07/07/2010 - Comissão de Educação reúne especialistas sobre bullying e crack
A prática do bullying e a dependência do crack
foram os temas que a Comissão de Educação da Câmara Municipal trouxe
para o debate da comunidade. A reunião aconteceu na terça-feira, 6, às
19h, no plenário, reunindo profissionais das áreas de saúde,
psicologia, educação e segurança. A iniciativa é da Comissão de
Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, uma das oito
comissões permanentes do Legislativo. O vereador Luiz Carlos Schenlrte
preside a Comissão, que também é integrada por Carmen Ries e Raul
Cassel.
Luiz Carlos Schenlrte abriu o debate falando sobre o
crack, que definiu como droga devastadora. Defendeu uma reflexão sobre
a propagação desse flagelo entre as famílias. Afirmou que o baixo custo
do crack e a rápida dependência que provoca entre os usuários são os
responsáveis pela sua disseminação. Também falou sobre o bullying, que
na sua avaliação ultrapassou a fronteira das escolas. Para Carlinhos é
preciso incentivar o respeito entre as pessoas.O presidente da Câmara,
Jesus Maciel, saudou o público que lotou o plenário, reafirmando a
necessidade de estudo e reflexão sobre a prática do bullying e sobre a
dependência do crack. Disse que é preciso resgatar os bons costumes na
sociedade, de forma que esse movimento alcance a todos, e não só os
jovens.
CRACK
Roberto Leite Pimentel, delegado
de Polícia, é diretor da Divisão de Prevenção e Educação do
Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico. Ele propiciou
aos participantes uma visão geral sobre a drogadição, sob o aspecto
policial. Disse ao plenário que para a Organização das Nações Unidas –
ONU, o narcotráfico é um mercado que movimenta mais recursos
financeiros do que qualquer outra atividade humana, superando o
armamento, o petróleo e a alimentação humana. "É um mercado riquíssimo,
organizado e nenhum país tem conseguido dar uma resposta à altura para
combatê-lo", como explicou.
Falando sobre o Brasil, definiu a
economia como sendo ainda incipiente, com recursos públicos limitados e
com um setor de saúde debilitado. Além dessas características, Pimentel
citou os países produtores de cocaína, que fazem fronteira com o
Brasil. Somente a Colômbia, Bolívia e Peru somam 7.800 quilômetros de
fronteira, sem contar o Paraguai, que também é produtor. A área é
extensa, como frisou, revelando que a polícia tem dificuldades em
patrulhar um espaço tão grande. Disse também que a Colômbia é hoje o
segundo produtor mundial de papoula, planta de onde se origina a
heroína. O primeiro produtor é o Afeganistão. "É um mercado rico e
agressivo", completou, acrescentando que o Brasil é o segundo mercado
de consumo de cocaína, no mundo.
No Rio Grande do Sul, segundo
Pimentel, estima-se em 55 mil o número de dependentes de crack. No
Brasil, esse número chega a um milhão. "As escolas são os locais mais
vulneráveis e a ausência do Estado e do Município expõem ainda mais a
situação de calamidade enfrentada pela sociedade". Hoje, acrescentou,
"não há cidade gaúcha, por menor que seja, que não sofra com o consumo
de drogas lícitas e ilícitas".
MUDANÇA DE ATITUDE NA FAMÍLIA
Rosângela Scurssel
disse que a novidade com relação ao crack é mudar a atitude da
sociedade. Há uma mobilização que não fica só no aguardo dos
resultados, mas que desenvolve ações, e isto, na sua avaliação, é
positivo. Explicou que "o crack é uma conseqüência e tem causas
específicas. Ele não vem sozinho. Acompanha o cigarro e o álcool, que
são drogas lícitas. É o pai e mãe que manda a criança comprar, e o dono
do bar vende". Para Rosângela, "o núcleo em que vive a criança e o
jovem tem que dar o exemplo. Quando a criança vê que isso é um hábito
na sua casa, ela acha que também pode usar a droga da sua preferência".
Ela enfatizou que é preciso pensar nos exemplos que estamos dando aos
filhos e alunos. Revelou que uma pesquisa da Organização das Nações
Unidas – ONU indicou que os jovens gostariam de receber informações em
casa, o que não acontece. A informação vem da rua, como informou.
