Produtor cultural defende permanência de espaço ocupado há mais de 40 anos por escola de samba
Fábio, que já atuou como conselheiro de políticas culturais, relatou que, após uma reunião na Secretaria de Cultura e um contato posterior com a Prefeitura, foi informado de que não havia mais o que fazer, pois a decisão já tinha sido publicada no Diário Oficial.
Ao discursar na tribuna, mencionou a homenagem realizada durante a sessão e destacou a importância de ver um atelier de arte sendo reconhecido pelo Legislativo. “Isso mostra que a cultura é plural. Há pessoas que homenageiam a cultura e a arte e outras que querem tirar o direito de uma sociedade com mais de 75 anos de existência. Uma sociedade negra, que é a segunda mais antiga de Novo Hamburgo, simplesmente recebe, debaixo da sua porta, um documento dizendo que temos 30 dias para sair. São pessoas que não conhecem a história da escola de samba Aí Vêm os Marujos”, declarou, indignado.
Ele reconheceu as dificuldades enfrentadas pelo espaço cultural, especialmente após a pandemia, e lembrou que a entidade, sem fins lucrativos, atualmente não recebe nenhum recurso. O produtor fez um apelo aos vereadores para que considerem a comunidade do “Buraco do Raio”, que ajudou a construir a entidade, erguida em um galpão que antes era utilizado como celeiro pela Prefeitura. Segundo ele, o prédio, localizado em frente ao recém-inaugurado Ginásio Victor Hugo Körbes, sofreu um incêndio anos atrás e foi reconstruído pelos próprios integrantes da agremiação.
Fábio lembrou ainda dos votos de congratulações aprovados pela Câmara pelo trabalho realizado no carnaval hamburguense. “Não estamos falando de invasão; estamos falando de um direito adquirido há mais de 40 anos. Estamos falando de formar uma comunidade em seu entorno.” Para o carnavalesco, é possível que outras entidades também utilizem o espaço, mas, antes de tudo, é necessário diálogo.
Fundada em 8 de janeiro de 1951, a escola Os Marujos é, segundo ele, um espaço de negritude e resistência que, infelizmente, por falta de reconhecimento de sua história, está sendo prejudicado. “Falo aqui como marujense, como uma pessoa que se criou em meio à bateria. Alguém que saiu da vila e hoje é produtor cultural, graças ao carnaval.”
Além de uma profissão, afirmou, a escola de samba lhe proporcionou princípios de vida. Fabinho, como é conhecido, lembrou que o carnaval vai muito além do desfile. Outra dificuldade mencionada é o fato de que há mais de seis anos Novo Hamburgo não realiza um desfile oficial de carnaval.
Manifestação dos vereadores
O líder do governo, Giovani Caju (PP), informou que o Executivo está reavaliando todas as cessões de espaços públicos no município. “Quero deixar claro que não é nada contra a entidade Os Marujos”, pontuou. Sobre parcerias com outras instituições, Caju disse ter conhecimento de que a Leme (Associação dos Lesados Medulares) gostaria de atuar em conjunto, o que poderia trazer incentivo financeiro para o espaço. Fábio relatou que, há cerca de dois meses, a matriarca dos Marujos, de 89 anos, foi procurada por uma pessoa de outra entidade, que teria menosprezado toda a história da agremiação. Caju reiterou a importância de parcerias entre entidades, pois acredita que podem trazer benefícios mútuos. Também reconheceu que a Prefeitura precisa aprimorar sua comunicação com a população, especialmente em casos como este.
Joelson de Araújo (Republicanos) questionou os projetos e ações sociais desenvolvidos pela entidade e o número de famílias atendidas. Para ele, o uso de um espaço público deve ter como contrapartida uma atuação social. Fábio respondeu que há cerca de 200 famílias no território e que são realizadas atividades para crianças, mas faltam registros e divulgação dessas ações. Relatou também as dificuldades para captação de recursos, especialmente para entidades ligadas ao carnaval.
Felipe Kuhn Braun (PSDB) ressaltou a relevância do carnaval, que representa uma parcela significativa da sociedade. “Reconheço a importância das sociedades carnavalescas e o que elas fazem todos os dias.” Salientou ainda que o investimento público no carnaval é baixo em relação ao retorno que oferece à sociedade. Como presidente da Comissão de Educação e Cultura, comprometeu-se a acompanhar a situação.
Juliano Souto (PL) afirmou que a Câmara é o espaço para debater temas relevantes para a população. Corroborou com o colega Giovani Caju que todas as ocupações de espaços públicos estão sendo reavaliadas. No entanto, garantiu que não cabe alegar perseguição a entidades negras, pois todas as instituições estão sendo notificadas.
O presidente da Câmara, Cristiano Coller (PP), confirmou que todas as cessões de espaços públicos estão sendo revisadas, com o objetivo de conhecer o trabalho das entidades que os ocupam.
Ausente na sessão para acompanhar audiência pública na Prefeitura, Professora Luciana Martins apresentou o Requerimento nº 790/2025 de informações sobre a notificação. A matéria foi aprovada no expediente da sessão desta quarta e será encaminhada ao Executivo.