TV Câmara - Entrevista pauta educação antirracista e relações étnico-raciais nas escolas

por Daniele Silva última modificação 17/12/2021 13h42
17/12/2021 - Desde 2003, o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana são previstas por lei no currículo escolar. Quase 20 anos depois, o povo negro ainda aparece tematizado apenas em datas específicas, como o 20 de novembro ou 13 de maio. Em resposta, iniciativas como o Coletivo de Profes Pretas do RS e o projeto social Oorun surgem para ampliar as discussões e ações por equidade racial. Confira os detalhes destes trabalhos que envolvem Novo Hamburgo e região no Espaço Livre, programa exibido pela TV Câmara NH, no canal 16 da Claro/NET e também no YouTube da emissora.
TV Câmara - Entrevista pauta educação antirracista e relações étnico-raciais nas escolas

Foto: Mateus Weiermuller/CMNH

A entrevista contou com participação de integrantes do Coletivo de Profes Pretas Rose Domingos e Fernanda Oliveira, que é também fundadora do Projeto Social Oorun. As professoras compartilharam suas vivências e contaram como os projetos atuam junto à comunidade na busca por fortalecer o povo preto e coordenar ações em busca de maior equidade racial por meio da educação.

Na conversa, Rose Domingos justifica a necessidade de pautar o tema desde cedo e de forma contínua. "A lei já vai fazer 20 anos, mas de fato não está sendo cumprida. Trabalhar com a Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER) é muito sério, muito importante, e tem que entrar no currículo. E precisa começar lá no berçário."

Primeira pessoa da família a ter ensino superior, Rose lembra da própria experiência no início da formação escolar. "É na escola que a gente se depara a primeira vez com os sinais de racismo", comenta. "Mesmo sendo uma mulher negra de pele clara, nos primeiros quatro anos do ensino fundamental, eu ouvia piadas a respeito do meu cabelo. Eu tinha pavor da escola, as minhas memórias ali eram muito ruins. E eu poderia ter sido uma dessas crianças na estatística de abandono da escola."

Fernanda Oliveira, pedagoga da Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo há mais de 10 anos, concorda que o número de municípios que cumprem o artigo 26-a da Lei de Diretrizes de Base da Educação, adicionado em 2003 pela Lei nº 10.639/2003, é pequeno. “Mexer com esse tema é desvelar uma série de problemas sociais que nós temos e que giram em torno desse recorte racial" Uma questão, segundo ela, que a sociedade não estaria disposta a enfrentar, preferindo aceitar o racismo.

O Coletivo de Profes Pretas, que hoje conta com mais de 150 participantes no grupo de WhatsApp, começou como uma rede de suporte e aproximação entre as docentes de diferentes escolas municipais. Com o envolvimento e crescimento da organização, passaram a buscar formas de atuar e fortalecer de outras formas a causa. Antes sozinhas nos espaços educativos, hoje constroem projetos em parceria e denunciam os problemas escolares. "Se a gente vai pro coletivo, a gente se aquilomba e consegue fazer diferente", diz Rose.

Uma das ações que surge após o Coletivo foi o Projeto Social Oorun. Fernanda explica que o nome tem origem na língua Iorubá, e significa Sol. O projeto teve início em janeiro de 2020, após a decisão da professora de fornecer gratuitamente reforço escolar de alfabetização para crianças pretas, um dos principais motivos de evasão dos jovens. A iniciativa viralizou nas redes sociais e chamou atenção da imprensa devido a oferta ser exclusiva a negros, sendo acusada, inclusive, de ser racista. "O bafafá em torno dessas aulas particulares me deu a certeza de que esse trabalho era muito necessário", conta. Assim, a ação se tornou um projeto social que trabalha a alfabetização e ancestralidade por meio da cultura, literatura e brinquedos africanos e afro-brasileiros para crianças negras.

Conheça as histórias, os projetos, os desafios e as conquistas em educação das relações étnico-raciais na entrevista completa:

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