Presidente de entidade defende inclusão de jovens com Down na escola regular
Após 1988, disse Gecy, vários documentos estão sendo aprovados e todos ressaltam que a “nossa população tenha garantido o direito ao ensino regular nas classes comuns”. Ela lembrou que, desde a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, “somos finalmente considerados pessoas e não mais portadores, especiais ou outras denominações. Com toda a Legislação existente, o que falta para sermos considerados pessoas capazes de nossas escolhas, protagonistas da nossa história”, questionou. Segundo ela é oportunidade.
Ela questiona também por que segregar, se já é sabido que a inclusão deve ser realizada desde os primeiros meses de vida, em todos os espaços, para que a pessoa possa desenvolver todas as capacidades.
A Afad luta pela inclusão das pessoas com deficiência na rede regular de ensino. Segundo ela, estatísticas do MEC dão conta que, em Novo Hamburgo, 73% das matrículas de alunos com deficiência são nas escolas comuns da rede regular de ensino. “A escola comum deve dar conta no turno e contra turno de todos. Porque estar incluído significa pertencer, estar junto, compartilhar, crescer e se desenvolver com a própria geração. É exercer a cidadania e participar da sociedade como sujeito de direitos e deveres. É buscar um futuro sem separação”, falou complementando que “esse mundo é possível, ele existe, basta que você mude seu olhar, seu foco, basta que você o sinta, e dele queira participar, nos respeitando, com nossas limitações.”
Ela contou ainda que 100 famílias são atendidas pela instituição e todos as pessoas com Down estão matriculadas na rede regular de ensino.
Polêmica
Sobre a polêmica que gira em torno do possível fechamento das Apaes, Gecy explicou que o novo Plano Nacional de Educação surgiu em 2010. Ele contém, segundo ela, 10 diretrizes e 20 metas, sendo que a número quatro fala exatamente da educação especial no Brasil. “O que queremos nos próximos 10 anos? Queremos que todas as crianças que nasçam tenho o direito garantido ao ensino regular, a estimulação, ao convívio. Surgiu, a partir disso, um boato de que nosso movimento queria fechar as Apaes. Ninguém falou isso. Queremos respeito e direito assegurado de permanência ao ensino regular. Queremos a inclusão dessa geração entre 4 e 17 anos. Ninguém quer fechar as Apaes. O atendimentos das escolas especiais é complementar e suplementar. Eles têm um público específico. Não tem e não podem fechar, mas devem cumprir o papel delas. O nosso movimento luta pela inclusão pelo menos em um turno, e disso não vamos abrir mão”, explicou.
Depoimentos
Maíra Klauck, de 18 anos, filha de Gecy, utilizou a tribuna para contar um pouco mais sobre sua história. “Nasci com Síndrome de Down. Agradeço meus pais por tudo que fizeram por mim até hoje. Com alguns meses de vida já buscaram recursos para me desenvolver, mesmo tendo ouvido falar que as crianças com a síndrome não aprendiam. Com amor e dedicação, me levaram para os profissionais de várias áreas de estimulação dedicados e competentes, que não me viam como deficiente, mas como criança que precisava de estimulação. Hoje, estudo 3º ano do ensino médio, me formo no final do ano, e quero continuar estudando e trabalhar. Levar minha vida como qualquer outro jovem da minha idade. Somos pessoas capazes e protagonistas de nossa história”, relatou.
Lucas Schlindwein, tem 24 anos, e já está incluso no mercado de trabalho. “Estudei na Feevale, e depois fiz um curso na Asbem (Associação do Bem Estar da Criança e do Adolescente), e um estágio no Hospital Regina. Gostaram do meu trabalho e me tornei funcionário. Além disso, faço aulas de natação, teclado e dança”, contou.
Ricardo Seewald, presidente da Adevis-NH (Associação dos Deficientes Visuais de Novo Hamburgo) e presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, expôs sua vontade de realizar uma audiência pública para falar sobre a convenção dos direitos das pessoas com deficiência. “Precisamos abrir um espaço de reflexão sobre a inclusão nas suas várias faces. Essa Casa legislativa tem o dever de abrir uma agenda permanente para discutir essa temática. Precisamos repensar nossa cidade”, falou. Roger Corrêa (PCdoB), presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia do Legislativo hamburguense, falou que levará a proposta para discussão na próxima reunião do grupo.
Cristiane Souza, professora do Município há 20 anos, que atua como gerente de educação inclusiva e diversidade, da secretaria de Educação, apontou que é objetivo do governo tornar as escolas cada vez mais cidadãs, humanas e democráticas. “Não temos ainda uma escola ideal e totalmente inclusiva, mas para buscar isso precisamos que as pessoas com deficiência frequentem a escola regular”. Ela mostrou algumas políticas inclusivas já desenvolvidas pelo Município. “Temos 635 alunos com alguma deficiência atendidos na rede regular. Quando temos um aluno com deficiência inserido, os ditos “normais” aprendem muito também. Muito da dificuldade que encontramos hoje provém porque na nossa época não tivemos convívio na escola com pessoas com deficiência.” Ela mostrou alguns projetos especias, como o de Equoterapia. E convidou a todos para a 2ª Mostra Experimental de Curtas Metragens - Curta Inclusão & Diversidade, que será realizada no cinema. Ela relatou que as escolas do Município trazem suas experiências para compartilhar com os demais, fomentando o debate e a reflexão. (Saiba mais: curtainclusao.blogspot.com.br)