07/07/2010 - Comissão de Educação reúne especialistas sobre bullying e crack

por mairakiefer — última modificação 16/10/2020 19h54
Novo Hamburgo tem lei sobre bullying, de autoria do vereador Raul Cassel

A prática do bullying e a dependência do crack foram os temas que a Comissão de Educação da Câmara Municipal trouxe para o debate da comunidade. A reunião aconteceu na terça-feira, 6, às 19h, no plenário, reunindo profissionais das áreas de saúde, psicologia, educação e segurança. A iniciativa é da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, uma das oito comissões permanentes do Legislativo. O vereador Luiz Carlos Schenlrte preside a Comissão, que também é integrada por Carmen Ries e Raul Cassel.

Luiz Carlos Schenlrte abriu o debate falando sobre o crack, que definiu como droga devastadora. Defendeu uma reflexão sobre a propagação desse flagelo entre as famílias. Afirmou que o baixo custo do crack e a rápida dependência que provoca entre os usuários são os responsáveis pela sua disseminação. Também falou sobre o bullying, que na sua avaliação ultrapassou a fronteira das escolas. Para Carlinhos é preciso incentivar o respeito entre as pessoas.O presidente da Câmara, Jesus Maciel, saudou o público que lotou o plenário, reafirmando a necessidade de estudo e reflexão sobre a prática do bullying e sobre a dependência do crack. Disse que é preciso resgatar os bons costumes na sociedade, de forma que esse movimento alcance a todos, e não só os jovens.

CRACK
Roberto Leite Pimentel, delegado de Polícia, é diretor da Divisão de Prevenção e Educação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico. Ele propiciou aos participantes uma visão geral sobre a drogadição, sob o aspecto policial. Disse ao plenário que para a Organização das Nações Unidas – ONU, o narcotráfico é um mercado que movimenta mais recursos financeiros do que qualquer outra atividade humana, superando o armamento, o petróleo e a alimentação humana. "É um mercado riquíssimo, organizado e nenhum país tem conseguido dar uma resposta à altura para combatê-lo", como explicou.

Falando sobre o Brasil, definiu a economia como sendo ainda incipiente, com recursos públicos limitados e com um setor de saúde debilitado. Além dessas características, Pimentel citou os países produtores de cocaína, que fazem fronteira com o Brasil. Somente a Colômbia, Bolívia e Peru somam 7.800 quilômetros de fronteira, sem contar o Paraguai, que também é produtor. A área é extensa, como frisou, revelando que a polícia tem dificuldades em patrulhar um espaço tão grande. Disse também que a Colômbia é hoje o segundo produtor mundial de papoula, planta de onde se origina a heroína. O primeiro produtor é o Afeganistão. "É um mercado rico e agressivo", completou, acrescentando que o Brasil é o segundo mercado de consumo de cocaína, no mundo.

No Rio Grande do Sul, segundo Pimentel, estima-se em 55 mil o número de dependentes de crack. No Brasil, esse número chega a um milhão. "As escolas são os locais mais vulneráveis e a ausência do Estado e do Município expõem ainda mais a situação de calamidade enfrentada pela sociedade". Hoje, acrescentou, "não há cidade gaúcha, por menor que seja, que não sofra com o consumo de drogas lícitas e ilícitas".

MUDANÇA DE ATITUDE NA FAMÍLIA
Rosângela Scurssel disse que a novidade com relação ao crack é mudar a atitude da sociedade. Há uma mobilização que não fica só no aguardo dos resultados, mas que desenvolve ações, e isto, na sua avaliação, é positivo. Explicou que "o crack é uma conseqüência e tem causas específicas. Ele não vem sozinho. Acompanha o cigarro e o álcool, que são drogas lícitas. É o pai e mãe que manda a criança comprar, e o dono do bar vende". Para Rosângela, "o núcleo em que vive a criança e o jovem tem que dar o exemplo. Quando a criança vê que isso é um hábito na sua casa, ela acha que também pode usar a droga da sua preferência". Ela enfatizou que é preciso pensar nos exemplos que estamos dando aos filhos e alunos. Revelou que uma pesquisa da Organização das Nações Unidas – ONU indicou que os jovens gostariam de receber informações em casa, o que não acontece. A informação vem da rua, como informou.

