Psicóloga fala sobre atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial de NH

por Jaime Freitas última modificação 14/06/2022 00h09
13/06/2022 – Atendendo ao convite do vereador Vladi Lourenço (PSDB), via Requerimento nº 748/2022, a psicóloga Sayonara de Matos, gerente de Saúde Mental da Prefeitura, ocupou a tribuna na sessão plenária desta segunda-feira, 13, para explanar sobre o atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e a saúde mental da população do município pós-pandemia.
Psicóloga fala sobre atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial de NH

Foto: Maíra Kiefer/CMNH

Os Caps são unidades de referência secundária (intermediárias) de saúde mental, com equipe multiprofissional e têm como missão tratar de forma intensiva os portadores de transtorno mental grave com idade superior a 18 anos, na sua comunidade, junto às suas famílias e promovendo a reabilitação psicossocial dos cronicamente comprometidos. Todos os centros trabalham em regime de porta aberta, com a função de acolhimento e tratamento dos pacientes. O usuário que procura o Caps é acolhido e participa da elaboração de um Projeto Terapêutico Singular específico para as suas necessidades e demandas.

Esses serviços possuem uma equipe multiprofissional composta por médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem e oficineiros que avaliam o quadro do usuário e indicam o tratamento adequado para cada caso. A internação só é indicada quando esgotadas todas as possibilidades terapêuticas disponíveis no Caps, que também atua nos momentos de crise, nos estados agudos da dependência e de intenso sofrimento psíquico.

Temos o maior orgulho em dizer que temos a maior cobertura em saúde mental do Estado e mais diversidade de serviços”, disse Sayonara de Matos.

A gerente de Saúde Mental explica que a rede de cuidados é mais ampla, composta, entre outros, pelos seguintes serviços: Cras, Creas, Equipe Psicossocial e o Núcleo de Apoio Pedagógico (Nap) da Secretaria Municipal de Educação (Smed), o Conselho Tutelar, projeto ‘Tipo Assim”, projetos ligados à Primeira Infância e projetos ligados a secretaria de cultura (Secult), Esporte e Lazer (Smel) e Desenvolvimento Social (SDS) em parceria com diversos segmentos da comunidade, Centro de Atendimento Socio-Educativo, Viva mulher, Comunidades Terapêuticas, entidades filantrópicas que promovem projetos sociais de convivência, educação e geração de emprego, além das clínicas escolas das instituições de ensino superior locais, ligadas aos cursos de psicologia, que realizam, sobretudo, atendimento psicológico individual.

Trabalhamos muito na questão de rede e temos vários profissionais para atender os pacientes. Embora haja um profissional que acompanhará e articulará o tratamento, o paciente passará por muitos outros profissionais. Além de atendimentos individuais, nós trabalhamos com grupos e oficinas onde laboramos as questões dos usuários, fazemos visitas domiciliares e acompanhamentos familiares, suporte para que a atenção básica possa atender aos casos leves, assembleias para que possamos escutar os usuários sobre demandas não atendidas, acompanhamentos terapêuticos com saídas com os pacientes para que eles possam usufruir de espaços diferentes quanto lidar com algumas dificuldades que tenham, entre outros serviços”, relatou a psicóloga.

Fala dos vereadores

Gustavo Finck (PP) perguntou sobre o impacto da pandemia de Covid nos atendimentos aos usuários e a demanda de serviços no período. Por portaria, precisamos ter um psiquiatra por Caps, e nossa previsão, hoje, é de ter dois. É importante dizer que há uma grande dificuldade de se conseguir psiquiatras e esse problema não é só de Novo Hamburgo, é geral entre os municípios gaúchos. E são as características do serviço que acabam limitando o número de profissionais. A demanda é grande e com a Covid aumentou muito, e muitas vezes esse profissional não conseguirá atender em consultório próprio, o que acaba o afastando do interesse em trabalhar para o município", informou a gerente.

A vereadora Lourdes Valim (Republicanos) relatou que foi procurada por mães que estavam muito preocupadas com os filhos dependentes químicos, que muitas vezes agem com violência contra elas. "O que essas mães poderiam fazer", perguntou a edil. "Nossos tratamentos nos Caps são voluntários. Então, quando a pessoa é violenta existe a internação compulsória, ou seja, essas mães precisam procurar a Defensoria Pública do Estado, na sede daqui de Novo Hamburgo, e solicitar uma avaliação à rede de saúde mental. Assim, fazemos a avaliação e encaminhamos o resultado à Defensoria, para que ela encaminhe o processo ao Judiciário. Com o provimento legal, o indivíduo, então, é encaminhado à internação compulsória, ou seja, a ordem para internar o indivíduo é expedida judicialmente, independente da vontade do dependente químico", disse Sayonara.

