28/06/2011 - Sindicato Médico critica políticas públicas
Na sessão desta terça-feira, 28, o presidente do Sindicato dos Médicos/NH, Andres Kieling, falou sobre a falta de profissionais de saúde nos postos de atendimento da cidade. Ele foi convidado por Raul Cassel (PMDB), presidente da Comissão de Saúde.
"Não faltam médicos"
Kieling apontou que não faltam médicos no mercado – contudo, os profissionais não querem trabalhar para o Poder Público. Um dos motivos é a criação de associações e o fim dos médicos estatutários. "Não tem um plano de cargos e salários." Ele salientou que o Brasil só tem menos faculdades de Medicina do que a Índia. "Nós formamos 1,3 mil médicos por ano no Rio Grande do Sul. E nós temos um para 480 habitantes, quase o dobro do indicado pela Organização Mundial da Saúde."
Críticas à atual política de saúde
Segundo o presidente da entidade, o grande problema da saúde pública brasileira é a política adotada nas últimas décadas. "Nós discordamos da maneira como a saúde pública é conduzida no Brasil. Não entendemos por que copiar um modelo de Cuba, que é a política de prevenção, e esquecer que doença se cura." Kieling explicou que os grupos do programa saúde da família (PSF) atuam na prevenção, mas faltam especialistas para tratar as enfermidades específicas. Ele ainda apontou que, em alguns casos, como do diabetes, prevenir significa evitar que a doença se agrave. "Ou seja, é ter acesso a um endocrinologista."
Problemas locais
Uma dificuldade específica de Novo Hamburgo, destacou Kieling, é o baixo salário oferecido aos médicos. "E existe médico trabalhando por RPA – Recibo de Profissional Autônomo, um sistema que não gera vínculo, sem direito a férias, 13º salário..." Existe sobrecarga nos que estão na rede, e ainda desvio de função. "O papel do médico do PSF é acompanhar, mas estão colocando esse profissional na linha de frente, para atender um enfartado, por exemplo. Não é o treinamento que ele recebeu."
Questionamentos e sugestões
Volnei Campagnoni (PCdoB) apontou que a falta de médicos foi um problema levantado pelo Ministro da Saúde. Por isso, ele levantou as discussões sobre a abertura de um curso de Medicina em Novo Hamburgo (ver matéria aqui). O vereador disse ainda que, como paciente, vivencia a falta de médicos também na iniciativa privada. Kieling concordou que faltam especialistas. "Por isso, não defendemos a quantidade, mas a especialidade."
Jesus Maciel (PTB) parabenizou o profissional por sua coragem de falar. E perguntou se a classe médica não debate esses temas. "Nosso corporativismo não defende mais o mal colegal", salientou Kieling. "Nós estamos debatendo em todo o Brasil." Ele ressaltou que não é contra a política de prevenção – mas contra, sim, não haver investimento também no tratamento das doenças. Serjão disse que os vereadores estão abertos para ajudar na busca de alternativas. O médico disse que a categoria sugeriu ao prefeito a realização de um mutirão da saúde.
Gerson Peteffi (PSDB), vereador e médico da rede pública, contou que diariamente vive o drama da falta de especialistas. "Nós temos que colocar médicos que operem uma tireóide... Isso não tem em Novo Hamburgo pelo SUS. Temos o clínico, estamos trabalhando, hoje o posto estava lotado. Mas não estou feliz, pois encaminhei duas pessoas para uma cirurgia de hérnia, e sei que vai demorar. E provavelmente será em outra cidade." Por isso, concluiu o vereador, ele também acha que o mutirão seria uma boa ideia.
Cassel, também médico da rede pública, concordou que falta o poder de resolver situações. "Antes da pedra na vesícula ser operada, ela vai gerar cerca de 10 consultas. Isso tem um custo alto", disse. "Aí a necessidade de se rever os meios de diagnóstico e de se ter um salário maior."
Alex Rönnau (PT) disse que alunos de Medicina da UFRGS deveriam trabalhar de forma voluntária por um tempo, por ter recebido a educação gratuita. Ele ainda relatou um caso ocorrido recentemente, quando levou uma criança de sua família a um posto e o atendimento demorou horas, sendo que não havia outros pacientes. "Isso nos deixa indignados." Kieling disse que houve uma situação pontual em NH, de uma pediatra que ficou 48 horas de plantão. "Nós não concordamos com esse tipo de procedimento."
Carmen Ries (PT) salientou que há dois grandes problemas: na saúde e na educação. "Acho que faltam políticas para incentivar as especialidades." E completou que, hoje, os médicos parecem mais inseguros na hora de dar um diagnóstico. "Então, falta comprometimento também." Ela disse que é preciso dar condições de trabalho, mas cobrar resultados. Kieling ressaltou que as entidades de classe têm cobrado comprometimento dos médicos.