Segundo Rosângela, para trabalhar a prevenção é preciso revisar os comportamentos dentro da família. "Se tem um ponto de droga em cada esquina, explica, entre as esquinas existem casas e famílias. A única maneira é sermos multiplicadores de prevenção dentro desses pontos".

Rosângela Scurssel é professora, educadora social e acadêmica de psicologia, é diretora-geral da ONG Caudeq - Centro de Atenção Urbana a Dependência Química. Presidiu o Conselho Municipal de Entorpecentes de NH e fez parte da coordenação do Fórum Técnico Macrometropolitano de Saúde Mental e do Comitê Contra Crack da Assembleia Legislativa do RS.

NOVO HAMBURGO TEM LEI SOBRE BULLYING
Bullying é o conjunto de atitudes agressivas intencionais, repetidas e sem razão aparente, cometidas contra um aluno ou grupo de alunos. Em Novo Hamburgo, o vereador Raul Cassel apresentou projeto sobre o bullying, que está consagrado na Lei Municipal 2105/2010. A lei recomenda que instituições de ensino públicas e particulares incluam em seu projeto pedagógico medidas de conscientização, prevençao e combate ao bullying escolar.

A vereadora Carmen Ries surpreendeu a todos ao relatar que também foi vítima de bullying. Professora formada, assumiu o cargo na escola em que trabalha até hoje. Passou por esse constrangimento e disse à família que não retornaria à escola. O pai incentivou-a a voltar e a mostrar porque estava lá. Quatro anos depois, contou Carmen, tornou-se a diretora da escola, cargo que exerce até a presente data. Para a vereadora, a relação dos pais com os filhos é fundamental para o equilíbrio das crianças. Recomendou às famílias que cuidem dos seus filhos e alertou que os adultos também cometem bullying com os colegas e familiares.

A psicóloga Luiza de Lima Braga disse que as crianças agressoras são aquelas que, possivelmente, sofrem algum tipo de opressão dentro de casa. Elas se tornam o espelho dos atos praticados pelos pais. As vítimas, explicou, são crianças com características diferentes das demais – podem ser magras, gordas, altas, baixas ou tímidas. As atitudes agressivas acontecem com maior frequência no recreio e nas aulas de educação física. O sintoma, segundo Luiza, é o isolamento da vítima, que prefere ficar na sala de aula e não interagir com os demais colegas. Já as crianças agressoras, continuou a psicóloga, são as que mais se envolvem em atos como fumar, beber e dirigir alcoolizado.

Luiza de Lima Braga é psicóloga graduada pela UNISINOS e mestranda do curso de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência - NEPA/ UFRGS e do GT Violência e Comportamento Agressivo - UNISINOS/ CNPq.

As professoras Patrícia de Lima Teixeira e Silvana Maria Fachini coordenam o projeto DIGA NÃO AO BULLYING, desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Hugo Gerdau, em Sapucaia do Sul. Elas têm incentivado os alunos a contar as agressões sofridas e a não sofrer com tais fatos, ensinando-os que os alunos vêm à escola para aprender e serem felizes. As professoras apresentam o tema numa palestra. A criança participante responde a perguntas, por escrito, dando sua opinião e dizendo se deseja ou não ser um monitor. Segundo Patrícia e Silvana, os alunos podem colaborar com os professores no combate ao bullying, pois a maioria não gosta do que assiste. Eles querem ajudar e não sabem como e a escola pode estimular uma mudança de atitude.

Patrícia de Lima Teixeira é professora há 18 anos. Graduada em Pedagogia, com habilitação em Orientação Educacional pela Ulbra e especialização em Educação Infantil pela UFRGS. Trabalha na Escola Municipal de Ensino Fundamental Hugo Gerdau, de Sapucaia do Sul, como orientadora Educacional. Desde 2009 coordena o projeto "Estamos Dizendo Não ao Bullying". Em Esteio, atua na assessoria pedagógica do EJA - Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação e Esportes.

Silvana Maria Fachini tem 17 anos de experiência no magistério. É graduada em Pedagogia, com habilitação em Supervisão Escolar, pela Unilasalle e especialização em Educação Infantil pela Ulbra. Também trabalha na EMEF Hugo Gerdau, e coordena, desde 2008, o projeto "Estamos Dizendo Não ao Bullying".

07/07/2010