Moção pede que Prefeitura retome financiamento da Orquestra de Sopros
“Segunda orquestra mais antiga do estado, a OSNH é um legado que se iniciou em 1952 com a criação da Banda Municipal, sob a regência do maestro fundador Arlindo Ruggeri. Consolidada como um dos pilares da identidade cultural hamburguense, ela não apenas manteve viva a musicalidade em nosso município, mas também se tornou uma referência artística e social, levando música a milhares de pessoas e fomentando a cadeia produtiva da cultura, com um repertório que transita entre o erudito e o popular”, destaca Brizola.
Ao longo da Moção nº 6/2025, o vereador também externa seu temor pela descontinuidade dos Núcleos de Orquestra Jovem, projetos sociais de ensino musical mantidos pelo Instituto Arlindo Ruggeri, gestor da OSNH. Dos 26 polos, sete são financiados pela Prefeitura. Quatro já tiveram sua permanência assegurada, por terem seus recursos bancados pela Secretaria de Educação. A dúvida reside nos outros três, responsáveis pelo atendimento de 75 crianças. Em nota, a Prefeitura afirmou que esses núcleos também devem ter seus convênios regularizados.
“A OSNH desempenha um papel transformador por meio de seus projetos sociais, especialmente nas periferias. Essas iniciativas não apenas democratizam o acesso à cultura, mas também transformam vidas, proporcionando oportunidades e desenvolvendo novos talentos. A cultura não é um custo, mas, sim, um investimento no desenvolvimento humano, social e econômico de nossa cidade. A OSNH é um patrimônio vivo que merece ser preservado”, prossegue o autor. Além da aprovação em plenário, a moção também recebeu a assinatura das vereadoras Daia Hanich (MDB), Deza Guerreiro (PP) e Professora Luciana Martins (PT).
A orquestra é dirigida pelo saxofonista Gustavo Arthur Müller, que usou a tribuna para lamentar a decisão do atual governo municipal. Ele declarou que o investimento em cultura é essencial para a construção de uma cidade inovadora e destacou a importância do setor para o Brasil, responsável por 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e pela geração de emprego e renda. “Não estamos discutindo lado político, mas a importância de se investir em cultura”, disse. “Nós nos apresentamos no maior teatro do Rio Grande do Sul, que é o da Feevale, e de graça no Teatro Municipal. Dizer que não consome música erudita não é desculpa, porque nosso trabalho vai muito além. Recebemos um e-mail da Secretaria de Cultura dizendo que não íamos mais receber recursos. É muito triste isso. Se quisermos uma sociedade transformadora, precisamos investir em cultura. Sabemos que o Município apresenta problemas financeiros. Todo mundo já sabia disso, aliás. Antes, tinham todas as soluções, agora a única é cortar tudo, porque descobriram que não conseguem resolver problema nenhum. Precisamos discutir soluções”, refletiu o músico. Ele citou ainda o caso de Medellín, na Colômbia, que saiu do ranking de cidades mais perigosas do mundo porque decidiu investir em cultura para mudar a realidade de sua população.
Consideração dos vereadores
Enio Brizola (PT) ressaltou que, para muitos jovens da cidade, a proposta de vida por meio da música e da cultura é fundamental. "Ela serve como um instrumento forte no enfrentamento da drogadição. Ela é uma arma da paz e inclusive melhora a saúde das pessoas. Quem consome cultura adoece muito menos. Novo Hamburgo é 'onde a arte foi morar'; não podemos desabrigá-la. A arte faz parte do nosso hino! Faço um apelo para que esses recursos sejam mantidos. Que a nossa orquestra seja mantida, como um investimento em uma cidade que está prestes a completar 98 anos. Seria uma triste marca chegar perto do centenário sem a orquestra para enaltecer o orgulho de sermos hamburguenses. Nega a agenda cultural da orquestra quem não quer acompanhar a cultura, pois ela está disponível para todos acessarem."
Daia Hanich lembrou as aulas de jazz oferecidas pelo Município quando criança e as vezes que assistiu à orquestra no Teatro Municipal e na Feevale. "Um orgulho que não cabe no peito. Durante a pandemia, a cultura salvou muitas vidas por meio das lives. Queremos aprovar essa moção por mais cultura na nossa cidade. Nossos adolescentes precisam da orquestra. E os pais de família também precisam desse trabalho. A orquestra também transforma socialmente a vida das pessoas, levando alimento a quem precisa", disse, ao comentar sobre os ingressos solidários para assistir aos shows da OSNH.
Felipe Kuhn Braun (PSDB) destacou que são mais de sete décadas de história. "Quero reforçar que, na próxima segunda-feira, às 15h, receberemos na reunião da Comissão de Educação as pessoas que quiserem debater a questão com o grupo de vereadores. Deixo o convite a todos que desejam discutir a pauta. A orquestra está no coração e na história da cidade."
Deza Guerreiro seguiu a mesma linha de Felipe. "Fiz indicações ao Poder Executivo para que parte da verba para manter a orquestra saia da conta da Comur. Estou correndo atrás de possibilidades para continuarmos a tê-los conosco."
Líder do governo na Câmara, Giovani Caju (PP) afirmou ser a favor da moção e que em nenhum momento foi contra a Orquestra de Sopros. "A PUCRS fechou sua orquestra. A UCS, em Caxias, também. Na gestão Tarcísio Zimmermann, essa ideia foi ventilada. Nunca se pensou alternativas ou parcerias para que este dia não chegasse. Precisamos unir forças, usar o abaixo-assinado e as mídias digitais para divulgar o trabalho de vocês, o que pode resultar em mais recursos, sem depender exclusivamente de verbas públicas. Quero lembrar que sou DJ e também vivo da cultura."
Juliano Souto (PL) contou que visitou vários espaços culturais da cidade e que reconhece a importância da orquestra como formadora de opinião. "Eu me solidarizo com vocês. Voto a favor da moção e espero que possamos dar a volta por cima, porque Novo Hamburgo também é cultura, e precisamos fazer jus a esse nome. Queremos, sim, um maior protagonismo, e espero que consigamos reverter essa situação."
Joelson de Araújo (Republicanos) salientou que votou a favor da moção, embora nunca tenha presenciado nenhuma apresentação do grupo nas escolas por onde passou nem em seu bairro.
Professora Luciana Martins alertou que não se pode falar de cultura como se fosse um balcão de negócios, porque ela não é uma mercadoria. "Precisamos pensar que sua importância não pode ser medida com cifras e barômetros. A orquestra nos traz encantamento em todos os lugares onde encontramos vocês: na praça, na Casa de Cultura, na escola ou na escola de samba. E é por isso que digo que há um compromisso de defender a orquestra e a cultura. Novo Hamburgo não tem apenas a palavra no hino, mas também tem reconhecimento nacional, como sendo uma referência cultural. O total desmonte de espaços que garantem transformação social, especialmente nas áreas de cultura e educação, é preocupante. Não investir em cultura é uma decisão política, sim. Que a gente se una para cumprir a peça orçamentária aprovada para 2024. A arte é para todos, e isso é um preceito constitucional."
O que é uma moção?
A Câmara se manifesta sobre determinados assuntos – aplaudindo ou repudiando ações, por exemplo – por meio de moções. Esses documentos são apreciados em votação única e, caso sejam aprovados, cópias são enviadas às pessoas envolvidas. Por exemplo, uma moção louvando a apresentação de um projeto determinado no Senado pode ser enviada ao autor da proposição e ao presidente daquela casa legislativa.