Seminário sobre tratamento de esgoto lota plenário da Câmara

por Maíra Kiefer última modificação 05/06/2017 21h24
02/06/2017 – A Câmara Municipal sediou na tarde desta sexta-feira, 2 de junho, o Seminário: Impactos do Tratamento de Esgoto sobre a Qualidade da Água, promovido pela Comissão de Meio Ambiente da Casa, em parceria com a Universidade Feevale. O vereador Enio Brizola (PT), presidente da Comissão, abriu os trabalhos e ressaltou que o evento tem o objetivo de engajar o legislativo neste debate, popularizando o tema cada vez mais. “Temos de enfrentar o problema, mas de maneira que possamos integrar forças para criar políticas públicas que tratem o saneamento básico de forma responsável”, disse. Os professores da Feevale Dr. Fernando Rosado Spilki e Dr. Günter Gehlen fizeram parte da primeira mesa de trabalhos.

A presidente da Casa, Patricia Beck (PPS), e os vereadores Naasom Luciano (PTB), relator da comissão, Felipe Kukn Braun (PDT), e Professor Issur Koch (PP), Sergio Hanich (PMDB) prestigiaram o evento. Nor Boeno (PT), também integrante do grupo de trabalho do Legislativo hamburguense, não se fez presente por motivos de saúde. Foram convidados para compor a tribuna de honra, o diretor-geral da Comusa, Silvio Klein, e o diretor-geral do Semae (Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo), Nestor Schwertner. Diversas outras autoridades ligadas à área ambiental de Novo Hamburgo e região acompanharam o seminário. 

Painelista Fernando Spilk 

Spilk destacou que no saneamento, o principal problema é a falta de esgotamento sanitário. Segundo ele, os índices melhoraram desde 2002 (IBGE), mas não são o suficiente para cumprir a meta do plano nacional. Ele alerta que somente 38% do esgoto produzido no País é tratado. E que 3 em cada 10 domicílios urbanos não possuíam coleta de esgoto. A falta de investimentos em saneamento básico é uma situação bastante preocupante, segundo o professor. Ele destacou um relatório recente da ONU dizendo que o Brasil é um dos 60 países que menos recursos destinam para essa área. De acordo com Spilki, com exceção da região sudeste, é muito preocupante o índice de esgoto tratado no país. “Um tratamento de esgoto maior reflete no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e no interesse de empresas investirem aqui”, disse. O professor também falou sobre algumas doenças, como a diarreia, causadas pelo baixo índice de esgoto tratado. Conforme dados da Fundação Getúlio Vargas, as gastroenterites virais são a 2ª causa de morbidade por doenças infecciosas no mundo em transmissão fecal oral (até 80% dos atendimentos nos países em desenvolvimento). Conforme os dados apresentados, também é causa de 2 milhões de óbitos em crianças por ano no mundo – mesmo número de óbitos por HIV/Aids. 

O professor falou sobre alguns trabalhos de pesquisas realizados, com apoio da Corsan, sobre, por exemplo, a qualidade físico-químico da água em oito estações de tratamento da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, demonstrando os tipos de vírus encontrados, principalmente, em pontos de coleta de água bruta. “Grande quantidade de dejetos, principalmente, do esgotamento doméstico e rural”, revelou, alertando para a relação da contaminação com as gastroenterites. Dentre os principais vírus encontrados na água, ressaltou os adenovírus, causadores de infecções agudas no sistema respiratório, conjuntivites e gastroenterites, rotavírus e vírus causadores das Hepatites A e E. 

Ainda conforme Spilki, além dos impactos na saúde, a contaminação traz impactos econômicos – quanto mais contaminada mais caro o tratamento para atingir uma água de qualidade.

Metais pesados

Fernando Spilki lembrou que metais derivados de atividades industriais também podem representar risco à saúde humana e à vida aquática, causar patologias, inclusive com potencial genotóxico e cancerígeno. 

Painelista Günter Gehlen 

O professor focou a fala na questão do esgoto. Ele disse que no Brasil 50% da população tem esgoto coletado e apenas 42,67%, esgoto tratado. Apenas 10% das cidades do País, tem mais de 80% de esgoto tratado. A maioria das cidades do Rio Grande do Sul está abaixo desses índices. “Em Novo Hamburgo, o problema está na nossa porta”, ressaltou. Segundo a Comusa, o tratamento de esgoto sanitário na cidade é de 4,5%. Por isso, Günter é enfático ao dizer que o esgoto é lançado nos rios, lagos e represas sem nenhum tratamento. 

Segundo o Ministério da Saúde (2013), R$ 121 milhões foram gastos em tratamento de pessoas acometidas com doenças de origem hídrica. Foram 340 mil internações pelo SUS motivadas por infecções gastrointestinais. Uma pesquisa realizada pela Feevale aponta que 83% dos cidadãos de Novo Hamburgo não sabem como é feito o tratamento de esgoto da sua casa, embora 50,5% acreditam ser muito importante a construção da estação de tratamento de esgoto, considerando os impactos ambientais e sociais. Segundo o Ministério das Cidades, mais de 400 técnicas estão sendo empregadas, atualmente, para o tratamento de esgoto, revelou o professor. “Apesar de não revelarem a melhor técnica, estudos indicam que tecnologias híbridas têm melhor resultado”, explicou Günter Gehlen. 

