Bassani fala a jornalistas e vereadores sobre viagem à China
Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, 28, o presidente da Câmara de Novo Hamburgo, Cleonir Bassani, apresentou a jornalistas e vereadores presentes dados sobre sua viagem à China. O presidente começou falando sobre os motivos pelos quais participou da missão IASP 2005, promovida pela Feevale, para a XXII Conferência Mundial de Parques Científicos e Tecnológicos da IASP e visita a parques científicos e tecnológicos da China, em Pequim e Xangai.
Na bagagem, Bassani levou material de divulgação da cidade de Novo Hamburgo, traduzidos para os idiomas de mandarim (língua oficial da China), e inglês. O material, desenvolvido pela assessoria de imprensa da Casa Legislativa hamburguense, foi muito bem aceito, segundo ele, pelos técnicos e autoridades da China e dos países que estiveram presentes no evento. "Levei Novo Hamburgo na mala, de forma que fosse conhecido e compreendido por integrantes de todos os países presentes na Conferência, e o material da nossa cidade ficou exposto junto a divulgações de vários países participantes do evento. Não sou vendedor de máquinas ou calçados, mas sou agente político", justificou.
A CONFERÊNCIA
Bassani fez um resumo da participação dos principais palestrantes, em material impresso distribuído por ocasião da coletiva. Segundo ele, debate sobre os parques tecnológicos começou com um chinês. Ma Sondge, vice-primeiro ministro da China, destacou a importância dos parques tecnológicos na economia. No PIB Chinês, conforme o palestrante, a presença da ação dos parques tecnológicos representa entre 10 e 20%. Os parques também deram apoio à abertura política e às reformas na China. Outra informação do vice-primeiro ministro foi de que os parques tecnológicos buscam a cooperação estrangeira, não só com a abertura para o capital internacional nos seus parques, como também se associando a parques fora do país. Segundo ele, o investimento deve, no futuro, impulsionar a aplicação das tecnologias ali desenvolvidas, ter elevada a criatividade e ainda interagir mundialmente. Entre os pontos positivos destacados por ele em relação ao investimento chinês em tecnologia, está o desenvolvimento do país de forma estável, proporcionando ao governo a possibilidade de desenvolver recursos humanos de maior talento, que podem depois buscar o mercado junto à iniciativa privada. Mas há também problemas, para Sondge uma das preocupações na área da tecnologia é a relação de roubo dos direitos do conhecimento.
Da Inglaterra, a lição passada pelo palestrante Stewart Brown é de que os parques tecnológicos da China estão no caminho certo, desenvolvendo-se diferentemente da experiência em Cambridge, na Inglaterra, onde o investimento foi feito em grandes empresas, mas o processo não deu certo. Na China, os parques tecnológicos estão apostando não só nas grandes empresas, mas também nas pequenas e médias.
DO LOCAL PARA O GLOBAL
Já da França, país que teve o primeiro parque tecnológico da Europa, palestrou Jean François Balducchi. Ele destacou a valorização do aspecto local para o global. Na França, além dos 48 parques tecnológicos, já foram implantados 29 centros de inovação e 30 incubadoras acadêmicas. O palestrante falou dos parques tecnológicos como promoção de visão para o futuro. Isso passa, segundo ele, essencialmente pelas autoridades públicas na promoção e desenvolvimento das vocações e talentos, e num último momento, com a permissão de alianças e estratégias locais e internacionais.
O alemão Randolf Margull abordou com ênfase o caso prático da cidade de Jena, na Alemanha. A cidade tinha destaque na qualidade ótica do que produzia, então associou a essa vocação a eletrônica, e a partir daí desenvolveu potencialidade comercial tecnológica em cima desta vocação.
Da Finlândia, Matti Luostarinen deu um exemplo da associação de parques tecnológicos. País pequeno sob ponto de vista populacional, criou um parque inicialmente com 200 empresas. Em seguida, associou-se ao parque tecnológico de Xangai e hoje conta com mais de 3 mil empresas. O retrato desta associação está na direção do parque tecnológico de Xangai. A presidência está a cargo da China, através do vice-prefeito do distrito de Xangai. A direção do parque é feita por um Finlandês, Ari Virtanen.