Segundo
Rosângela, para trabalhar a prevenção é preciso revisar os
comportamentos dentro da família. "Se tem um ponto de droga em cada
esquina, explica, entre as esquinas existem casas e famílias. A única
maneira é sermos multiplicadores de prevenção dentro desses pontos".
Rosângela
Scurssel é professora, educadora social e acadêmica de psicologia, é
diretora-geral da ONG Caudeq - Centro de Atenção Urbana a Dependência
Química. Presidiu o Conselho Municipal de Entorpecentes de NH e fez
parte da coordenação do Fórum Técnico Macrometropolitano de Saúde
Mental e do Comitê Contra Crack da Assembleia Legislativa do RS.
NOVO HAMBURGO TEM LEI SOBRE BULLYING
Bullying
é o conjunto de atitudes agressivas intencionais, repetidas e sem razão
aparente, cometidas contra um aluno ou grupo de alunos. Em Novo
Hamburgo, o vereador Raul Cassel apresentou projeto sobre o bullying,
que está consagrado na Lei Municipal 2105/2010. A lei recomenda que
instituições de ensino públicas e particulares incluam em seu projeto
pedagógico medidas de conscientização, prevençao e combate ao bullying
escolar.
A vereadora Carmen Ries surpreendeu a todos ao relatar
que também foi vítima de bullying. Professora formada, assumiu o cargo
na escola em que trabalha até hoje. Passou por esse constrangimento e
disse à família que não retornaria à escola. O pai incentivou-a a
voltar e a mostrar porque estava lá. Quatro anos depois, contou Carmen,
tornou-se a diretora da escola, cargo que exerce até a presente data.
Para a vereadora, a relação dos pais com os filhos é fundamental para o
equilíbrio das crianças. Recomendou às famílias que cuidem dos seus
filhos e alertou que os adultos também cometem bullying com os colegas
e familiares.
A psicóloga Luiza de Lima Braga disse que
as crianças agressoras são aquelas que, possivelmente, sofrem algum
tipo de opressão dentro de casa. Elas se tornam o espelho dos atos
praticados pelos pais. As vítimas, explicou, são crianças com
características diferentes das demais – podem ser magras, gordas,
altas, baixas ou tímidas. As atitudes agressivas acontecem com maior
frequência no recreio e nas aulas de educação física. O sintoma,
segundo Luiza, é o isolamento da vítima, que prefere ficar na sala de
aula e não interagir com os demais colegas. Já as crianças agressoras,
continuou a psicóloga, são as que mais se envolvem em atos como fumar,
beber e dirigir alcoolizado.
Luiza de Lima Braga é psicóloga
graduada pela UNISINOS e mestranda do curso de Pós Graduação em
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Membro
do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência - NEPA/ UFRGS e do GT
Violência e Comportamento Agressivo - UNISINOS/ CNPq.
As professoras Patrícia de Lima Teixeira e Silvana Maria Fachini
coordenam o projeto DIGA NÃO AO BULLYING, desenvolvido na Escola
Municipal de Ensino Fundamental Hugo Gerdau, em Sapucaia do Sul. Elas
têm incentivado os alunos a contar as agressões sofridas e a não sofrer
com tais fatos, ensinando-os que os alunos vêm à escola para aprender e
serem felizes. As professoras apresentam o tema numa palestra. A
criança participante responde a perguntas, por escrito, dando sua
opinião e dizendo se deseja ou não ser um monitor. Segundo Patrícia e
Silvana, os alunos podem colaborar com os professores no combate ao
bullying, pois a maioria não gosta do que assiste. Eles querem ajudar e
não sabem como e a escola pode estimular uma mudança de atitude.
Patrícia
de Lima Teixeira é professora há 18 anos. Graduada em Pedagogia, com
habilitação em Orientação Educacional pela Ulbra e especialização em
Educação Infantil pela UFRGS. Trabalha na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Hugo Gerdau, de Sapucaia do Sul, como orientadora
Educacional. Desde 2009 coordena o projeto "Estamos Dizendo Não ao
Bullying". Em Esteio, atua na assessoria pedagógica do EJA - Educação
de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação e Esportes.
Silvana
Maria Fachini tem 17 anos de experiência no magistério. É graduada em
Pedagogia, com habilitação em Supervisão Escolar, pela Unilasalle e
especialização em Educação Infantil pela Ulbra. Também trabalha na EMEF
Hugo Gerdau, e coordena, desde 2008, o projeto "Estamos Dizendo Não ao
Bullying".
07/07/2010