Audiência pública debate a qualidade dos serviços prestados pela AES SUl em NH

por tatianelopes — última modificação 16/10/2020 19h59
19/03/2014 - A falta de energia decorrente do temporal de 31 de janeiro deste ano foi tema de uma audiência pública na noite desta quarta-feira, dia 19. A iniciativa é da Comissão de Obras, Serviços Públicos e Mobilidade Urbana da Casa, integrada pelos vereadores Antonio Lucas (PDT), Jorge Tatsch (PPS) e Gerson Peteffi (PSDB). O proponente da ação, conforme Lucas, foi o vereador Gilberto Koch (PT).

Audiência AES SUL

O presidente da Casa, Naasom Luciano (PT), abriu os trabalhos. Estavam presentes o Presidente do Sindicato de Gastronomia e Hotelaria (Sindgastrô), César da Silva; a vice-presidente de infraestrutura da Associação Comercial e Industrial de Novo Hamburgo (ACI), Gladis Ester Killing; o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Novo Hamburgo (CDL), Remi Carasai; o secretário municipal de Obras Públicas e Serviços Urbanos, Ênio Brizola; o representante do Sindicato do Comércio Varejista de Novo Hamburgo (Sindilojas), Remi Scheffler; o conselheiro da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados (Agergs), Luciano Schumacher; e o gerente de Manutenção de Campo da Operadora Tim, Engenheiro Luciano Bampi. 
Paulo Linck perguntou qual o faturamento da AES SUL por ano para poder entender quanto a multa cobrada pela Agergs impacta no seu orçamento. O representante da Agergs disse que a multa depende da conduta da concessionária e vai até 2% do arrecadamento anual liquido. “Não tenho o dado do faturamento preciso, mas arriscaria dizer que chega a R$ 1 bilhão”.  

A AES Sul não enviou representante, mas justificou a ausência mencionando a CPI instaurada na Casa e que investiga a qualidade dos serviços prestados por essa concessionária. “Seria redundante participarmos das duas discussões. Estamos focados nas atividades da CPI”, ressaltou a AES SUL. Também estavam presentes os vereadores Professor Issur Koch (PP), Enfermeiro Vilmar (PR), Sergio Hanich (PMDB), Inspetor Luz (PMDB), Patrícia Beck (PTB), Luiz Fernando Farias (PT), Gilberto Koch (PT), Cristiano Coller (PDT) e Raul Cassel (PMDB).

O presidente do Legislativo ressaltou que objetivo da audiência é refletir sobre a série de prejuízos trazidos pelo temporal e consequente falta de energia elétrica para Novo Hamburgo. “Resolvemos nos posicionar, enquanto Câmara, para discutir com as entidades representativas, apurar os fatos e buscar soluções", destacou Naasom.

Gladis Ester Killing falou sobre os prejuízos que as empresas tiveram devido à falta de energia elétrica. Ressaltou que algumas tinham geradores, mas que esses não deram conta de suprir a demanda. Ela relatou diversos casos e suas particularidades. Os principais problemas foram demora no recolhimento das árvores caídas por parte da Prefeitura – sobre elas ainda disse que falta uma ação efetiva de avaliação e poda.  A vice-presidente da ACI afirmou que falta para a AES SUL um canal transparente de diálogo com a comunidade. “Muitas empresas continuaram enfrentando problemas no mês de março em função da instabilidade da energia elétrica”, afirmou. Gladis encerrou seu depoimento sugerindo a criação de políticas públicas para diminuir o consumo de energia nas casas e nas empresas e o investimento em energias alternativas.

César da Silva disse que há uma falta de planejamento urbano no País, cujo resultado se vê agora na cidade. “O terceiro setor é o que mais emprega na região, mas muitas vezes nem somos chamados para ser ouvidos. Pagamos nossas contas em dia e exigimos um serviço de boa qualidade. Não estamos pedindo energia de graça. Nós representamos 15 setores diferentes na região e tivemos R$ 210 mil de prejuízo. Naquela noite, Novo Hamburgo estava apagada. Somos 1.250 empresas em NH. E ficamos no breu. Quanto os cofres públicos também deixaram de arrecadar neste dia? Queremos postes de concreto, mas antes de tudo um planejamento urbano e cabeamento subterrâneo. Se Gramado e a África do Sul podem, por que nós não podemos ter isso? Somos reféns de uma ilusão de algo que não existe – um serviço bom. Precisamos fazer algo para mudar isso”, finalizou o presidente do Sindgastrô.

