Câmara concede 2º Prêmio Sebastião Flores a personalidades que se destacaram no combate ao racismo em Novo Hamburgo

por Tatiane Souza última modificação 23/11/2018 15h04
22/11/2018 – O Legislativo hamburguense concedeu na noite de 22 de novembro o 2º Prêmio Sebastião Flores a quatro pessoas que se destacaram pela atuação em defesa dos direitos dos negros e no combate ao racismo no Município. Os premiados em 2018 foram Graziela Pires da Silva, na categoria Cultura, Margarida Marília da Silva, Personalidade Negra, Masse Tidjane Mbengue, Ação Social, e Rosane Dutra, na categoria Trabalho. A premiação também marca o Dia da Consciência Negra, celebrado no Brasil em 20 de novembro, data atribuída à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
Câmara concede 2º Prêmio Sebastião Flores a personalidades que se destacaram no combate ao racismo em Novo Hamburgo

Foto: Daniele Souza/CMNH

Compuseram a Mesa Diretiva dos trabalhos o presidente da Câmara, Felipe Kuhn Braun; o coordenador de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial e também membro da Comissão de Avaliação, Ilson Jeroni Rodrigues da Silva; o membro da Comissão de Avaliação, indicada pela Secretaria de Educação, Celi Teresinha Reinhardt; e o membro da Comissão de Avaliação, indicado pela Secretaria de Cultura, Alex Jonatan Lassakoski. Enio Brizola (PT), Gerson Peteffi (MDB), Inspetor Luz (MDB), Professor Issur Koch (PP) e Sergio Hanich (MDB) acompanharam a solenidade. Nor Boeno (PT) justificou a ausência. O secretário de Desenvolvimento Social, Roberto Daniel Bota, também estava presente. 

Reconhecimento 

Felipe Kuhn Braun ressaltou que mais de 50% dos brasileiros são de origem africana. E, por isso, é importante ressaltar tudo o que esse povo ajudou e ajuda na construção deste País. “Infelizmente sabemos que a grande maioria dos negros vieram para o Brasil em regime de escravidão”, apontou. Felipe falou da luta de Zumbi dos Palmares por mais direitos e uma sociedade mais justa e igualitária e destacou que o Brasil, ainda, abriga muitos imigrantes, como venezuelanos e senegaleses. “O brasileiro nato é indígena, mas quase a totalidade de nós tem descendência em alguma imigração”, lembrou. 

lson Jeroni Rodrigues da Silva salientou que os negros não foram convidados a vir para o Brasil, mas foram forçados. “Por isso, o prêmio é muito importante para nós. Os homenageados desta noite nos representam muito bem”, afirmou. 

Enio Brizola no início de seu discurso citou uma fala de Sebastião Flores, que sempre ressaltou a importância das escolas de samba – sociedades abertas para debater as questões não só da cultura negra, mas de todos os problemas que afligem à população nas mais diversas áreas. “Neste ano, tivemos um 20 de novembro esquecido pelas grandes autoridades do Estado e do País, e isso me entristeceu muito. É uma data que reverenciamos a morte de Zumbi dos Palmares, que passou a ser oficial desde 2011, mas que o movimento negro cultiva há muito tempo. Sou da vertente que acredita que a Princesa Izabel não foi uma santa que libertou os escravizados. Foi a luta que libertou”, disse o parlamentar. Enio Brizola falou também sobre os outros imigrantes, haitianos e senegaleses, e sobre o povo negro de Novo Hamburgo, que ainda sofre tanto com a discriminação e diferenças de oportunidades e reconhecimento. “Para cada negro em destaque na sociedade há 30 brancos. É importante fazermos essa reflexão”, apontou o petista. 

Gerson Peteffi (MDB) destacou a importância de se viver em uma democracia. “Eu quero deixar aqui uma palavra de apoio do que se pode construir a mais neste País. Devemos muito a vocês, o Brasil todo. O Papa pediu, recentemente, perdão pelos feitos da Inquisição, para quem acredita na Igreja Católica. E nós também, através de uma solenidade como esta, queremos dizer o quanto vocês são importantes e o quanto esta Casa valoriza vocês e o trabalho que desenvolvem”, afirmou Peteffi. “Vocês são pessoas que merecem, que se expuseram e lutaram que a raça negra tivesse mais destaque ainda”, disse, ao complementar que o Brasil é bonito e especial justamente pela mistura étnica que apresenta. 

A premiação 

Graziela Pires da Silva (categoria Cultura) 

O vereador Inspetor Luz (MDB) entregou o prêmio Sebastião Flores, na categoria Cultura, para Graziela Pires da Silva, representada por sua professora Selenir Kronbauer e por sua mãe, Cleci Pires da Silva. “Em nome da Graziela, agradecemos pelo reconhecimento e a visibilidade do trabalho desenvolvido por ela. Sabemos que o Município tem uma representatividade muito grande de pessoas que estão trabalhando em prol de uma sociedade mais justa e mais fraterna”. 

Formada em magistério pelo Colégio Santa Catarina e cursando musicoterapia pela Faculdades EST, com extensão pela UFRGS e pela Roehamptom University, em Londres, Graziela Pires da Silva dedicou grande parte de sua trajetória acadêmica e profissional à música. De 2009 até 2016, trabalhou como regente dos Coros Municipais – Escola de Arte-Educação, de Campo Bom. Em paralelo ao seu atual trabalho na Secretaria de Cultura campo-bonense, ela comanda como vocalista a banda 50 Tons de Pretas. 