Enio Brizola (PT) reforçou a importância do trabalho de saúde mental no município e demonstrou preocupação com o corte de verbas destinadas à saúde, provocado principalmente pelo Governo Federal. "Quem sofrerá as consequências são as pessoas que mais precisam desse serviço, pessoas que não têm dinheiro para pagar um psiquiatra, um psicólogo, não têm um plano de saúde. O acesso a esse serviço público fica muito limitado, quando ele deveria ser melhor estruturado. O tratamento não é só para a pessoa, mas também para a família", relatou o parlamentar.

Fernandinho Lourenço (Avante) perguntou sobre as principais doenças decorrentes do isolamento provocado pela pandemia da Covid. "O que foi mais percebido foi um aumento nos transtornos de ansiedade, nos transtornos de humor, onde entram a depressão e o transtorno afetivo polar, e, nas crianças e adolescentes, os transtornos alimentares", destacou a gerente de Saúde Mental.

Ricardo Ritter - Ica (PSDB) perguntou sobre o prazo da internação compulsória. "O máximo de tempo de internação previsto hoje na legislação é de três meses.

Ito Luciano (PTB) cumprimentou o colega Vladi Lourenço por oportunizar um debate de alto nível sobre um tema tão importante quanto o da saúde mental e também agradeceu à psicóloga por ter explanado, de forma objetiva e clara, o assunto.

Vladi Lourenço reforçou a complexidade do tratamento da saúde mental e a grande demanda pelos serviços oferecidos nos Caps. Ele perguntou sobre o número de leitos hospitalares e como são feitos os encaminhamentos a esses leitos. "Temos disponíveis dez leitos na rede hospitalar para atendimento da saúde mental, que podem ser acessados via emergência, via Samu, pelos nossos serviços nos Caps e na atenção básica. Caso não havendo leito hospitalar o paciente pode ser atendido nas UPAs", informou gerente de Saúde Mental do município.

Sobre a Saúde Mental em NH

Desde os anos 90, o município de Novo Hamburgo tem sido referência no contexto da Reforma Psiquiátrica, tanto pelo pioneirismo quanto pela complexidade da rede de atenção Psicossocial. No ano de 1989 foi inaugurada a Casa de Saúde Mental, tendo em vista tanto a necessidade de estruturar e qualificar a atenção à saúde mental desde o âmbito local, quanto a diminuição dos sofrimentos gerados pela instabilidade econômica do período. Este serviço surgiu sintonizado com as diretrizes da reforma psiquiátrica brasileira e por muitos anos foi o principal responsável pelo cuidado de crianças, adolescentes e adultos, com algum tipo de sofrimento mental, na cidade de Novo Hamburgo. Desde então, gestores, trabalhadores, usuários e familiares têm buscado construir uma variedade de serviços de saúde mental que possam atender a as necessidades da população.

A partir das proposições da política municipal de saúde mental (Novo Hamburgo, 2001) e da lei da reforma psiquiátrica (Brasil, 2001), foram criados o Centro de Atendimento a Crianças e Adolescentes - Saca aí Françoise Dolto (2002) e o Centro de Atenção a Usuários de Substâncias (CAUS), programa criado em 2002, nas dependências da Casa de Saúde Mental, tendo em vista a crescente demanda para o cuidado de pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

Após advento da portaria 336/GM, de 30 de abril de 2002, que regulamenta o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no âmbito do SUS, ocorreu uma mudança significativa no modelo de cuidado às pessoas com transtornos mentais. Os CAPS tornaram-se serviços fundamentais para atender a crise e evitar, o máximo possível, as internações psiquiátricas; promover ações de reabilitação psicossocial; dar suporte à atenção a saúde mental na rede básica; articular e coordenar o cuidado de modo corresponsável com os demais pontos de atenção da rede de atenção psicossocial. Em outras palavras, os CAPS passaram a ocupar uma posição estratégica para a reforma psiquiátrica brasileira.

Portanto, tendo em vista a necessidade de reorganização da atenção em saúde mental, o município de Novo Hamburgo, a partir de 2002, transformou seus serviços de saúde mental em CAPS.

Fonte: https://www.novohamburgo.rs.gov.br/sms/saude-mental

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