O presidente do Sindilojas, Remi Scheffer, falou que uma cidade ficar sem energia elétrica por cinco dias é inconcebível no século XXI. “Os prejuízos para nós são incalculáveis. Nos dias sem luz, os funcionários ficaram parados, mas estavam cumprindo o seu dever. Nós tivemos de pagar, sem vender nada. E os funcionários também foram prejudicados, pois são comissionados. Foi um caos até no transito, já que afetou até os semáforos”, lembrou.

Remi Carasai, da CDL, falou que os prejuízos causados foram de toda ordem. “Deixamos de vender, os funcionários ficaram parados. Precisamos ser ressarcidos desse prejuízo. De que forma? Não sei! Quem vai pagar essa conta? Por que a AES Sul não tem uma equipe que avalia os postes, os fios, que trabalhe de forma preventiva? Sabemos que o temporal foi anormal, mas se tivesse um trabalho preventivo, os danos seriam menores”, questionou.

O gerente de Manutenção de Campo da Operadora Tim, engenheiro Bampi, disse que a qualidade do serviço de telefonia também depende da qualidade dos serviço de energia elétrica. Ele falou sobre a importância do trabalho de prevenção, porém ressaltou que, quando há falhas, é preciso agir rápido. “Me causou estranheza a AES SUL não estar aqui hoje. A Tim seguiu todos os processos que determina a agência reguladora, tomou todas as providências cabíveis para restaurar os serviços em menor tempo possível, com equipes trabalhando 24 horas”, afirmou. Todas as empresas de telefonia foram convidadas para a audiência. Somente a Tim compareceu. A Oi enviou justificativa para o não comparecimento.

O secretario Ênio Brizola disse que o temporal de 31 de janeiro impactou duramente a cidade, assim como outros eventos climáticos que vieram na sequência. “Pela falta de energia, tivemos dificuldade em acessar as ruas e as casas para ajudar a população. Recolhemos mais de 4 mil metros cúbicos de vegetação. Mas percebemos um total desatendimento da concessionária e a falta de planejamento estratégico. Sofremos também com o desabastecimento de água por mais cinco dias. A Comusa também teve prejuízos de arrecadação. Tivemos paralisação nas escolas, o que implica recuperação das aulas e mais gastos para a Prefeitura. É importante quantificar as perdas que tivemos com iluminação pública também. Foi uma perda de mais de R$ 150 mil, sem contar os gastos com mão de obra para trazer a cidade para a normalidade”, enfatizou. Ele disse que a secretaria de Obras está  à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários para a CPI da AES Sul, instaurada na Câmara.

O conselheiro Luciano Schumacher ressaltou que a Agergs é responsável pela fiscalização das empresas concessionárias de energia elétrica, e admitiu o péssimo atendimento realizado pela AES SUL, que demorou muitos dias para restabelecer o fornecimento de energia em Novo Hamburgo. “Acreditamos que a empresa deve agir preventivamente. Discutimos muito as mudanças nas redes de energia. Tem de mudar o padrão de rede, tendo em vista que o Rio Grande do Sul está em uma zona sujeita a temporais. As concessionárias devem se preparar com novas tecnologias, redes compactas, por exemplo. Quando ocorre um temporal, o call center é o local mais procurado – em um momento de crise extrema não há como dar suporte a milhares de pessoas, por isso é preciso melhorar a tecnologia para evitar tantos transtornos e reclamações. Além disso, é fundamental que sejam rápidos ao restabelecer o atendimento. É inadmissível tantos dias sem energia elétrica”, disse. Schumacher foi um dos mais questionados pelos vereadores e outros representantes de entidades. Ele afirmou que já aplicaram multas no valor de R$ 32 milhões para a AES Sul, e garantiu que a atuação da empresa está sendo analisada. "É um processo bem detalhado", afirmou.  Ele divulgou o telefone para contato, reclamações e sugestões:  0800 727 0167.

O público também se manifestou. Jandir Martins Almeida perguntou se havia um cronograma para a troca dos postes de madeira por de concreto. O representante da Agergs explicou que as concessionários não estão proibidas de usar postes de madeiras. “É a empresa que define a tecnologia que empregará. Acreditamos que o mais adequado é o poste de concreto, porque é mais resistente, por exemplo. Mas nós cobramos o resultado. Independente da tecnologia empregada, a concessionária deve fornecer uma energia de qualidade e ininterrupta”, esclareceu. 

Os vereadores também se manifestaram durante a audiência, e realizaram inúmeros questionamentos às autoridades presentes. Antonio Lucas, que conduziu os trabalhos da noite, ressaltou que será enviado um DVD com todas as falas para a CPI da Casa e também para a CPI instaurada na Assembleia Legislativa. "Terão um amplo material para ajudar nas investigações", concluiu.