10/08/2010 - Impasse nas obras do hospital é debatido na Câmara
A situação do Hospital Municipal – com obras de
ampliação paralisadas desde fevereiro de 2009 – foi o principal tema
debatido pelas bancadas na sessão desta terça-feira, 10. Por meio de
requerimento assinado pelo líder do governo na Casa, Gilberto Koch
(PT), foram convidados o diretor de Obras Públicas do Município, Paulo
Schmidt, e o engenheiro municipal Renato Baum, para falar sobre os
laudos da prefeitura e da perícia e também responder a questionamentos
feitos pelos vereadores.
Como foi feito o orçamento
Schmidt
explicou que a diretoria faz o orçamento das obras licitadas pelo
Município. Segundo ele, há um departamento responsável pela
orçamentação, que lança mão de um programa de computador muito usado em
todo o Estado e é alimentado com dados de cotações de toda a Região. "O
orçamento tem duas etapas. A primeira inclui os custos diretos, ou
seja, o que vai ficar incorporado à obra, como cimento e azulejos. Tudo
é quantificado, e existem índices de produtividade e consumo de
materiais. É um trabalho científico e técnico", disse.
Depois,
prosseguiu Schmidt, são calculados os custos indiretos, reunidos sob a
sigla BDI. "Eles incluem o lucro e os tributos, como ISSQN e PIS." O
diretor lembrou ainda que há custos de administração da obra, como
logística e vigilância, e de administração central, que são os custos
que a empresa tem para funcionar, como contadores, telefonistas e
energia elétrica. No caso do hospital, apontou, foram computados esses
gastos considerado-se o prazo de 12 meses.
Pontos de discórdia com a perícia
O
engenheiro da prefeitura Renato Baum foi indicado para companhar o
trabalho do perito nomeado pelo juiz responsável pelo caso. A ampliação
do hospital foi levada à Justiça depois que a nova administração
municipal apontou ter dúvidas em relação aos valores pagos à
empreiteira Fagundes.
Baum disse que acompanhou trabalho do
perito, e depois participou de reunião com ele em seu escritório. O
engenheiro municipal teria discordado, na ocasião, de alguns pontos do
laudo. "Depois, tendo de fato o material na mão, podendo analisá-lo,
verificando conteúdo, principalmente em relação ao orçamento, não tinha
como não fazer manifestação contrária", afirma.
Ele afirma
concordar com o perito em diversos pontos, principalmente em relação à
qualidade da obra. "Mas não em outros." Segundo ele, sobre a hora de
trabalho dos funcionários, repercutem encargos sociais. "Nesse caso e
em outros, foi usado por nós o índice de 122%. Mas o perito considerou
143,89%", relatou. O engenheiro explicou ainda que, nesse índice, são
considerados INSS, FGTS, repouso remunerado, férias, aviso prévio etc.
O perito, contudo, teria incluído vale-transporte. "Só que a empresa,
em sua proposta, disse que vale-transporte estaria dentro do BDI. Ou
seja, seria uma dupla tributação."
Além disso, segue Baum, o
BDI calculado pelo perito estaria bem acima do limite máximo de 30%
estabelecido por órgãos como Dnit e Caixa Econômica Federal. E teria
sido considerada uma taxa cobrada em outros estados, mas não no Rio
Grande do Sul. "Em resumo, encontramos alguns erros."
Licitação
O
presidente da Casa, Jesus Maciel (PTB), perguntou por que os
profissionais da prefeitura não tinham visto os erros de valores antes.
Baum respondeu que a licitação foi levada a cabo pelo hospital, e que a
diretoria não acompanhou esse processo. "Não sei o motivo", disse.
"Essa situação veio à tona pelo controle interno do Município. Foi
verificada depois a discrepância entre o preço máximo e valor licitado.
Se a licitação tivesse voltado para nós, nós teríamos apontado na hora."
A
diferença entre o valor máximo previsto no orçamento, de R$ 3,48
milhões, e o valor cobrado, de 4,3 milhões, é de quase R$ 1 milhão,
salienta. "No texto do edital, não há frase mencionando valor máximo.
Mas o orçamento está anexado ao edital, e ali diz qual o preço máximo."
Além
disso, respondendo a uma dúvida de Ito Luciano (PMDB), o engenheiro
afirmou que a prefeitura não fez a fiscalização da obra. "O hospital
contratou um profissional para isso."
Responsabilidade
O
procurador do Município, Ruy Noronha, explicou outra questão levantada
pelos legisladores, em relação à responsabilidade das obras. Segundo
ele, na época da licitação, o Hospital Municipal ainda não era uma
fundação, mas uma autarquia. Entretanto, a mudança não significa que o
Executivo não tenha responsabilidade. "Uma autarquia municipal é
responsabilidade da prefeitura, pois faz parte de sua administração
indireta, assim assim como a fundação." Segundo ele, o correto seria a
prefeitura realizar licitação e a fiscalização da obra. "Por razões que
desconhecemos, o hospital fez isso e, como não tinha engenheiro,
contratou um profissional."
O lado da empresa
O
advogado da empreiteira, Milton Ramos, também participou da sessão. Ele
frisou que "houve licitação, houve um contrato, foram feitas perícias
técnicas e, após a conclusão de dois terços da obra, aparece acusação
de superfaturamento, e cancelam pagamentos e empenhos. Examinei
contratos e entrei com ação cobrando danos morais e materiais."
Ele
explicou que, depois disso, a prefeitura entrou com um ação cautelar de
antecipação de prova, pedindo perícia. "Por isso o juiz determinou que
prefeitura pagasse. Aí os técnicos da prefeitura disseram que a perícia
estava errada. Será que estava mesmo?", questiona. "Queria que vocês,
vereadores, continuassem a ajudar na busca de uma solução para o
impasse." Segundo ele, o perito indicado pelo juiz tem fé pública.
"Normalmente, o juiz dá mais fé ao perito nomeado por ele."
Reunião com o juiz
O
presidente Jesus disse que o espaço dado ao tema foi válido. "Estamos
ao lado da comunidade. Amanhã, vamos agendar reunião com juiz.
Esperamos que ele nos receba e que ele possa nos dar alguma luz."
10/08/2010