou a sua experiência de vida como dependente química e ressaltou a importância de o usuário atingir uma boa qualidade de vida, além da cura. Ela disse que a Associação de Usuários e Amigos da Saúde Mental Novo Tempo atua para ajudar os pacientes a readquir uma perspectiva de vida e ter a dignidade restabelecida. "Lutamos para que a pessoa passa de dependente à produtiva".

A assistente social Laura Laguna, do Conselho Municipal de Saúde, explicou a dinâmica de trabalho dos conselhos. Citou, por exemplo, que recentemente o Conselho sugeriu que o Hospital Municipal faça um apontamento mais efetivo dos pacientes com problemas de dependência de álcool e crack, para que haja maior informação sobre a realidade do Município.

Disse que os conselhos funcionam como colegiados, acompanhando, fiscalizando e propondo melhorias no atendimento à saúde. A Secretaria Municipal de Saúde encaminha ao Conselho o relatório de gestão sobre a aplicação das verbas e o este aponta as correções necessárias.

Ressaltou que os serviços de saúde não são gratuitos porque a população os paga com seus impostos. O SUS, que oferece atendimento aos cidadãos, é um exemplo disso e deve cumprir com a sua finalidade.

Sandra Fagundes falou do significado de ser trabalhador na área da saúde mental, enfatizando que não basta ter conhecimentos técnicos e habilidade. "Nem sempre os profissionais têm essa consciência e pensam aonde estão inseridos. Por isso, passam a ter uma relação mais conflitiva e tencionada, por não entender o que significa trabalhar em um sistema de saúde pública".

Destacou como os profissionais devem se organizar para garantir o atendimento a todos aqueles que necessitarem do serviço, frisando que não pode acontecer de uma pessoa, que é dependente químico e tomou coragem para procura ajuda, chegar ao serviço de atendimento e receber um não como resposta. "Temos o desafio de construir o acesso universal e para todos, tirando do papel e implementando na prática esse conceito", falou, ao relatar que hoje já é oferecido ao pacientes internação domiciliar, atendimento nos CAPSs e no hospital geral. "É possível superar o hospital psiquiátrico, desde que tenha está rede estabelecida e forte", argumentou.

Florizeu Campos, diretor de Saúde, representando Clarita Silva de Souza, secretária municipal de Saúde, elogiou a mobilização da comunidade, que lotou o plenário. Afirmou que este é um momento especial, lembrando a luta história do departamento de saúde mental do município, cujo trabalho tem posição de destaque no Estado. Reafirmou o compromisso da gestão que recém assumiu a administração municipal, recordando os compromissos com o trabalho, o diálogo e com a participação popular.

Debate

O vereador Volnei Campagnoni dirigiu os trabalhos no espaço reservado ao debates com o público. Fábio Moraes, coordenador do Departamento de Saúde Mental, respondeu perguntas por escrito do público, que apresentou diversos questionamentos sobre o atendimento e acompanhamento dos pacientes.
Os participantes também puderam ocupar a tribuna, fazendo questionamentos sobre o número de atendimentos de casos de crack, como o fez o professor Luis Besson. Florizeu Campos adiantou que a administração projeta ampliação dos CAPS nos bairros. O professor Roberto Killing falou do trabalho da sua empresa que faz capacitação profissionalo nessa área e questionou sobre a participação dos municípios. Plácido Crescente, do Grupo Pensando Novo Hamburgo, elogiou o CAPS.
O vereador Luiz Carlos Schenlrte relatou sua preocupação com a disseminação do crack, que destrói usuários e familiares. O vereador Gilberto Koch falou da sua preocupação com o aumento dos usuários de drogas.

Mostra de artesanato

O hall de entrada da Câmara Municipal transformou-se em espaço para exposição dos trabalhos de artesanato produzidos pelos usuários da Oficina de Geração de Renda. A Oficina está vinculada ao Departamento de Saúde Mental de Novo Hamburgo. O trabalho se destina à reabilitação psicossocial dos portadores de sofrimento mental e/ou necessidades especiais. O grupo apresentou artesanato executado em latas, papel reciclado, costura e outros.

A Oficina é um espaço de passagem onde os candidatos à reabilitação aprendem noções de cooperação, organização, comprometimento e responsabilidade. A proposta é de inserção no mercado de trabalho. A renda é partilhada entre os usuários e a Oficina vende os produtos em loja local.

Presenças

Um público diversificado acompanhou o debate: usuários do serviço e familiares, psicólogos, terapeutas ocupacionais, professores, assistentes sociais, enfermeiros, estudantes, integrantes de associações comunitárias, autoridades e vereadores.

Entre estes, estiveram presentes Nilce Maria De Zogni, coordenadora da UBS São Jorge; Marinês Mombach, da UBS Kraemer; Paola Lazzarotto, da CAPS Santo Afonso; Anna Maria Zimmer Silveira, da Associação dos Moradores do Bairro Canudos; Maria Regina Studt, do serviço social do Ipasem; Aline S. Berger, psicóloga da Smed; João Pedro, psicólogo da Prefeitura de Esteio; Pedro Kunst, diretor da Fazenda Bom Jesus; Plácido Crescente, do Grupo Pensando Novo Hamburgo, além de representantes do Conselho Tutelar de NH, da Feevale, Unisinos e UFRGS.