Audiência pública indica caminhos para fomentar o cicloturismo em Novo Hamburgo

A audiência pública reuniu no Plenário da Câmara vereadores, deputados, representantes da Prefeitura e entusiastas do uso da bicicleta como meio de transporte e aparato de esporte e lazer. A condução dos trabalhos coube ao secretário da Coedu, Gustavo Finck (PP), após abertura feita pelo relator do colegiado, Ricardo Ritter (PSDB). Os vereadores Enio Brizola (PT) e Sergio Hanich (MDB) acompanharam as discussões pelo YouTube da TV Câmara e também deixaram suas manifestações. Felipe Kuhn Braun (PP), presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto, não pôde participar da audiência.

O primeiro espaço de fala, concedido ao deputado federal gaúcho Covatti Filho, trouxe logo uma boa notícia. O parlamentar comprometeu-se a encaminhar emenda ao Município aportando parte do valor necessário para a implantação de ciclofaixa na estrada da Integração Leopoldo Petry, em Lomba Grande. “O cicloturismo cresce cada vez mais. Sabemos que, em meio à pandemia, os municípios estão com os recursos escassos e focados no combate à Covid-19. Por isso estou assumindo o compromisso de alocar R$ 1,5 milhão. Daremos o primeiro passo para que essa ciclofaixa saia do papel”, afirmou o deputado. A quantia mencionada corresponde a mais da metade do investimento total previsto para toda a extensão da estrada da Integração, que chega a R$ 2,8 milhões.

“Tenho certeza que a verba fará diferença não só para o cicloturismo, mas também na vida de muita gente que utiliza a via para chegar a seu trabalho. Com esses recursos, conseguiremos aportar ao menos metade do circuito”, comemorou Finck. Ricardo Ritter, o Ica, salientou que a ação garantirá maior segurança aos ciclistas. “Trata-se de uma via estreita, que de certa forma oferece perigo”, completou o vereador.

Ciclofaixas em rodovias estaduais

Presidente da Frente Parlamentar em Apoio ao Ciclismo e ao Cicloturismo da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Issur Koch (PP) apresentou o trabalho realizado ao longo do ano e enfatizou o potencial turístico de Novo Hamburgo. O ex-vereador destacou ainda a apresentação do Projeto de Lei Estadual nº 132/2021, que determina a realização de estudo e implementação de ciclovias ou ciclofaixas sinalizadas em todas as obras de rodovias estaduais. “Inserir a bicicleta nas discussões sobre mobilidade urbana é mais do que urgente. Já passou da hora. O Governo do Estado anunciou a concessão de rodovias por todo o Rio Grande do Sul, mas não há nenhuma menção ao ciclismo”, criticou o deputado.

“O Brasil tem mais bicicletas do que automóveis. Além disso, são 25 mil postos de trabalho no país ligados à fabricação ou venda de bicicletas. Isso é muito significativo na nossa economia”, acrescentou. O parlamentar compartilhou ainda uma ideia para Novo Hamburgo que envolve a demarcação de ciclofaixas em avenidas importantes da cidade aos finais de semana. “As famílias poderão utilizá-las, e os motoristas se acostumarão à presença dos ciclistas. É importante termos essa educação para o trânsito”, pontuou o deputado. “Investimentos em ciclofaixas e ciclovias possibilitariam a redução da necessidade de investimentos na saúde”, finalizou.

Avanços e desafios

O diretor de Trânsito da Prefeitura, Eliseu Raimundo, reforçou a importância da educação no trânsito e revelou algumas das reclamações de motoristas e comerciantes em razão da implantação de ciclofaixas na avenida Victor Hugo Kunz e na rua Marquês de Souza. “Esse modal que estamos inserindo com maior entusiasmo e ênfase em Novo Hamburgo precisa ter seu espaço garantido com a devida responsabilidade. Um dos grandes problemas é que as cidades não foram planejadas pensando o ciclismo”, explicou. Conforme o diretor, condutores temem o impacto das ciclofaixas para o tráfego de automóveis e questionam a retirada de vagas de estacionamento. “Na avenida Victor Hugo Kunz, os tachões foram alvo de muitas críticas”, relatou.

Raimundo destacou que, apesar do trabalho, a compreensão do potencial do ciclismo e do cicloturismo na cidade tem sido motivo de satisfação. “Estamos nos tornando um polo atrativo para os deslocamentos de lazer e atividade física”, apontou. De acordo com o diretor, a implantação de um espaço exclusivo para o trânsito de bicicletas na estrada da Integração é um dos alvos da Prefeitura. Eles destacou ainda que, se Novo Hamburgo assumir a manutenção de trecho da avenida dos Municípios, esta também será uma potencial via para o desenvolvimento de ciclofaixa.

Cicloturismo

Diretor de Turismo de Novo Hamburgo, Deivid Schu enalteceu a competitividade turística do município, potencializada por sua infraestrutura, e a importância da conexão com cidades vizinhas. “O que mais orienta a política pública do turismo de hoje é a cooperação regional. Tanto o Vale Germânico como a Rota Romântica são projetos regionais. Isso mostra que o turismo se dá através da soma de atrativos, das riquezas e qualidades que esses municípios têm”, ilustrou.

Schu destacou ainda a importância dos prestadores de serviços ligados ao turismo se inscreverem no Cadastur, programa mantido pelo Governo Federal que garante vantagens e oportunidades a pessoas físicas e jurídicas que atuam no segmento e que serve como fonte de consulta para o turista. “Ele é a base do empreendedor que atua com turismo. O Cadastur teve um crescimento de 42% na região no último ano. Isso é política pública sendo implementada para que o empreendedor se veja como um agente do turismo, um elo final e importante. O Brasil é líder mundial em atrativos naturais e está entre os dez países com maior atrativo cultural. Essa mesma riqueza nós temos. Cabe saber vendê-la”, comentou. O diretor frisou ainda que Novo Hamburgo possui 45% das atividades econômicas do turismo dentro do Vale do Sinos e 40% da mão de obra empregada.

O ciclista Daniel Hunger, representante da Pedalando no Sul, operadora oficial do cicloturismo na Rota Romântica, falou sobre o circuito de 355 quilômetros lançado em setembro de 2020 entre as cidades de São Leopoldo e São Francisco de Paula. O empresário detalhou algumas das responsabilidades envolvidas na construção do roteiro e ressaltou o potencial da região para atrair ciclistas de outras partes do país.

Além do fomento ao turismo de bicicleta, Hunger pediu um olhar para as necessidades das pessoas que utilizam o meio de transporte como modalidade esportiva. “Precisamos achar espaço para que esses ciclistas possam treinar. É preciso investimento nessa área também. Não é só a mobilidade urbana que está em debate. Precisamos fazer um mapeamento das principais vias de trânsito cicloviário e de locais de lazer. Acho importante que os grupos de pedal sejam ouvidos. Precisamos entender que são investimentos que trarão retorno para os municípios”, sustentou.

Ao término das manifestações dos convidados, o vereador Gustavo Finck procedeu a leitura de comentários feitos por meio da transmissão no YouTube e abriu espaço para questionamentos por parte dos cidadãos presentes no plenário. De acordo com o parlamentar, as discussões comporão relatório final com todos os encaminhamentos da audiência pública. “Estamos vivendo um momento único. São poucos os municípios que têm esse núcleo de pessoas tão bem qualificadas para debater o cicloturismo”, elogiou Daniel Hunger.