Projeto Zap da Saúde de São Leopoldo pode ser referência para programa em Novo Hamburgo

por Maíra Kiefer última modificação 12/11/2025 21h10
12/11/2025 – Adotado durante as enchentes que atingiram 80% de São Leopoldo no ano passado, o projeto Zap da Saúde, mesmo após a troca da administração municipal, continuou em 2025 ampliando serviços e se consolidando na área de teleatendimento da rede pública leopoldense. “As boas iniciativas devem ser replicadas”, afirmou Eliton Ávila (Podemos) na Câmara de Novo Hamburgo nesta quarta-feira, 12, mencionando que uma alternativa semelhante está sendo estudada pela administração hamburguense para iniciar em dezembro. O vereador foi o autor do convite para a participação da secretária da Saúde de São Leopoldo, Kelbe Gonçalves Rodrigues, e do diretor de Saúde Digital, Tiago Sperb Machado, na sessão plenária.
Projeto Zap da Saúde de São Leopoldo pode ser referência para programa em Novo Hamburgo

Crédito: Pyetra Trindade/CMNH

Da tribuna, Kelbe relatou que o atendimento digital tornou-se indispensável especialmente porque a população perdeu receitas médicas, agendamentos de consultas e medicamentos durante a tragédia de maio de 2024. Atualmente, segundo a titular da pasta, são realizados, em média, 600 atendimentos por dia, totalizando mais de 11 mil por mês em 2025. Por meio do WhatsApp – (51) 9 9557-8541 –, a comunidade tem acesso a 26 serviços, entre eles telemedicina, consulta de medicamentos disponíveis na farmácia municipal, apoio em casos de violência doméstica, atendimento a pessoas com depressão, orientações sobre vacinas e postos mais próximos, além de lembretes de exames, como ecografias para gestantes. A previsão, segundo ela, é que em 2026 o serviço também esteja disponível nas unidades de saúde, eliminando a necessidade de filas durante a madrugada, por meio de agendamentos digitais.

Kelbe acrescentou que o usuário, ao informar o CPF, consegue inclusive acompanhar a posição na fila de regulação e o andamento dos procedimentos. Ela mencionou ainda o funcionamento de um serviço de busca ativa de pacientes. “Todas as mulheres com exames citopatológicos atrasados há dois anos, na faixa etária de 35 a 44 anos, do bairro São Dumont (por exemplo), recebem diretamente no celular, sem precisar acionar nenhum botão, uma mensagem convidando-as para comparecer à unidade em determinados dias. Assim, conseguem marcar o exame. Da mesma forma, chamamos as pessoas para doar sangue”, explicou, citando também o acompanhamento dos pacientes do Serviço de Apoio Especializado (SAE). A secretária destacou a importância da parceria com a Unisinos, na área de telecuidado, com horários adicionais realizados por residentes, ampliando em alguns momentos o atendimento.

Para o diretor de Saúde Digital, Tiago Sperb Machado, os 180 mil atendimentos não refletem apenas um serviço digital, mas um olhar humano de atenção, ao permitir que o cidadão não precise se deslocar até uma unidade. “O SUS foi criado em um tempo analógico, quando não existiam smartphones, computadores ou sistemas. Com esses dados, entendemos que a população pode se relacionar com o serviço público de saúde de outra forma, utilizando a tecnologia. É um paradoxo, porque muitas vezes se diz que a tecnologia afasta o cuidado humano; aqui é o contrário. Em São Leopoldo, os 180 mil atendimentos mostram que o Zap da Saúde não é apenas um canal digital — ele é uma forma de humanização, ao acolher pessoas que não precisam ir até a unidade para obter orientações, verificar medicamentos disponíveis ou acessar uma teleconsulta médica”, ressaltou, destacando o impacto positivo da busca ativa de pacientes que necessitam de exames e cuidados atrasados.

Questionamentos dos vereadores

Após a apresentação da iniciativa bem-sucedida no município vizinho, os parlamentares hamburguenses elogiaram o uso da ferramenta para facilitar o dia a dia da comunidade e foram unânimes ao destacar a necessidade de Novo Hamburgo se espelhar no exemplo leopoldense. Ito Luciano (Podemos) parabenizou o grupo pelo trabalho desenvolvido e demonstrou preocupação com as pessoas que não dominam a tecnologia para buscar atendimento médico.

Tiago Sperb Machado explicou que esse é um ponto sempre considerado pela administração, lembrando que o atendimento presencial continua normalmente, assim como as unidades de saúde permanecem operando.

O vereador Ricardo Ritter – Ica (MDB) também se manifestou sobre a iniciativa implantada em São Leopoldo. Ele mencionou um caso ocorrido em Novo Hamburgo, em que os serviços de saúde tentaram contato com um paciente por oito vezes. Outra questão levantada pelo parlamentar foi a discrepância entre a quantidade de cartões SUS (400 mil) e a quantidade de habitantes da cidade (250 mil). “Temos que tentar resolver esses problemas”, afirmou.

Kelbe explicou como são realizados os contatos em São Leopoldo. “Tentamos três vezes, em dias e horários diferentes. Se não conseguimos pelo Zap, ligamos por telefone”, esclareceu a secretária, salientando que, no mínimo, três tentativas precisam ser registradas para comprovar o esforço do serviço de saúde.

“Ficamos muito felizes com essas trocas que dão certo. Confesso que fiquei surpresa com os números apresentados sobre as consultas por telemedicina”, declarou Deza Guerreiro (PP), que questionou quantos operadores são responsáveis pelo encaminhamento às especialidades médicas. A titular da pasta informou que são nove operadores na parte digital, que utilizam tablets para direcionar as demandas. “Para todos os serviços, temos uma pessoa responsável”, concluiu.

O vereador Juliano Souto (PL) destacou que o administrador de São Leopoldo é visionário e sabe escolher bem sua equipe, elogiando o trabalho desenvolvido. “Juntos, somos quase meio milhão de habitantes e temos nossas peculiaridades, mesmo sendo cidades limítrofes”, observou o parlamentar, referindo-se a Novo Hamburgo e à cidade vizinha.

A vereadora Professora Luciana Martins (PT) elogiou o fato de a atual gestão manter uma política implantada pela administração anterior, promovendo avanços. A parlamentar questionou o que foi aprimorado e desenvolvido neste ano. Tiago explicou que o Zap foi inicialmente criado para atender a população em uma situação emergencial e que agora está estruturado para funcionar de forma permanente e organizada. “São 600 pessoas que deixam de ir até um serviço de saúde diariamente”, frisou.

Joelson de Araújo (Republicanos) perguntou sobre a qualificação dos profissionais que atendem as mensagens do serviço de WhatsApp e quantos médicos realizam as teleconsultas. A secretária respondeu que são quatro médicos atuando com horários marcados, pertencentes ao território, e que também trabalham nas UBS. Segundo ela, as consultas são mais longas do que as presenciais, durando, em média, de 30 a 40 minutos.

O proponente do convite, Eliton Ávila, destacou que uma das principais dificuldades da população para acessar os serviços de saúde está relacionada ao deslocamento até o local, observando que, para muitas pessoas, é necessário utilizar dois ônibus para chegar à Secretaria de Saúde, o que ultrapassa R$ 20,00 em despesas de ida e volta.

O presidente do Legislativo, Cristiano Coller (PP), lembrou que a Casa Legislativa têm se preocupado com as questões da saúde, buscando agilizar os atendimentos. Ele falou que está em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (Cojur) um projeto que trata da possibilidade de um familiar retirar medicação para pacientes impossibilitados.

registrado em: