Sabiá denuncia perseguição e racismo
Com 61 anos de idade, diabético, trabalhando e residindo há oito anos no Parque Floresta Imperial, Otalíbio relatou aos vereadores a situação em que se encontra. Desesperado, encerrou sua manifestação com lágrimas nos olhos, formulando um pedido de socorro aos vereadores que o apoiaram integralmente. O vereador João Marcos mal conseguiu falar ao microfone pela sua emoção. Vereadores e o presidente Teo Reichert determinaram que cópia da manifestação de Otalíbio seja enviada ao prefeito Jair Foscarini e à Promotoria Pública.<br />A Promotoria Pública de NH encaminhou à Prefeitura solicitação de que todos os que moram em áreas públicas sejam retirados dos respectivos locais. A Prefeitura notificou Otalíbio, que reconhece a ilegalidade da sua permanência no Parque Floresta Imperial. <br />AMEAÇAS<br />Após a notificação, aceitou convite do Esporte Clube Farroupilha, no Bairro Rondônia, onde trabalharia e residiria. A mudança foi feita com sacrifícios, já que Otalíbio, que não tem qualquer aposentadoria, dispõe apenas de uma Belina 86, com a qual fez 40 viagens para carregar seus pertences. A mudança estava quase pronta quando a direção do Farroupilha foi chamada à Prefeitura. O recado da Prefeitura foi claro: "Não leve o Sabiá para o Farroupilha. Ele tem uma dívida de R$ 192 mil com a Prefeitura e para ir para o Farroupilha só com licitação. Se levarem o Sabiá para lá vocês vão bater de frente com a Prefeitura". <br />A direção, temendo perseguições, informou que não poderia mais contratá-lo, o que significaria desmanchar tudo o que já estava sendo construído no Farroupilha. Só que dessa vez, ele não tem lugar para colocar a mudança.<br />A dívida, como ficou esclarecido mais tarde pela advogada Andréa, é da Aes-Sul e não de Otalíbio. Após questionar a advogada sobre esse engano, ele relata que ela pediu-lhe desculpas pelo engano.<br />Inconformado, Otalíbio foi à Prefeitura em companhia do presidente Teo Reichert para obter esclarecimentos. A advogada Ana Paula repetiu, na frente de Teo e de Otalíbio, as ameaças feitas anteriormente, afirmando: "O Sabiá, não! Nós estamos nos teus calcanhares. Aonde tu ir, nós vamos atrás".<br />FRITZ<br />Na avaliação de Teo Reichert, o município não pode interferir num clube de futebol, impedindo de contratar quem quer que seja. Acha que é uma decisão política e que a advogada agiu muito mal, classificando o ato como perseguição.<br />O Esporte Clube Farroupilha acabou contratando, sem necessidade de licitação, uma pessoa de origem alemã chamada Fritz. O que fez Otalíbio questionar a contratação da tribuna: "O Fritz, que é branco, não precisa de licitação. Ele pode ser contratado. Eu, que sou negro, preciso de licitação e a ordem na Prefeitura é clara: "O Sabiá, não!"<br />GUARDA MUNICIPAL<br />A Prefeitura designou um guarda municipal para o Parque Floresta Imperial, cuja tarefa é revistar Otalíbio na entrada e na saída de casa para que o mesmo não desvie nada do local. A situação, como relatou, é de extrema humilhação.<br />Quando concretizar-se o ato de despejo, Otalíbio não tem para onde ir. Da tribuna, contou que empregou todo o seu dinheiro, ao longo dos anos, não na compra da casa própria, mas sim no financiamento dos estudos das duas filhas porque lhe disseram, um dia, que o estudo era tudo e ele acreditou. Uma filha se forma, no final do ano, em relações públicas na Unisinos. Orgulhoso, ele recorda que ela passou em duas faculdades e que a outra obteve terceiro lugar no último vestibular.<br />O processo de despejo está na mesa do juiz, segundo informou. Enquanto aguarda, sem saber o que fazer e sem ter para onde ir, diz que tem passado as noites sem dormir e que o seu desespero é tamanho que até em suicídio tem pensado, pois nunca imaginou ser submetido a tantas perseguições.<br /><br />