28/05/2010 - Especialistas ensinam como identificar abusos e maus-tratos

por mairakiefer — última modificação 16/10/2020 19h57
II Jornada se encerrou na noite de sexta-feira

A violência não está vinculada à classe social ou etnia. Essa foi uma das questões abordadas durante a II Jornada de Estudos sobre como reconhecer, lidar e auxiliar crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos, exploração e abusos sexuais. Estiveram presentes ao evento as palestrantes Ana Rita Mendina, médica da Unidade de Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violências (UACAVV) de Canoas, Sara Cougo, assistente social de Canoas, e a secretária de Saúde de Novo Hamburgo, Clarita de Souza.

O evento, realizado na noite de sexta, dia 28, no Plenário Luiz Osvaldo Bender, foi promovido pela Frente Parlamentar em Defesa da Criança e do Adolescente, presidida pela vereadora Carmen Ries.

REGISTROS NÃO REFLETEM COM FIDELIDADE NÚMERO DE CASOS

Na avaliação de Clarita de Souza, o número de casos de violência e de abusos sexuais contra crianças e adolescentes é muito superior àquele registrado pelas autoridades competentes, referindo-se à falta de denúncia e de um olhar mais atento da sociedade.

Segunda ela, o atendimento psicológico busca abrandar a marca deixada pela violência, mas não a elimina por completo. Em sua exposição, a secretária apresentou um guia de identificação de maus-tratos. Ela alertou que ferimentos costumam deixar na pele a marca dos objetos que os produziram. Por isso, a necessidade, segundo Clarita de Souza, de se ter um olhar mais cuidadoso a alguns tipo de sinais, como mordidas e hematomas.

PAPEL DA ESCOLA

A vereadora Carmen Ries (PT) apontou que a escola tem um papel fundamental na identificação dos casos de agressão e abusos sofridos pelos jovens. Pelo fato de conviver semanalmente com os alunos, o professor é uma das pessoas que mais tem condição de detectar os problemas vividos pelos estudantes. Ela destacou que a função da Frente Parlamentar não é a mesma da polícia. A intenção da comissão especial é promover o debate sobre o tema e estimular a denúncia.

Ana Rita Mendina informou um dado alarmante: 88% dos casos de abusos contra crianças ocorrem dentro do próprio lar. De acordo com Ana Rita, os sinais indicativos de vitimização são: alterações no estado de humor, apatia, euforia e depressão, dificuldade de aprendizagem, fugas do ambiente doméstico, distúrbio do sono, comportamento agressivo, queixas psicossomáticas (anorexia, fadiga, isolamento social), entre outros.

"Nenhum sinal isolado indica abuso. Um conjunto elementos te trazem esse indicativo", acrescentou a secretária Clarita de Souza.

A violência emocional também foi abordada. Sara Cougo falou sobre a importância da previsão legal de punição em casos de alienação parental. Segundo a assistente social, essa situação é muito comum entre pais separados, quando o detentor da custódia, na maioria das vezes a mãe, desmoraliza o ex-cônjuge, estimulando a rejeição do filho em relação ao pai e, por vezes, fazendo falsas acusações. "Isso acaba com o emocional de uma criança. Atendemos casos assustadores desse tipo de violência". A assistente social indicou que isso gera um grave dano, em função de a criança recorrer não as suas próprias lembranças, mas a uma memória adquirida: "a criança acaba acreditando naquilo que lhe é dito".

As palestras desta sexta-feira encerram a II Jornada, que na noite de quinta-feira reuniu os painelistas Manoel Prates Guimarães, promotor da Vara da Infância e Juventude de Novo Hamburgo, e o capitão Jeferson Eroni de Oliveira Gonçalves, chefe do P3 da Brigada Militar de Novo Hamburgo.

FRENTE PARLAMENTAR

Presidida pela vereadora Carmen Ries (PT), a Frente Parlamentar tem Volnei Campagnoni (PCdoB) como vice-presidente. Participam, como membros adjuntos, os vereadores Sergio Hanich (PMDB), Alex Rönnau (PT), Gerson Peteffi (PSDB) e Matias Martins (PT).