Doação de órgãos foi tema de palestra na Câmara
A comunidade hamburguense teve a oportunidade de esclarecer suas dúvidas à respeito da doação de órgãos na manhã deste sábado, 3 de setembro. A palestra com profissionais da área da saúde ocorreu no plenário da Câmara a partir das 10 horas. O evento foi promovido pela Comissão Comunitária da Campanha de Estímulo à Doação de Órgãos.
Na abertura do evento, o presidente Cleonir Bassani explicou que a ação foi proposta para trazer mais informações à população, sobre doação de órgãos. "Queremos também ser agentes desta grande mobilização. Este é um momento muito importante para a cidade e região e queremos acreditar que com trabalho de cada um, faremos um incremento nessa área onde ainda existe muito desconhecimento de informação", explicou.
O prefeito de Uruguaiana, e autor da Lei nº 8.750 de 12 de dezembro de 1988, que estimula a doação de órgãos no Rio Grande do Sul, Sanchotene Felice disse que o encontro traz a coerência de uma coletividade avançada, esclarecida e pronta para a solidariedade. "Não há sinal de maturidade melhor do que esta disponibilidade da doação de órgãos", argumentou. Ele explicou ainda sobre os avanços tecnológico e científico, sobre os obstáculos que tiveram que ser superados desde a aprovação da sua lei. "Tivemos o sensacionalismo que falava sobre a comercialização de órgãos, e aí a doação caía, temos ainda a ignorância, o preconceito. Por outro lado, quando há um exemplo bom, as doações crescem. As notícias piores, em relação ao todo são pequenas", completou. Sanchotene Felice ainda informou que o Rio Grande do Sul é o estado que mais realiza transplantes no Brasil.
ENSINANDO SOBRE TRANSPLANTE
A médica do Serviço de Transplante da Santa Casa de Porto Alegre Elisete Keitel, mestre em nefrologia pela UFRGS, doutora em Clínica médica pela UFRGS, com parte do doutorado realizado no Centro de Transplante Renal da Universidade de Oxford, na Inglaterra, realizou uma explanação detalhada sobre a doação de órgãos. Quando se faz um transplante; quais os objetivos; os resultados; o porque de tão poucas doações num universo de tantas mortes; e as falhas que podem impedir um processo de doação de se completar com sucesso. "A não identificação do potencial doador, a contra indicação médica, a não autorização família, e até problemas logística podem interromper um processo entre o doador e o receptor", explica. Ela explicou também que na entrevista familiar, que uma das partes mais difíceis do processo, ajuda muito quando já foi falado sobre doação, e se a pessoa que faleceu tem na sua carteira o selinho da lei. "O resultado da entrevista depende dos conceitos que se tenha e da consciência social de cada um", completou.
APOIO DA FAMÍLIA
Já a coordenadora da Central de Transplantes do RS e médica sanitarista Denise Maria Sarti de Oliveira trouxe para os presentes, dados sobre doações no Rio Grande do Sul e até em Novo Hamburgo. Segundo ela, o Rio Grande do Sul tem mais de 10 milhões de habitantes, 80 hospitais com UTI (onde se pode fazer detecção possível doador); destes, 50 são autorizados a fazer este tipo atividade; no total, são 1080 leitos de UTI.
Ela falou sobre a doação de córneas. Disse que haveria a possibilidade de atender todos os que estão na fila se houvesse mais doações. "Se 10% dos óbitos fossem revertidos em doação de córneas, não terias fila, haveria superávit", avaliou. Ela alertou ainda que não importa a estrutura que se tenha, se a comunidade não quiser, não há transplante.
Denise terminou sua explanação com dados deste ano: "de janeiro a julho, foram 213 notificações de morte encefálica, destas, 85 acabaram com doações no RS. O estado é o que apresenta a menor incidência de negativa familiar do país. Aqui se realizam 100 transplantes por mês."
MEDULA
O médico hematologista Natalício Kern explicou o funcionamento da medula óssea, e os tipos de complicações que podem culminar na necessidade de um transplante. "Na doença de extrema gravidade, o transplante é a chance de ter a vida novamente", explicou. Ele destacou a importância da doação não aparentada, ou seja, doações que vão para bancos de possíveis doadores tanto em nível nacional como também internacional. Falou também da importância da doação do cordão umbilical, que, segundo ele, "é o que tem menor incidência de incompatibilidade ou rejeição". Informou também que a coleta é simples. "Quem vai ser doador não tem dor", completou.
CULTURA
O nefrologista Gilvan Roberto Fontoura, diretor da Clínica do Rim, em Novo Hamburgo, falou da importância da função de estimular a doação de órgãos. "A divulgação da doação de órgãos mexe com toda a estrutura social, o transplante envolve toda a sociedade, é uma questão cultural", defendeu. Da mesma forma, a médica ginecologista e vereadora Anita Lucas de Oliveira, considerou a idéia da discussão muito boa. "Acho que temos que unir estes esforços, não diminuir trabalho de um ou de outro mas trabalhar junto porque estaremos fortalecendo a causa. Existe uma fila, e esta fila é única, ou seja, não tem dinheiro que faça passar na frente", disse.
O secretário da Saúde, João Carlos Maria Rath, saudou os organizadores pelo evento e disse que os pronunciamentos contagiaram. "Isso é importante e deixa responsabilidade dos poderes e autoridades de dar contribuição e apoio às entidades nesta luta. Somos parceiros em todos os momentos", completou.
Os presentes ainda tiveram a oportunidade de fazer perguntas e terem suas dúvidas esclarecidas pelos palestrantes.
A VOZ DOS TRANSPLANTADOS
Dois transplantados se manifestaram durante a palestra. Orlando Freitas da Silva, presidente da Associação de Pacientes Renais de Novo Hamburgo relatou sua história e destacou que, no dia em que teve a notícia de que receberia finalmente um rim, "gostaria que todos os que faziam hemodiálise tivessem a mesma felicidade minha."
Já o secretário da Associação dos Transplantados de Fígado do RS - ASTRAF, Euclides Sartori, aproveitou sua história para lembrar que "um raio cai sim, três vezes no mesmo lugar". Ele tem três transplantes. "Um de doador morto, outro de doador vivo, e outro da tecnologia", garante. Além do fígado, ele recebeu ainda rim e a válvula do coração. "Qualquer pessoa que está nessa sala, antes de ser doador, é receptor, a vida pode nos transformar receptor, isso é involuntário", afirmou.