Fazenda do Senhor Jesus apresenta trabalho de ressocialização de jovens usuários de drogas
“Esse é um trabalho que não é muitas vezes bem visto pela sociedade, mas que encaramos como um resgate de vida. Esses meninos chegam de uma maneira muito fragilizada, por encaminhamentos da própria família ou de órgãos jurídicos e assistenciais. A missão é fazer com que eles se enxerguem como parte da sociedade, com seus direitos e deveres”, explicou. A entidade conta com uma casa de triagem no bairro Operário, onde uma equipe de monitores e psiquiatra acompanham os primeiros 15 dias de internação dos jovens. Esse período serve para que eles entendam a importância do tratamento, que se estenderá pelos próximos nove meses em uma propriedade no bairro Lomba Grande.
“É lá onde ocorre, de fato, o processo de ressocialização. Também fazemos visitas externas com eles, para que eles possam se socializar efetivamente, além de atividades esportivas, culturais e educativas”, contou Adriana. Ela relatou que um dos principais objetivos é transmitir o entendimento da busca pela integridade da pessoa humana, afastando pensamentos voltados a agressões físicas e verbalizações impróprias. “Dos meninos que estão dentro da comunidade, 95% conheceram e conviveram com alguma forma de violência”, informou.
Um dos jovens atendidos pela Fazenda, Ronaldo Maciel compartilhou uma das principais dificuldades enfrentadas pelos meninos que começam o acompanhamento terapêutico. “Logo que cheguei, não queria ficar. Graças a Deus, hoje já estou melhor e estou saindo”, comemorou. Kevin Kullmann, outro dos rapazes que estão em atendimento, contou sobre a evolução de sua personalidade. “Vim de uma comunidade em Parobé que a polícia fechou por maus tratos. Cheguei na Fazenda não confiando em ninguém. Com o tempo, percebi que uma mudança de vida seria possível, se eu quisesse. As coisas mais importantes que a Fazenda me devolveu foram o amor, a confiança na família e uma nova vida”, revelou.
O vereador Enio Brizola (PT) parabenizou o trabalho realizado e lamentou a existência de entidades fraudulentas. “Infelizmente, são muitas as comunidades que se dizem terapêuticas, mas que acabam prejudicando ainda mais a vida das pessoas que elas deveriam ajudar”, comentou. Cristiano Coller (Rede) emocionou-se com as histórias contadas e recusou os agradecimentos depositados aos vereadores pela abertura do espaço de fala. “Nós é que temos que agradecer a vocês pelo trabalho de ressocialização que vocês fazem com esses jovens, com essas crianças. É bom saber que há um espaço que abrigue essas pessoas”, emendou.
Enfermeiro Vilmar questionou como o poder público pode auxiliar na manutenção do trabalho realizado pela Fazenda. “Se essas pessoas estão aqui é porque elas estão querendo mudar, estão querendo voltar para suas famílias. Se não oferecermos um espaço e um lugar digno, eles, com certeza, estarão fazendo coisas que não gostaríamos”, ponderou. “Seria importante que a rede entendesse que a Comunidade Terapêutica é apenas o início, e que eles precisarão de apoio do poder público no retorno à sua vida regular”, lembrou Adriana.
A presidente da entidade, Margarida Junges, expôs que Novo Hamburgo está entre as cidades que menos contribuem para o financiamento das atividades da Fazenda do Senhor Jesus. “O Município é o que nos passa o menor valor, está há dois meses atrasado e o contrato não é reajustado há cinco anos. É um desafio muito grande. Contamos com limitações de recursos humanos. Entendemos que nosso trabalho é de grande importância para a sociedade, e fazemos isso por puro amor. Temos muitos colaboradores voluntários”, afirmou.
A vereadora Patricia Beck (PPS) pediu que a pauta não encerrasse na sessão e seguisse para as comissões legislativas pertinentes, investigando junto ao Executivo sobre formas de ampliar o sucesso da atividade. “Preocupa muito a rede não dar continuidade ao serviço prestado pela entidade, ainda mais se são os próprios Caps (Centro de Atenção Psicossocial) que encaminham esses meninos, em primeiro momento”, questionou. Sergio Hanich (MDB) parabenizou os meninos que compareceram à sessão. “Não se sintam envergonhados por estarem aqui. Todos nós cometemos erros ao longo da vida. Vocês estão corrigindo falhas justamente para não cometerem novos erros. Quanto ao apoio financeiro, não podemos desamparar aqueles que não são de Novo Hamburgo, mas deveríamos cobrar a coparticipação dos outros municípios também”, indicou.
Raul Cassel (MDB) sugeriu que o vídeo apresentado por Adriana, que apresenta o trabalho desenvolvido, fosse mais divulgado. “Gostaria muito que alguns pais e pessoas ligadas com o comércio ilegal de drogas pudessem assistir ao que estamos acompanhando aqui”, finalizou.
Como contribuir
Segundo Adriana, a principal fonte de renda para a manutenção do atendimento vem dos convênios assinados junto às prefeituras, além de doações feitas por meio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e recursos advindos do programa Nota Fiscal Gaúcha. Ela ressaltou, contudo, que outras doações diretas também são bem-vindas, podendo ser efetuadas junto à sede da entidade, na rua Manoel Pereira Brodt, 236, no bairro Operário. “Se algum colaborador quiser fazer parte da nossa ideia de busca de vida, também os contatos podem ser feitos na casa de triagem”, convidou Adriana.
A entidade
Na metade da década de 1990, um grupo de hamburguenses entrou em contato com a Pastoral de Auxílio Comunitário e Toxicológico (Pacto) de Porto Alegre, visitou experiências em Viamão e tomaram a decisão de criar a Pacto/NH, associação civil sem fins lucrativos com sede no bairro Operário. Cientes da ausência de instituição apropriada para o atendimento do público juvenil, inauguraram a Fazenda do Senhor Jesus, transferida em agosto de 1999 para uma área de nove hectares em Lomba Grande.