28/05/2010 - Especialistas ensinam como identificar abusos e maus-tratos
A violência não está vinculada à classe social ou
etnia. Essa foi uma das questões abordadas durante a II Jornada de
Estudos sobre como reconhecer, lidar e auxiliar crianças e adolescentes
vítimas de maus-tratos, exploração e abusos sexuais. Estiveram
presentes ao evento as palestrantes Ana Rita Mendina, médica da Unidade
de Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violências (UACAVV)
de Canoas, Sara Cougo, assistente social de Canoas, e a secretária de
Saúde de Novo Hamburgo, Clarita de Souza.
O evento, realizado na
noite de sexta, dia 28, no Plenário Luiz Osvaldo Bender, foi promovido
pela Frente Parlamentar em Defesa da Criança e do Adolescente,
presidida pela vereadora Carmen Ries.
REGISTROS NÃO REFLETEM COM FIDELIDADE NÚMERO DE CASOS
Na
avaliação de Clarita de Souza, o número de casos de violência e de
abusos sexuais contra crianças e adolescentes é muito superior àquele
registrado pelas autoridades competentes, referindo-se à falta de
denúncia e de um olhar mais atento da sociedade.
Segunda ela,
o atendimento psicológico busca abrandar a marca deixada pela
violência, mas não a elimina por completo. Em sua exposição, a
secretária apresentou um guia de identificação de maus-tratos. Ela
alertou que ferimentos costumam deixar na pele a marca dos objetos que
os produziram. Por isso, a necessidade, segundo Clarita de Souza, de se
ter um olhar mais cuidadoso a alguns tipo de sinais, como mordidas e
hematomas.
PAPEL DA ESCOLA
A vereadora Carmen Ries (PT)
apontou que a escola tem um papel fundamental na identificação dos
casos de agressão e abusos sofridos pelos jovens. Pelo fato de conviver
semanalmente com os alunos, o professor é uma das pessoas que mais tem
condição de detectar os problemas vividos pelos estudantes. Ela
destacou que a função da Frente Parlamentar não é a mesma da polícia. A
intenção da comissão especial é promover o debate sobre o tema e
estimular a denúncia.
Ana Rita Mendina informou um dado
alarmante: 88% dos casos de abusos contra crianças ocorrem dentro do
próprio lar. De acordo com Ana Rita, os sinais indicativos de
vitimização são: alterações no estado de humor, apatia, euforia e
depressão, dificuldade de aprendizagem, fugas do ambiente doméstico,
distúrbio do sono, comportamento agressivo, queixas psicossomáticas
(anorexia, fadiga, isolamento social), entre outros.
"Nenhum sinal isolado indica abuso. Um conjunto elementos te trazem esse indicativo", acrescentou a secretária Clarita de Souza.
A
violência emocional também foi abordada. Sara Cougo falou sobre a
importância da previsão legal de punição em casos de alienação
parental. Segundo a assistente social, essa situação é muito comum
entre pais separados, quando o detentor da custódia, na maioria das
vezes a mãe, desmoraliza o ex-cônjuge, estimulando a rejeição do filho
em relação ao pai e, por vezes, fazendo falsas acusações. "Isso acaba
com o emocional de uma criança. Atendemos casos assustadores desse tipo
de violência". A assistente social indicou que isso gera um grave dano,
em função de a criança recorrer não as suas próprias lembranças, mas a
uma memória adquirida: "a criança acaba acreditando naquilo que lhe é
dito".
As palestras desta sexta-feira encerram a II Jornada,
que na noite de quinta-feira reuniu os painelistas Manoel Prates
Guimarães, promotor da Vara da Infância e Juventude de Novo Hamburgo, e
o capitão Jeferson Eroni de Oliveira Gonçalves, chefe do P3 da Brigada
Militar de Novo Hamburgo.
FRENTE PARLAMENTAR
Presidida
pela vereadora Carmen Ries (PT), a Frente Parlamentar tem Volnei
Campagnoni (PCdoB) como vice-presidente. Participam, como membros
adjuntos, os vereadores Sergio Hanich (PMDB), Alex Rönnau (PT), Gerson
Peteffi (PSDB) e Matias Martins (PT).