Comissão de Segurança debate aumento de furtos e presença de pessoas em situação de rua no Centro

por Daniele Silva última modificação 31/07/2025 17h30
31/07/2025 – O aumento nos índices de furtos e arrombamentos, especialmente na região central, tem preocupado comerciantes e moradores. Conforme dados da Secretaria Municipal de Segurança, houve um crescimento de 36% nos casos envolvendo estabelecimentos comerciais e de 22% em residências. Com o objetivo de discutir alternativas para a redução desses crimes — muitos atribuídos à população em situação de rua —, a Comissão de Segurança da Câmara (Coseg) reuniu-se na manhã desta quarta-feira, 30, com secretários municipais, integrantes da Polícia Civil, Guarda Municipal e da assistência social. O encontro contou ainda com a presença de representantes do Instituto Joanna de Ângelis e do vice-prefeito Gerson Haas.
Comissão de Segurança debate aumento de furtos e presença de pessoas em situação de rua no Centro

Foto: Daniele Souza/CMNH

O assunto chegou à Coseg após reunião anterior no Centro Administrativo Leopoldo Petry, intermediada pelos vereadores Felipe Kuhn Braun (PSDB) e Giovani Caju (PP), com a presença de comerciantes da região. A atividade desta quarta foi presidida pelo secretário do colegiado, Juliano Souto (PL). A presidente Daia Hanich (MDB) justificou ausência.

“Entendemos que essa pauta da segurança pública, principalmente no Centro da cidade, é extremamente importante. Há tempos ouvimos reclamações, desde o período eleitoral, quando dialogamos com muitas pessoas que relataram problemas com os moradores na praça central e nas proximidades do Banrisul. Ali há um grande número de pessoas, e elas acabam incomodando os moradores dos prédios no entorno com arruaças durante a noite e pequenos furtos. Essa é a principal queixa que a população nos traz”, alertou Gerson Haas. Ele mencionou a força-tarefa realizada no início da gestão para a retirada desse grupo da Praça do Imigrante, e comparou a medida a "enxugar gelo". Reconheceu que a Constituição assegura o direito de ir e vir, mas destacou a necessidade de garantir segurança à população.

Para Haas, é fundamental envolver as instituições socioassistenciais no debate, já que a permanência no Centro estaria relacionada à oferta de alimentação por parte dessas entidades. Ele também criticou o funcionamento do Centro Pop, alegando que o local acaba facilitando a vinda de pessoas de outras cidades. “Precisamos auxiliar essas pessoas a saírem dessa situação. Esse é o posicionamento da gestão”, reforçou.

O secretário de Segurança, Rosalino Seara, apresentou dados sobre os crimes na cidade. De acordo com ele, houve redução nos crimes mais violentos, como homicídios e assaltos à mão armada, em contraponto ao aumento de delitos contra o patrimônio. Segundo Seara, um dos entraves é a baixa efetividade da prisão dos autores desses crimes. Como resposta, citou o aumento das rondas com motocicletas e abordagens a pessoas em situação de rua. “Temos indivíduos que se passam por moradores de rua, mas são, na verdade, criminosos disfarçados.”

Outra medida destacada foi a reunião com o Sindilojas e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) para orientar os comerciantes quanto à instalação adequada de câmeras de segurança que facilitem a identificação dos autores dos crimes. Novo Hamburgo possui, segundo o ex-delegado, um banco de dados com mais de 8 mil imagens de pessoas presas nos últimos anos.

O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Anderson Bertotti, relatou ações conjuntas entre a segurança pública e a limpeza urbana. Ressaltou a constante migração de indivíduos, mesmo com abordagens frequentes, e alertou para os riscos da distribuição de alimentos sem controle sanitário. Citou como exemplo São Paulo, onde foi proposto um projeto para estabelecer protocolos de segurança alimentar nas doações às pessoas em vulnerabilidade. A proposta chegou a ser aprovada em primeiro turno pela Câmara paulistana, mas foi retirada de pauta após manifestações da Defensoria Pública da União e da sociedade civil. Sua sugestão, no entanto, é concentrar as doações em locais específicos, com condições adequadas de higiene e segurança.

O diretor da Guarda Municipal, Edinei Lopes, abordou a necessidade de proibir o uso de objetos cortantes na venda de refeições, especialmente nas bancas no horário noturno. Segundo ele, esses objetos têm sido utilizados como armas contra os próprios agentes de segurança. Também criticou alguns comportamentos de comerciantes que acabam perpetuando a situação de vulnerabilidade nas ruas. Lopes destacou ainda a importância de sistemas de segurança eficientes nos estabelecimentos, como alarmes que acionem empresas de vigilância ou os próprios proprietários.

Gilmar Dalla Roza apresentou brevemente o trabalho do Instituto Joanna de Ângelis e ressaltou a complexidade das causas que levam uma pessoa à situação de rua. Defendeu uma abordagem multidisciplinar, com psicólogos, assistentes sociais e qualificação profissional para quem deseja mudar de vida. Ele também cobrou maior participação do setor empresarial na resolução do problema. “Conhecemos profundamente essa realidade e queremos atuar não só com a Prefeitura, mas também com as entidades empresariais. Esse é um problema social, e elas precisam fazer a sua parte.” Mencionou que muitas pessoas conseguiram sair das ruas por meio de oportunidades adequadas e sugeriu a leitura de uma cartilha elaborada pela Universidade Feevale, coordenada pela professora Carmem Giongo, com informações relevantes sobre o tema.

A gerente de proteção social de média complexidade da Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação, Aline Ferreira, anunciou que a gestão pretende reestruturar o funcionamento do Centro Pop. “Vamos qualificar o serviço. Não faz sentido atender 80 pessoas por dia, se nossa meta é de 80 pessoas por mês. Além de banho e café, queremos oferecer atendimento técnico adequado.” Ela também destacou a importância da adesão ao Sistema Único de Assistência Social (Suas) para garantir o recebimento de recursos federais.

O vereador Felipe Kuhn Braun defendeu a união entre os poderes públicos e os comerciantes para a construção de soluções. Já Giovani Caju mencionou a situação de imóveis abandonados no bairro Boa Vista e criticou a facilidade de acesso a alimentação e geração de renda nas ruas, que, segundo ele, funcionam como atrativos. Para Caju, as entidades assistenciais deveriam concentrar sua atuação nos territórios mais vulneráveis da cidade.

Como encaminhamento, Juliano Souto informou que a Coseg solicitará ao Executivo um estudo de viabilidade para a distribuição unificada de alimentos em Novo Hamburgo. A pauta deverá ser retomada dentro de 30 dias, após retorno da administração municipal.