Além de sua ligação com a arte, Graziela também se destacou por contribuições nas áreas social e de defesa dos direitos humanos, sendo vencedora do prêmio Oliveira Silveira – Ações Afirmativas (UFRGS) em 2015. No mesmo ano, foi uma das pesquisadoras convidadas a representar a região sul na criação do relatório sobre Intolerância Religiosa para o Ministério dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial, em Brasília. Em 2018, foi contemplada com um edital do Fundo de Apoio à Cultura – Pró-Cultura para realizar o primeiro musical estrelado por crianças com autismo do Rio Grande do Sul, em parceria com a musicoterapeuta Ana Carolina Steinkopf. 

Margarida Marília da Silva (categoria Personalidade Negra) 

O presidente Felipe Kuhn Braun entregou o prêmio Sebastião Flores, na categoria Personalidade Negra, para Margarida Marília da Silva. “Me sinto muito honrada em receber este prêmio nesta Casa. Foi o carnaval que me trouxe para cá há 28 anos, como rainha. Depois me tornei professora municipal. Sabia que desenvolveria um grande trabalho, principalmente às pessoas iguais a mim. Através do carnaval, mostro aos meus alunos o que é uma cultura. Essa festividade já foi muito valorizada, mas hoje está esquecida em nosso Município”, disse. Margarida contou, ainda, que procura homenagear o carnaval, os sambas enredos e toda a sua riqueza durante as suas aulas. “Realizo um trabalho sério e pautado na educação e gostaria de ver o meu carnaval resgatado aqui em Novo Hamburgo. Estou aqui fazendo esse pedido a todos vocês”, salientou a homenageada. 

Professora da rede municipal de ensino de Novo Hamburgo há 28 anos, Margarida Marília da Silva atua na Escola Municipal de Arte Carlos Alberto de Oliveira – Carlão nos cursos de dança afro-brasileira infantil, infanto-juvenil e adulto. Formou-se em magistério, com habilitação pluridisciplinar para ensino fundamental. É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de Pelotas, com extensão em Procedimentos Didático-Pedagógicos Aplicáveis em História e Cultura Afro-Brasileira pela UFRGS. 




Masse Tidjane Mbengue (categoria Ação Social) 

Enio Brizola entregou o Prêmio Sebastião Flores, na categoria Ação Social, para Masse Tidjane Mbengue, conhecido como Massamba. “Muito obrigada pelo prêmio. Recebo-o como forma de motivação. Faz cinco anos que estou nesta cidade”, contou Massamba. Ele aproveitou a ocasião para pedir ajuda das autoridades para conseguir os documentos necessários para poder viajar e visitar a sua família senegalesa. Brizola colocou a Comissão de Direitos Humanos à disposição do laureado. 

Presidente da Associação dos Senegaleses de São Leopoldo e Novo Hamburgo, Massamba Tidjane Mbengue vive no Brasil desde janeiro de 2015. Deixou para trás sua família com a qual trabalhava na área de agricultura e criação de animais. No Brasil, atualmente, em paralelo à atividade de confeiteiro, atua como palestrante em escolas, abordando a questão do preconceito racial, desigualdade e desafios vividos pelos imigrantes africanos. 




Rosane Dutra (categoria Trabalho) 

Gerson Peteffi entregou o Prêmio Sebastião Flores, na categoria Trabalho, para Rosane Dutra. “Estou muito feliz por estar aqui representando o povo negro, em especial as mulheres negras. É muito difícil chegarmos onde queremos. Mas vamos conseguir, com certeza. Muito obrigada”, disse Rosane. 

Natural de Novo Hamburgo, Rosane Dutra atua como auxiliar de disciplina concursada na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha desde maio de 1989. Entre suas atribuições está manter a ordem dentro do âmbito escolar, atender aos alunos, professores, funcionários, pais e comunidade em geral, além de remanejar turmas, quando necessário. Há mais de 15 anos, vem dedicando-se a uma série de cursos, especialmente na área de pedagogia. 

Seu empenho e dedicação se estende também a outros segmentos. Em 2017, recebeu o Certificado de Honorabilidade pelos serviços prestados à Sociedade Cruzeiro do Sul. Formada em ciências jurídicas e sociais pela Unisinos, cursou também por um período ciências contábeis, mas não chegou a concluir. 


O Prêmio Sebastião Flores 

A atividade foi proposta por meio do Requerimento n° 1.308/2018, assinado pela Mesa Diretora, composta pelos vereadores Felipe Kuhn Braun, presidente; Vladi Lourenço, vice-presidente; Enio Brizola, primeiro secretário; e Gabriel Chassot, segundo secretário. Criada em 2013, ano em que ocorreu sua primeira edição, a distinção é outorgada a pessoas ou entidades que se destacaram pela atuação em defesa dos direitos dos negros e no combate ao racismo no Município. As sugestões, apresentadas até o dia 30 de agosto, foram avaliadas por representantes da Câmara de Novo Hamburgo, Coordenadoria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial e Secretarias de Cultura, Educação e Esporte e Lazer. 


Conheça a biografia de Sebastião Flores, que deu nome à premiação 

Sebastião Flores é considerado uma das figuras mais importantes do carnaval gaúcho. Presidiu a Escola de Samba Protegidos da Princesa Isabel, em Novo Hamburgo, desde a sua fundação, em 1969, até 2008. No ano de 2011, Sebastião morreu vítima de um acidente vascular cerebral. 

Além de ser lembrado como figura importante no carnaval, Sebastião Flores era conhecido por sua atuação contra a discriminação racial. “Ele acreditava que as escolas de samba eram os 'quilombos', lugar para instaurar educação, esporte, lazer, arte e cultura”, afirmou Lana Flores, filha de Sebastião.