As tecnologias 

O pesquisador frisou que há diversas tecnologias sendo utilizadas para o tratamento dos esgotos domésticos – remover o material sólido, eliminar microrganismos patogênicos, reduzir as substâncias químicas indesejadas. Também aproveitou o momento para mostrar as vantagens e desvantagens de algumas técnicas como o Reator UASB, Lodos Ativados e Lagoas.  

Ele falou sobre a utilização da Typha domingensis Pers, de nome popular Taboa, para o tratamento de esgoto. Também trouxe mais detalhes sobre um estudo realizado na Espanha que utiliza essas plantas macrófitas flutuantes para o tratamento dos efluentes. Segundo ele, em parceria com o Município de Novo Hamburgo, a Feevale fez uma pesquisa sobre o tratamento de água na estação Mundo Novo utilizando as plantas e até hoje faz monitoramento dos resultados, inclusive com a produção de mudas dessas macrófitas. Ele explicou como funciona o processo de tratamento de água utilizando as macrófitas. Como vantagens, citou a redução do consumo de energia, o menor custo financeiro de operação, a diminuição de geração de resíduos e a perspectiva de geração de renda. Para finalizar ele afirmou que “não só tratar o esgoto é necessário, mas difundir informações sobre a importância disso.” 

Painel Comusa 

Silvio Klein explicou que até o Município assumir o abastecimento em Novo Hamburgo, por meio da Comusa, o percentual de esgoto tratado era de 0%. Hoje em dia, segundo ele, há coleta e tratamento de esgoto nos seguintes loteamentos: Mundo Novo, Morada dos Eucaliptos, Jardim da Figueira, Novo Nações, da Lomba, Campo Verde, Parque Mauá, Parque Residencial Novo Hamburgo, São Lourenço, Morada das Rosas, Chácara Hamburguesa, Recanto do Sol e Marcírio J. Pereira. O processo está em andamento nos loteamentos Roselândia, Vila Palmeira, Vila Kipling e Vila Martim Pilger. 

De acordo com o diretor-presidente da Comusa, a tecnologia escolhida para o tratamento do esgoto em Novo Hamburgo é a de Lodos Ativados, resolução feita e comunicada à Caixa Econômica Federal em dezembro de 2015 (na gestão anterior). Ele explicou que o próximo passo é entregar os projetos para a instituição até 30 de junho e, após, licitar as obras para a construção das estações de tratamento de esgoto Luiz Rau/Pampa, que será executada em módulos. A previsão é de que, após o módulo da Luiz Rau entrar em funcionamento, o índice de tratamento de esgoto deva subir de 4,5% para 35,5%. Quando toda a estação estiver ativada, o índice de tratamento em Novo Hamburgo, conforme ele, deve atingir os almejados 80%. 

Tecnologia Lodos Ativados

De acordo com informações trazidas pelo professor Dr. Günter Gehlen, esse tipo de tecnologia trata uma grande quantidade de efluentes em pouco tempo, remove 95% de ovos helmintos, 50% de protozoários e 99% de agentes virais. Como desvantagens, citou a geração de lodos, o alto consumo energético e os altos custos de manutenção. 

Painel do Semae 

Nestor Schwertner fez uma apresentação da Bacia do Rio dos Sinos, destacando seus aspectos de turismo, navegação, lazer e esporte. Mostrou desde as águas limpas da nascente, em Caraá, até a tragédia ambiental que culminou com a mortandade de cerca de 100 toneladas de peixes em 2006. Ele destacou ainda que, atualmente, a cada R$ 1 investido em saneamento básico, é economizado até R$ 4 em saúde pública. Segundo Schwertner, o desafio continua sendo o tratamento de esgoto. “Acredito que agregando forças, do poder público e da população, conseguiremos melhorar a situação no Vale do Sinos”. 

Interação

Um momento foi destinado à interação com o público, que lotou o Plenário da Câmara. Eles fizeram diversos questionamentos à segunda mesa de trabalhos, integrada por Silvio Klein e Nestor Schwertner. A atividade foi mediada pelo vereador Naasom Luciano. A Corsan não enviou representantes para participar do seminário. 

Encaminhamentos finais 

Enio Brizola disse que o Município viveu dois momentos em relação às plantas macrófitas - o primeiro bem mais entusiasmado. Mesmo não tendo sido escolhida como a tecnologia oficial para o tratamento de esgoto em Novo Hamburgo, não há veto, segundo o vereador, e as pesquisas podem continuar de alguma forma. Ele sugeriu a criação do Comitê Municipal do Meio Ambiente, a partir desse seminário, para se inserir nas diversas discussões sobre macrodrenagem, saneamento básico e tratamento de esgoto. Fernando Spilki agradeceu a oportunidade de participar desta discussão pública e ressaltou que a constituição desse comitê possa ser um palco de discussão multidisciplinar sobre os assuntos. Klein disse que a Comusa tem muito de evoluir com as pesquisas realizadas pela Universidade Feevale. “Temos de aproveitar este expertise e, juntos, buscarmos a melhor solução”, ressaltou. Lembrou que em outubro ou novembro a Câmara será sede de outro grande debate, através de audiência pública, que discutirá o Plano Municipal de Saneamento e temas mencionados por Brizola. Schwertner parabenizou o Legislativo pelo espaço aberto e frisou que realmente é necessário construir políticas públicas que agreguem e tragam benefícios a todos. Naasom lamentou a ausência da Corsan e lembrou que ter um rio mais saudável e uma água de melhor qualidade são objetivos só alcançados com uma ação conjunta de vários municípios. Ele agradeceu a participação popular no evento.