Um brasileiro também palestrou na Conferência. Roberto Spolidoro, que falou sobre as experiências no mundo com as incubadoras.
INVESTIMENTO IGUALITÁRIO
Os Parques Tecnológicos são apontados como instrumentos fundamentais para o meteórico desenvolvimento econômico chinês, verificado a partir dos anos 90. O país possui mais de 50 parques e mais de 300 incubadoras. O investimento público e privado em ciência e tecnologia corresponde a 1,5 % do PIB chinês, que chega U$ 1,2 bilhões.
Só no parque de Pequim, são dois mil quilômetros quadrados que abrigam 203 instituições de pesquisa, que se integram nas áreas de ciências biológicas e da saúde e tecnologia da informação; mais de 100 mil metros quadrados de incubadoras tecnológicas, que abrigam cerca de 10 mil empresas. Marcas internacionais como IMB, Microsoft, Mitsubishi e Siemens também integram o espaço.
Com investimento igualitário, governo e empresas, sejam de capital estrangeiro ou local, administram as empresas dos parques tecnológicos. As áreas de atuação são diversificadas, e as empresas são beneficiadas com redução de 50% da carga tributária. Até então, as empresas de capital estrangeiro poderiam ter até 50% de participação nas empresas. Atualmente, na área de saúde, esta participação já abre para até 70%. "O governo chinês busca soluções completas para seus problemas, por isso abre cada vez mais ao capital estrangeiro. No final do ano passado o governo viabilizou às off-shore a operação com 100% de capital estrangeiro", conta.
TECNOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS
"A China, até agora, era considerada uma grande indústria mundial. Mas na ampliação dos seus parques tecnológicos passa a criar e desenvolver tecnologias que repercutem no crescimento do país", avalia Bassani. Segundo ele, há também problemas sociais e ambientais a serem resolvidos, "a poluição atmosférica e da água é grande, o déficit do manancial hídrico também, 40% do território chinês não serve para agricultura, mas com essa linha de empreendedora na tecnologia, o governo agrega recursos para buscar soluções sem precisar do capital estrangeiro", argumenta.
Por isso, esta missão representou não só o conhecimento do tratamento dado às pesquisas pelos Chineses, como por vários países do mundo. "Se o poder público, os legisladores, não tem conhecimento, como pode propor soluções?", questiona. Para Bassani, é importante criar um fórum permanente, onde se comece a discutir não só a carga tributária, por exemplo, mas podemos ser mais competitivos se agregarmos tecnologia", afirma. Ele acrescentou ainda que o conhecimento técnico e científico deve sair das universidades e se expandir no meio empresarial, de forma local para o global.
"O Brasil tem suas potencialidades, e a China seus déficits. E depois desta missão a principal proposta nossa, enquanto Câmara de Vereadores, deve ser de conhecer cada vez mais as realidades, debater os temas, e fazer um trabalho de integração entre Legislativo, Executivo e Entidades de Classe", propõe. "É preciso que a Câmara seja um espaço aberto para essa discussão e reflexão permanente sobre o futuro. Se isso não for feito, se a tecnologia não for pensada de forma séria, se não fizermos a lição de casa, o susto pode estar apenas começando", finaliza.
DADOS DA CHINA
A China é o terceiro maior país do mundo em área e o mais populoso do planeta, com mais de 1,3 bilhão de habitantes. Atualmente é a sexta mais poderosa economia do planeta, atrás apenas de Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Registra uma taxa de crescimento de 9% ao ano. O Comércio Exterior registrou, em 1978, valores que chegaram a U$ 20,6 bilhões; em 2004, alcançou a faixa dos U$ 851 bilhões. Agências Internacionais de Desenvolvimento já projetam que a China será a maior economia mundial em 2040. Além disso, em 2009, deverá se tornar o terceiro maior PIB. A China investe maciçamente em tecnologia e já possui um dos maiores e mais poderosos parques industriais do mundo, com uma produção diversificada que vai muito além dos famosos artigos de R$ 1,99 exportados para todo o mundo e, em grande escala, para o Brasil.