Patrimônio histórico-cultural imaterial da cidade, Cruzeirinho é homenageada em sessão solene pelos 100 anos
“Hoje, a centenária Cruzeirinho confirma sua trajetória como um espaço de luta, resistência, de realização de projetos sociais e de encontro da cultura afro-brasileira em Novo Hamburgo. Fundada em 28 de outubro de 1922, a Cruzeirinho nasceu da fusão do clube de futebol Cruzeiro do Sul com o grupo carnavalesco Bloco dos Leões. Organizada em torno de duas das maiores paixões do brasileiro, a entidade tornou-se o primeiro clube social negro do Vale do Sinos, solidificando-se como um espaço de sociabilidade, resistência e reverberação da cultura afro-brasileira em Novo Hamburgo. Essa homenagem de hoje é apenas uma, das diversas formas de reconhecimento que este expressivo grupo vem recebendo ao longo deste último mês”, destacou o presidente da Câmara. Após a sua fala, foi veiculado um breve vídeo abordando a importância da entidade para o município.
Gerson Peteffi destacou que são 100 anos de carnaval, futebol, atividades sociais e a celebração da cultura negra aqui em Novo Hamburgo. Trabalhei no bairro Primavera durante 34 anos, neste tempo conheci muitas pessoas e uma destas famílias me apresentou a entidade. E eu participei de vários carnavais, como assistente, expectador. Fui me inteirando das músicas e das danças afros. A Sociedade Cruzeiro foi deixando estas marcas na minha vida e história. Sou torcedor desde que a conheci. Sempre teve destaque no carnaval hamburguense. É inimaginável, nos tempos modernos, uma entidade que dure 100 anos. Tem de contar nos dedos. Marca latente dentro da comunidade e de toda a cidade”, salientou o parlamentar, que se comprometeu, enquanto na vereança, sempre buscar ajudar nas melhorias e crescimento da agremiação no que for possível.
Também proponente da homenagem, Tita abriu seu discurso destacando que em novembro se celebra o mês da consciência negra no Brasil. Ela leu um breve histórico sobre a entidade. E enfatizou o protagonismo das mulheres na construção deste centenário. “Mulheres guerreiras, que estiveram juntas e que não deixaram apagar a luz. Que história linda. Que a Sociedade Cruzeiro do Sul siga sendo sinônimo de alegria, festa e resiliência. Parabéns a todos por toda luta que travaram para poder crescer”, salientou, ao colocar o gabinete à disposição para o desenvolvimento de novos projetos para a comunidade.
Enio Brizola fez uma saudação especial às “baianas” presente no plenário da Câmara. Esta homenagem é justa e necessária, não poderíamos deixar de celebrarmos juntos, na Casa do Povo, 100 anos de história de uma escola de samba que é muito mais que uma escola de samba. Que fez, promoveu e resistiu, mesmo com clubes separados de brancos. Sou feliz em participar deste momento. Vida longa à escola e a todos os seus representantes. Que continuem agentes transformadores e promotores da igualdade social e de combate ao racismo. Que possamos, brevemente, ver nossa escola desfilar e triunfar na avenida. Os tambores batem lá na Oswaldo Cruz e a gente escuta lá na Boa Saúde. Que esse leão continue rugindo alto e forte por muitos anos”, desejou o vereador.
Presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Casa, o vereador Felipe Kuhn Braun também parabenizou a Cruzeirinho pelo centenário. “É uma entidade que foi criada por tantas dificuldades que o povo negro passou aqui em Novo Hamburgo. Um lugar que surgiu para socialização e a aproximação das pessoas. O samba, esta cultura popular brasileira, e tudo o que contemplou essa fundação e este andar desta sociedade até os dias de hoje, com tantos homens e mulheres que deram a sua contribuição para uma sociedade mais justa e de integração, merece destaque. Hoje, cerca de 95% de nós brasileiros temos raízes africanas. O povo negro, com muito trabalho, determinação, fé e representação, como temos na Cruzeirinho, foi fundamental na construção da história de Novo Hamburgo”, disse.
Ralfe Cardoso, secretário de Cultura, falou do orgulho gigante que a cidade tem da Sociedade Cruzeiro do Sul. “Uma honraria necessária para uma escola que é mais antiga que a própria cidade”, apontou. A Cruzeiro é um espaço democrático, onde a irreverência e a alegria caminham juntas com a seriedade, com a solidariedade e com o respeito. Uma sociedade que já fez muito por nós todos, mas que ainda tem muito a nos ensinar, especialmente a Velha Guarda, que pode nos conduzir para muito mais longe e com mais leveza”, disse Cardoso. O secretário refletiu que o racismo estrutural que ainda existe na sociedade brasileira não é de pouco tempo e nem vai terminar tão cedo. “A balança não está equilibrada e estamos longe de atingir isso”, apontou. Ele falou também que o número de mulheres que atualmente compõe a bateria da escola impressiona de uma forma linda e encantadora, o que prova que lugar de mulher é onde ela quiser. “A cidade comemora este centenário com muita força. E é necessário que a gente retome com muita potência neste momento de grande celebração da vida, pós-pandemia. Viva a Cruzeiro, viva o carnaval e vida a luta contra o racismo”, finalizou.
Na tribuna de honra da Casa, estavam o vice-presidente, Cássio Valdez da Silva, tesoureiro da entidade, João Veloso; a primeira-secretária, Bruna Viana, a segunda-secretária, Brenda Santos; o diretor de Esporte, Luís Fernando da Silva; o diretor de Patrimônio, Edson Kühl Mensa; e a rainha da Escola de Samba Cruzeiro do Sul no ano de 1962, Dircea Teixeira Novo.
Os parlamentares Felipe Kuhn Braun (PP) e o suplente Leandro Mello acompanharam a homenagem. Os vereadores Ito Luciano (PTB), Darlan Oliveira (PDT), Inspetor Luz (MDB), Lourdes Valim (Republicanos), Raizer Ferreira (PSDB) e Ricardo Ritter – Ica (PSDB) justificaram a ausência e deixaram saudações a entidade centenária.
Agradecimento
Durante a solene, a escola realizou uma apresentação artística, com a presença da bateria da Escola.
O presidente da Cruzeirinho, José Odilto Martins Anselmo, disse que, após a homenagem e tanto carinho, é impossível conter a emoção em fazer parte da Sociedade Cruzeiro do Sul. Ele agradeceu aos proponentes da solenidade por lembrarem da entidade e ressaltou que quem faz parte e vê tudo isso acontecer, percebe a emoção nas pessoas e isso é contagiante. Anselmo contou um pouco sobre a sua caminhada dentro da entidade e lembrou diversos componentes que o inspiraram a ser presidente. “A Cruzeiro foi fundada para os negros se reunirem, em função do racismo que existia, e não começamos com o carnaval. Ele foi nascendo aos poucos. Hoje, o departamento de carnaval faz parte da sociedade porque não trabalhamos só com ele. Na vida, nos estamos sempre aprendendo e isso é importante. Sempre temos que aproveitar as oportunidades que a vida nos dá. Espero que cheguemos a 200 anos porque neste 100 sempre tentamos fazer o nosso melhor”, afirmou. O presidente ainda falou sobre os inúmeros outros projetos sociais que desenvolvem na entidade e agradeceu os vereadores e a secretaria de Cultura pelo apoio que recebem constantemente.
A solenidade foi aberta ao público e teve transmissão ao vivo da TV Câmara pelo canal 16 da Claro, pelo youtube.com/TVCamaraNH e pelo Facebook.com/CamaraNH.
Assista a sessão solene na íntegra