Indústria vira tema de debate durante a sessão
"Não sabemos mais a quem recorrer, estamos apavorados". A afirmação é da empresária Neiva Moreira, que esteve na Câmara de Vereadores, ocupando o espaço da tribuna popular na sessaõ da última quinta-feira para falar dos pesados impostos e taxas aos quais as pequenas e médias empresas estão sujeitas. Ao mesmo tempo, a convite do presidente Cleonir Bassani, o jornalista Aurélio Decker fez uma exposição sobre sua viagem à China, cujo resultado considerou preocupante, tendo em vista o crescimento daquele país em exportação de calçados.
Os dois assuntos se complementaram na medida em que as preocupações da indústria local, seja pela possível ameaça do poder da produção chinesa, seja pelas pesadas cargas de tributos que pagam atualmente os empresários brasileiros, foi o tema principal da tarde. Segundo Neiva Moreira, pequenos e médios empresários não têm mais a quem recorrer para chegar a uma solução. "Não sei se consigo manter meu quadro funcional sem demitir mais funcionários", avalia.
O empresário Alexandre Griebeler disse que muitas vezes as empresas grandes são lembradas, mas as pequenas empresas e ateliês estão sendo esquecidos. "Estamos indignados. Há 20 anos, os ateliês eram frios, hoje estão legalizados, cumprem todas as exigências. Temos capacidade, temos trabalho de qualidade, mas se não tivermos ajuda, não conseguiremos continuar", desabafa. "Viemos aqui mostrar a realidade e peço com urgência a ajuda dos senhores. Estamos quebrando, agonizando, e eu só quero trabalhar", finaliza. Uma das reclamações dos empresários foi quanto ao valor da taxa de iluminação pública cobrada em Novo Hamburgo.
CARGA TRIBUTÁRIA
Para o vereador Teo Reichert, a taxa de iluminação pública é absurda. "Temos que rever esta taxa", sugere. Ele pede a transcrição dos discursos dos empresários e encaminhamento para a Prefeitura e Secretaria de Indústria e Comércio. O vereador Gilberto Koch explica que 65% dos trabalhadores do município são funcionários de ateliês. "É muito importante o emprego para sapateiros e não queremos mais quebradeira", avalia. Para Ito Luciano é necessária uma reunião com pequenos e médios empresários. "Vamos buscar este debate, sou parceiro para isso", diz.
PREOCUPAÇÃO COM A CHINA
O jornalista Aurélio Decker relatou sua experiência na última viagem que fez à China. Ele conviveu com operários chineses e destacou a cultura de trabalho que eles têm. "Em 95% das empresas, os funcionários vivem dentro delas, 90% deles são solteiros. Trabalho para eles é uma questão de honra. Trabalham 11 a 12 horas por dia e ganham cerca de 80 dólares por mês", explica. Ele revelou que na cidade que é considerada a capital do calçado na China, são produzidos dois bilhões de pares de sapato por ano. "O Brasil produz 700 milhões", alerta. Para Decker, dados como este são muito preocupantes. "Tenho a impressão de que daqui a 20 anos vamos voltar para roça, estrutura para a agricultura nós temos, porque este sapato que perdemos para a China não vamos mais recuperar. Temos que tratar de salvar o que é possível", diz.
INDIVIDUALISMO
A saída, segundo Decker, é acabar com o individualismo. "As empresas do ramo vão ter que se reunir e fazer um mutirão para baixar preço e concorrer da forma que ainda é possível. Não podemos subestimar os chineses", avalia o jornalista.
O presidente Cleonir Bassani ainda alerta para as dificuldades internas. "Das 14 regiões pesquisadas pelo IBGE, o Rio Grande do Sul foi a única a encerrar o semestre com resultado negativo, então começamos a observar dificuldades também no cenário nacional", anuncia.
Ao final da sessão, Bassani reafirmou a preocupação com a situação dos empresários. "O que houve aqui hoje foi um pedido de socorro, e precisamos tomar uma atitude", finalizou.